Ver Anthony havia se tornado uma rotina.
Durante as últimas semanas, ele é quem mais procuro, não é segredo algum para todos no Castelo que estamos quase sempre juntos, e em todos os locais, jantar, café da manhã, caminhando lá fora ou até mesmo na biblioteca, onde eu estava amando passar tempo, aliás! Os moradores do lugar apreciam muito o jeito que eu e ele nos aproximamos, estão contentes por isso, percorremos um longo caminho até aqui, tudo começou com ele sendo um brutamontes e me trancando em uma torre "para sempre", como havia dito, agora, sempre que acordo, até mesmo esquecendo de tomar café, vou até seus aposentos, o que resulta em Madame Samovar trazendo o café para onde estamos à ordens dele, já que sabia que eu não havia comido. Também precisava escutar piadas de Lumière que davam a entender qualquer outra coisa acontecendo entre eu e Tony além da amizade, mas como o candelabro é um romântico incurável, me divirto muito, apesar de ficar atrapalhado escutando, até Madame Samovar me entregava olhares mais curiosos do que acusatórios, para saber o que estava acontecendo em meu coração ou entre nós, sempre funcionava para me deixar abobalhado e sem encontrar palavras para descrever bem, o melhor é que não entendo qual a dificuldade em dizer que estamos apenas passando um tempo juntos...ou bom, acho que é apenas isso.
Tudo parecia menos sério e estávamos mais próximos que nunca, sempre que juntavamos ao frio perto da lareira para ler livros, vez ou outra, todos os objetos também vinham, Totó geralmente ficava em meu colo, e acima do mesmo, Zip, até já havia perdido as contas de quantas vezes ambos adormeceram da maneira mais adorável em minhas coxas durante as leituras, em maioria eram feitas pelo mais velho e ele têm uma voz que afaga e acaba deixando todos completamente hipnotizados, na ponta dos pés para saber o que virá a seguir, me deixava levar tanto por sua voz que em certos momentos, precisava pedir para que repetisse mais uma vez a frase anterior pela falta de concentração no livro, mesmo achando "Odisseia" intrigante e inesperado.
Agora, como de costume, estamos na biblioteca, apenas eu e ele. Um silêncio acolhedor paira sobre o ar, me ajeitei ainda confortável no sofá avermelhado na frente da lareira, acesa com chamas médias, estava sentado com as pernas dobradas, os joelhos na direção de meu peito, e o corpo um tanto reclinado no braço do móvel, não ocupava muito espaço; em mãos, carregava um livro um pouco grande demais, era praticamente do tamanho de minha cabeça, Conto de Fadas que me chamou atenção pela capa, uma garotinha de Capuz vermelho que carregava uma cesta, e próximo a ela, um grande lobo cinzento, mas eu já perdi foco das páginas a muito tempo, agora estava observando discretamente Anthony.
Parado de pé, próximo a lareira, estava sendo iluminado pelo fogo, tão concentrado no livro que apreciava, nem sequer notará como eu o olhava. Sua pelagem acinzentada brilhava um pouco por conta da luz feita apenas pelas chamas, pois estava escuro, já próximo do horário do jantar; os óculos um tanto baixos, aparentemente apenas os usava para ler de vez em quando, em minha humilde opinião, ele fica muito bem assim, claro que jamais disse em voz alta, mas aquilo só o deixa com um ar mais sofisticado ainda, mesmo assim, não parece formal; possuí uma postura perfeita e imponente da maneira mais sútil, como se, nesse momento, não fosse sua intenção, já que estava descansando de certa forma; utilizava calças de coloração azul marinho, e uma camisa branca, com exatamente três botões abertos, mostrando um pouco da pelagem esbranquiçada que há ali, além das mangas dobradas até seus cotovelos, deixando seus antebraços fortes e mãos grandes a meu dispor. De vez em quando, franzia levemente o cenho e mexia a boca, por conta do que estava - de um jeito tão atento - lendo; suas orelhas se remexiam de maneira involuntária, como se fosse algum tique, além de sua enorme encorpada cauda balançando para lá e para cá a momentos certos, não sabia dizer em específico o que era, mas eu estava o achando atraente demais agora. A maneira que se porta é impecável, mas ainda sim, vestido de jeito tão despojada me dá um ar totalmente agradável, me peguei imaginando como seria ter de fato uma vida à seu lado, acordar todos os dias e me deparar com sua cara e voz de sono; cozinhar com a ajuda dele, onde eu teria quase certeza de que ele iria mais atrapalhar do que outra coisa! Viveu a vida inteira com outras pessoas a seu dispor; ou talvez o observando cortar madeira para a lareira antes do inverno chegar, só os céus sabem como sempre fiquei satisfeito em saber que meu pai estava lá para me ajudar quando resolviamos arranjar por conta própria, não têm noção do quão pesado é um machado! Cortar é mais difícil do que parece...mas o meu cenário favorito foi aquele em que simplesmente nos sentamos perto da lareira, a noite, um ao lado do outro, lendo um livro juntos e comentando sobre todos os capítulos.
