a cor da loucura

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dipper pines

DIA 1

Uma breve releitura no diário de Stanford tornou-se necessária. Adentrei no cômodo de cárcere mais confiante, energicamente recarregado e sob o uniforme atlético da faculdade, segurando duas novas garrafas térmicas de café. Não travei contato com o demônio enquanto caminhei até a mesa do escritório, porém a visão periférica me denunciou que a cabeça do sujeito, em mesma pose de superioridade, acompanhou o percurso. Antes de me assentar, aquela boca amaldiçoada interrompeu o silêncio constrangedor:

— Ei, também quero ler confortavelmente, Pinetree. — a voz provocante enfatizou o apelido ridículo.

Além de objeto de estudo, Bill Cipher era o obstáculo com sua inconveniência. Eu precisava tomar as rédeas se quisesse obter êxito, apesar de tudo. Tomei em mãos o banco dobrável de metal próximo à estante de livros didáticos e um exemplar aleatório de Biologia. Todavia, não os entreguei de imediato. Estabeleci regras, tentando seriamente manter o rosto na direção da criatura sem relembrar momentos inoportunos.

— Admiro sua capacidade diabólica em ser insuportável, e não mais que a minha determinação em cumprir meus objetivos. — dei uma pausa dramática para soar intimidador. — Peço que colabore comigo. Prefira o silêncio a um comentário inútil. Caso contrário, terei de selá-lo. Mandá-lo de volta ao lugar infernal de onde veio.

Relaxei as pálpebras fechadas e espiei a reação do loiro. Sua feição inabalável deu lugar a uma genuína face compreensiva, a qual jamais o imaginaria fazendo. Bill se aproximou, estendeu os braços por entre os espaços das grades e pôs suas mãos enluvadas sobre as minhas, que carregavam cada um dos objetos destinados a ele. Sua compreensão se desfez enquanto esboçou sadismo em seus lábios e apertou os dedos contra os meus. Um nó se fez no estômago, cerrei os dentes. Paralisei.

— Pinetree, você é uma piada. Mal consegue olhar para mim. No seu próximo sono, vou te ensinar a implorar mantendo contato visual. — zombou com perversão.

Como não ofereci resistência, arrancou-me o banco e o livro facilmente.

— E-está duvidando? — de último instante, reuni um pouco da tímida força de vontade na contestação.

— Pode ser um fracote dialogando, mas não duvido da sua perseverança. Você não vai desistir de mim tão rápido. — disse com naturalidade.

Isso foi um elogio? Por mais alguns segundos fiquei estático, processando. O loiro era manipulador, tinha segundas intenções por trás do agrado. Pestanejei calado e ele revirou os olhos. Observei-o ajustando o assento no sentido de minha mesa e repousando as costas na grade, sentado. Pareceu-me bastante humano.

— Enfim, não sei como funcionam suas necessidades vitais e a tal da imortalidade. Se quiser algo que está ao meu alcance, avise-me. — cocei a nuca e o fitei à procura de algo interessante no livro, aparentemente ignorando-me.

— Quero que me chupe. — respondeu em tom educado e espontâneo, com o olho vidrado no texto.

O rubor pichou a piedade estampada em minha expressão, encaçapei as mãos nos bolsos da calça e cogitei retrucá-lo, porém retornei ao meu lugar com certezas e dúvidas.

— Mal começamos os trabalhos, garoto. Continue se divertindo neste joguinho, porque estou adorando me divertir com você.

Já em minha cadeira, ouvi seu calmo alerta. Ele quiçá vigiava-me por trás. Invejava a segurança e a convicção daquela entidade em não baixar a guarda, inclusive em casos de vulnerabilidade.

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