- Bom dia Bell! - escutei a voz alta e um tanto incômoda a meus ouvidos me chamando, já sabia que se tratava de Gaston, mas não falhou em me assustar por ser chamado assim tão derrepente - maravilhoso o livro que têm em mãos
O maior apontou para aquilo que eu carregava, ele segurava um buquê de flores na outra mão. Gaston era o típico homem que causava inveja aos outros - o que não se aplica a mim - e que as mulheres anseavam por ter, bom, pelos menos as que não conseguem enxergar o que ele de fato é. Um sujeito bruto, caça animais - o que acho extremamente vil - quando não está tentando me tirar do sério e a me contar abobrinhas em suas investidas sem sucesso de me conquistar. Têm tantas garotas e até mesmo garotos nessa vila que o aceitariam em um piscar de olhos, mas ainda sim, insiste em perturbar minha paz
- Já leu esse? - perguntei um tanto surpreso, mesmo sabendo de qual seria sua resposta
- Então...esse não, mas é tudo...livro - respondeu rapidamente e com desdém, e antes mesmo que eu pudesse responder, praticamente colocou o buquê contra o meu rosto - São pra você
- Ah...eu... - o som havia saído de meus lábios ressoando mais incômodo do que deveria. Apesar de achar um tanto aperreante o jeito de Gaston, sempre sou gentil com todos, com ele não seria diferente
- No jantar nos vemos? - insistiu com seu sorriso meio torto e esperançoso enquanto ainda empurrava as flores em minha direção, apesar de já ter levantando minha mão vazia na defensiva, impedindo de que elas chegassem mais perto, já que o mais alto estava praticamente me obrigado a quase segura-las
- Não...mas Obrigado!
- Vai sair!?
- ...Não - me virei devagar e comecei a caminhar, fazendo uma pequena careta enquanto caminhava na mesma velocidade, desejando por alguns minutos que simplesmente tivesse a capacidade de desaparecer quando bem entender.Toda vez que acabo por trombar em Gaston, não acidentalmente, pois tenho quase certeza de que me segue de vez em quando, bom, mas o que interessa é que são encontros constrangedores e que não dou extrema significância. Antes que pudesse me afastar tanto, ouvi o mesmo conversando com seu amigo mais baixinho, algo sobre "estar me fazendo de tolo em troca de favores" e mais baboseiras que já esperava, vindo de um homem que parece viver constantemente na idade da pedra, de imediato revirei os olhos e neguei com a cabeça devagar, me ocupando com a última coisa que importava agora, chegar em casa.
Passei pela porta da casa silenciosamente, deixando o livro devagar em uma das mesas de invenções de meu pai, fitando com o olhar de imediato um quadro que ficava no canto da casa, onde haviam desenhos pregados, em maioria, retratos meus e de minha mãe, o que fez que eu ficasse com um sorriso bobo ao rosto e uma saudade no peito que nem sequer parecia que ele havia ido embora fazia meia hora. Sou um tanto apegado demais a meu pai, foi quem me criou desde que minha mãe se foi, tudo o que restava sobre ela eram os desenhos, na parede, uma grande pintura em que me tinha nos braços e um pedaço da mesma que deixou com Pai, sei o quanto ele sente falta dela, é mais do que claro o quanto sinto, mas me lembro muito pouco, e a maior parte do que sei, escutei de outro alguém, mas sem dúvidas ela era uma mulher incrível, os dois são.
Ele costuma dizer que não sou estranho, e que é uma aldeia pequena de mentes pequenas, como um inventor, é o que mais sabe disso, então sempre acaba me arrancando um sorriso, principalmente todas as vezes que diz o quão sou parecido com ela e que tínhamos ideias semelhantes. Já o vi montando peças magníficas e de tanto observar, não tenho dúvidas de que poderia consertar qualquer objeto com um mecanismo metalizado complexo.Apesar de apreciar nossos momentos juntos, ele não fala de seu primeiro amor, minha mãe, o tanto quanto eu queria, e longe de mim perguntar o tempo todo, dói e sou incapaz de imaginar todas as sensações que se têm ao perder alguém que é tão importante para você. Ri um pouco triste para a bagunça de todas as invenções, peças e ferramentas que ele não levou espalhadas a mesa, alguns candelabros com velas pela metade, mesmo assim, o lugar parecia infinitamente vazio sempre que ele está longe. Respirei fundo e me recompus, respirando fundo, afinal, voltaria apenas amanhã, e tenho muito o que fazer enquanto isso.
