exótico e erótico

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dipper pines

Os relatos de Stanford eram mais promissores que o tema inicial do meu artigo. Mas seria antiético copiá-los e eu jamais o faria. Por isso, em meio àquelas descrições de criaturas bizarras e cristais exóticos, Bill Cipher me cativou e eu decidi, literalmente sob as sombras - projetadas pelo guarda-sol -, elaborar um estudo autêntico sobre ele. Contudo, no âmbito científico, difundir ideias com provas concretas e bem fundamentadas já era um processo burocrático. Fazer uma pesquisa abstrata do ser místico, então, era morrer antes de ter o trabalho publicado formalmente. Não era minha intenção ser lembrado como o transcritor do mito que apenas alguns de Gravity Falls conheciam. Não desmerecendo o ofício de registrar a história e a cultura dos povos, eu era capaz de feitos mais grandiosos e Bill Cipher tinha potencial para além de virar historietas. O demônio possuía a idade do Universo, devia saber muito e, caso compartilhasse seus segredos, colaboraria na progressão dos conhecimentos gerais da humanidade.

Para entrar em contato com Bill, era preciso estarmos no meu plano, no dele ou no dos sonhos - diziam as anotações. Eu não era estúpido a ponto de contar a Stanford que pretendia invocá-lo, mas também não era ingênuo o bastante para desconsiderar os riscos. O diário do meu tio-avô era muito detalhista quanto à invocação, ao aprisionamento e aos ideais apocalípticos de Bill Cipher. Não era possível que ele conseguira essas informações a partir de rastros dos nativos da região, embora houvesse uma nota de rodapé indicando uma visita à caverna da floresta para demais esclarecimentos. Sem dúvidas, Stanford invocara o demônio uma vez e se arrependera por conta da ameaça que ele mostrou ser ao plano terrestre. Talvez ele tivesse a mente fraca demais para lidar com um equilátero. No subtítulo da página, meu tio-avô o descreveu como:

Demônio dos sonhos [1]; Insano; Sádico; Mentiroso; Manipulador [2]

Nenhuma palavra era novidade para designar o maligno. Nenhuma palavra me assustava. Sabendo o significado de cada uma, eu me prevenia de como poderia me afetar e me manteria melhor no controle.

Eram umas nove da noite quando refletia sobre o plano de encontro. Sonhar com Bill não seria frequente, fora que minha inconsciência predominaria, logo o interrogatório racional seria um fracasso. E ir à dimensão do triângulo? Nem pensar. Um passo no desconhecido era cair do abismo, pois eu nem sequer tinha noção de se lá havia chão. Trazê-lo ao meu mundo, então, era mais conveniente. Eu possuía inúmeros recursos para domar Bill e assim garantiria meu poder sobre ele. Caso algo de errado ocorresse comigo, Stanford ou outras pessoas ficariam cientes e impediriam a catástrofe. Era só arquitetar com antecedência uma forma de avisá-los após o ocorrido.

A bruma enroscava-se nos troncos colossais das árvores nativas como algodão-doce no palito. Docilmente assustador era o jeito que me floresciam as memórias da infância. Eu adorava explorar aquela floresta, sempre com o medo equiparado à curiosidade. Agora, com um diário em mãos e destemido, friccionava o pé esquerdo na superfície de pedregulhos e gravetos, encarando o caminho esfumaçado. Concentrava-me mais no ruído do tênis sobre o solo do que na música alta atrás de mim, a qual estremecia as frágeis madeiras da casa. Aquela festa ainda derrubaria a Mystery Shack. Suspirei. Observei o ar esbranquiçado sair de minha boca e dissipar-se na névoa. Não seria um equívoco afirmar que era a noite mais fria do verão. A destra suspendia o diário à frente de meus olhos, enquanto a mão esquerda segurava a lanterna e o nó das pontas da canga que me envolvia. Comecei a caminhada atento e calmo, por vezes ouvia os comuns uivos e cricrilos. Em um momento, foquei demais no mapa e tropecei em raízes saltadas. Eu caí, a lanterna quebrou, meu boné e diário se dispersaram no chão.

Aquela parte da floresta tinha uma copa mais densa e luz do luar fincava-se em filetes perolados ao longo da trilha, iluminando pessimamente. O vento foi tomando um pouco mais de força e levou a bruma para os limites do arvoredo. Facilitou a visibilidade do solo e do que havia ao meu redor, todavia trouxe uma atmosfera intimidante. Fiquei estático. O silêncio era mais arrebatador que sons de terror. Todos os ruídos cessaram e isso não era normal.

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