O resto do dia, passei ocupado, fazendo alguns esboços para o que queria criar, o que tomou mais meu tempo do que eu esperava, mas ao meio dia, eu estava com a invenção em andamento, um dos pequenos burros de casa, puxava um grande barril apenas molhado na água pela metade, fazendo com que as roupas lá dentro, com o sabão, se remexessem, sendo lavadas sozinhas, enquanto lia meu livro tranquilamente, encostado a uma viga de madeira
- O que ele ta fazendo? - uma pequena voz feminina soou do outro lado, onde uma jovem de cabelos castanhos dobrava peças
- Ajudando - respondi com um sorriso simpático e delicado em meu rosto - Vêm cá!
Quando a pequena se posicionou ao meu lado, mostrei a pagina aberta de um dos livros que carregava comigo. Jamais defenderia a ideia de que o estudo e a leitura são apenas para certo tipo de pessoas, são ideias ultrapassadas. Começamos a ler juntos e a garotinha tinha um incrível dom para isso, não era tão difícil formar as frases, podia jurar que já houve outra ocasião em que ela se encontrou com um livro, mas após meu elogio, não tivemos muito tempo de discutir mais nada, já que fomos interrompidos
- Ensinando uma garota a ler? - o homem carrancudo da miúda escola da aldeia havia surgido
- Pensei que mais alguém aqui poderia fazer bom uso dos livros do Perè Robert, já que todos aqui não fazem questão, além do mais, não é você quem determina quem pode ou não pode ler - dei a resposta um tanto audaciosa e enfrentando seu jeito tirano com certo deboche.
Nada deu muito certo, pois momentos após a discussão, minhas roupas limpas estavam jogadas ao chão da cidade, por diversos homens mal educados. Me abaixei em silêncio, recolhendo as roupas com apenas Robert ao meu lado, que me olhava com certa pena. Agradeci em silêncio, formando um "obrigado" apenas com meus lábios, voltando para casa um tanto desanimado mas sem deixar transparecer muito... não entendia o problema dessa cidade, ou melhor, de quem morava aqui apesar de os conhecer a tanto tempo
- Ben!
- É Bell, gaston! - adverti um tanto cansado, me virando, e vendo o mesmo de vestes vermelhas e marrons, do mesmo jeito que o encontrei mais cedo. Tratei de fechar a portinhola de ferro que dá ao nosso pequeno jardim, tentando nos separar e assim, criar uma distância
- Soube que teve problemas com o diretor, ele também não gosta de mim - usava um sorriso grande aos lábios, como se termos algo em comum assim fosse o bastante para anima-lo.
Não o respondi e apertei o passo no curto caminho até a porta de casa, enquanto o homem bronco dava a volta e tentava me alcançar apesar de meus passos apressados e a clara deixa de que queria praticamente fugir dele e de qualquer conversa ou contato que queria ter comigo, não poderia se sentir especial por esse meu comportamento com ele, é claro, até porque, tenho o mesmo comportamento quando alguma moça desavisada resolve se aproximar com qualquer intenção que não seja a amizade, apesar de que pareço um tanto mais exasperado quando o assunto é o homem em meu jardim agora
- posso te dar um conselho sobre os moradores? Não vão confiar nas mudanças que você quer fazer! - e lá entrou ele na horta, ou o que sobrou dela, pois como um elefante descuidado e desengonçado, pisou em tantas hortaliças sem sequer a mínima preocupação em tentar desviar, fazendo com que eu fizesse uma careta e suspirasse já um tanto irritado com o que fez
- Eu só queria ensinar uma criança a ler - respondi com indignação ao bruto a minha frente
- As únicas crianças com quem deve se preocupar, são as suas - no mesmo momento meus olhos fitaram os movimentos que suas mãos fizeram entre nós, faltando apenas apontar para mim e ele, indicando suas intenções e tive que intercalar o olhar entre as mãos e seu rosto, já nem sequer escondendo o meu semblante perturbado ao imaginar algo assim a nosso respeito, estando um pouco inacreditado que ele tenha sugerido isso mesmo. O problema não é ele ser homem, mas é ser...o Gaston.
- Ainda... - observei por onde eu poderia passar já que bloqueava o caminho para sair do jardim e dar de cara com os degraus de madeira de casa. Fomos para o mesmo lado, uma, e duas vezes, até que consegui confundi-lo e passar por debaixo de um de seus braços ao ar - não ta na hora de ter filhos
- Pode não ter conhecido o homem certo!
- ... É uma pequena aldeia Gaston, já conheci todos! - encurtei, tentando encerrar o assunto, o fechando dentro do jardim e me virando rapidamente com o cenho franzido, indo até em casa, na esperança de que me deixasse em paz de vez
- Então...precisa olhar de novo
Suspirei escutando o barulho do ferro rangendo, é claro que eu não poderia esperar que aquilo tão insignificante o pararia
- Alguns mudaram! - ele continuou
- Gaston! Você não é o homem certo pra mim - resolvi dizer a verdade do jeito mais educado que pude, vendo se assim, iria embora e não me incomodaria outra vez jamais - Ninguém consegue...mudar tanto
- Ah Ben...
- Bell - o corrigi mais uma vez, tentando entender o porque estava insistindo em me chamar assim agora
- Você percebeu o que sempre acontece com solteiros que ficam sozinhos? - fez questão de apontar a Agathe não muito longe de onde estamos - imploram por esmolas como a pobre Agathe, esse é o mundo Ben!
- Gast-
- para pessoas simples como nós, nada fica melhor - me cortou e simplesmente tentou me puxar pela camisa branca favorita que eu usava, fazendo eu me afastar de imediato, puxando o que era meu e batendo de leve com as costas na porta
- eu até posso estar errado, mas, não sou simples e eu não vou nunca me casar com você - expliquei com tom de humor por mais parecer uma piada ele pensar que se passaria algo bom a seu respeito em minha mente. Aproveitei para entrar em casa e fechar a porta com sutileza, mesmo que quisesse simplesmente bater com a mesma em sua cara por ter passado dos limites hoje - desculpa!
Suspirei fundo e aliviado ao escutar seus passos se afastando, apenas quando tive plena certeza de que não estava mais perto de casa, sai novamente, o observando ir embora de um jeito nada afável
- consegue imaginar? - perguntei ao vento, plantas, paredes e animais, a quem pudesse escutar perto de mim, tinha o hábito de conversar comigo mesmo quando era preciso. De vez em quando, era minha melhor companhia - Eu? Esposo daquele brutamontes ignorante!Precisava clarear um pouco meus pensamentos após os sombrios que tive com a imagem de eu tendo que passar o resto da minha vida casado com alguém como Gaston, bom, se sequer cogitasse essa ideia algum dia, saibam que contraí a pior das doenças e me internem. Sai correndo de casa como fazia quando era pequeno, até fora da aldeia, o vento das colinas não tão íngremes já me abraçava, sentindo falta de passar um tempo no meu lugar favorito para ler um livro no verão e primavera. Subi um dos montes como se tivesse ainda meus 10 anos de idade e me deitei na grama verde, cercado por pequenas flores enquanto observava o céu azul, quase tão claro quanto meu olhar, exceto pelo fato de que já estava à escurecer, haviam algumas nuvens e o pôr do sol se misturava com as cores rosadas e alaranjadas do horizonte, em contrapartida, do lado oposto, parecia que chegava uma tempestade forte, deixando uns raios aqui e ali, com nuvens escuras e carregadas um pouco mais longe, o que fazia com que eu me preocupasse com meu pai e em onde estaria agora, podendo apenas desejar que estivesse são e salvo.
Oi gente kkk mil perdões por um capítulo praticamente inteiro de encheção de saco do GastonMas é que tava demorando pra ele vir perturbar a vida do meu menino
Próximo Cap é o pov da fera 🥳, é curto
Porque o primeiro encontro deles ta chegandoEu tenho várias ideias engraçadas pra fanfic, mas por hora, vou deixar vocês um pouco curiosos
Espero que fiquem bem! Beijos do tio, e a gente se vê no próximo capítulo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Besta que me Amou
Romance- Posso lhe fazer uma pergunta? - sua voz calma e profunda resoou sobre meus ouvidos - Claro... - O que fez alguém como você se apaixonar por uma criatura como eu? - sua pergunta me pegou claramente de surpresa e passei alguns minutos me perguntando...