Algo nele faz com que eu fique sem graça sempre que sua atenção está em mim, talvez seja o jeito que me olha... não é o mesmo quando olha para qualquer outra coisa aqui que esteja viva ou não, me dá um certo frio na barriga e arrepio na espinha, também gosto da forma que sempre está curioso para ouvir minha opinião sobre as coisas, sempre me traz a sensação de que ele estava esperando a muito tempo só para ouvir minha voz, e quando eu finalmente emito algum som, ele se deleita. Me sinto extremamente bem na presença dele, de uma maneira que nunca havia me sentido antes, pela primeira vez eu sentia que alguém...me entendia, depois de tanto tempo vivendo em uma pequena cidadezinha...minúscula demais para mim e para todas as minhas ideias, talvez seja essa a razão de tanto adorar sua companhia.
- Quer me dizer alguma coisa? - ele derrepente perguntou, fazendo com que eu saísse de imediato dos meus pensamentos, ficando com vergonha porque ele com toda certeza sabe que eu estava o admirando durante todo esse tempo...ele sempre sabe! E a julgar pela seriedade, calmaria e o fato de que nem sequer desviou o olhar do livro, já faz um tempo que sabe... céus, me sentia como um coelho que acabou de ser pego por uma armadilha
- E-Eu...bem- hum - dei uma pausa para suspirar baixo, sentindo a quentura tomar conta até mesmo da ponta de minhas orelhas - não faça isso...
- Desculpe, fiquei um pouco confuso, fazer o que exatamente?
- Sabe muito bem o que eu estava fazendo e chamou minha atenção apenas para me ouvir admitir aquilo que já sabe, e me ver sem graça, é claro - respondi como se fosse óbvio e já houvesse decorado o seu jeito de ser
- Apesar de realmente apreciar o jeito que você fica adorável quando está sem graça, não tinha intenção de causar essa reação agora, pensei que não estivesse com a coragem para me perguntar alguma coisa
- Não era nada - resolvi deixar para lá, me escondendo atrás do livro, voltando a prestar atenção, mas claro que não por muito tempo, comecei a notar certas semelhanças com a criatura no livro e ele.
Abaixava o objeto em minhas mãos até a altura de meus olhos para o encarar, toda vez que haviam características do Lobo Mau, o grande antagonista da historinha, ele havia devorado a vovó da garotinha e pretendia fazer o mesmo com ela, mas apesar das semelhanças físicas, de resto, não se parecia com Tony, nem um pouco, então foi ai, que tive meus 5 minutos de coragem - que logo acabariam - para provocar o espertinho
- Aliás, eu realmente estava pensando em algo enquanto olhava você - chamei sua atenção deixando o livro de lado e me erguendo
- Me ilumine, no que pensava? - perguntou fechando devagar o livro, o apoiando na mesa, ajeitando o óculos retangular e pequeno encima de seu focinho para que ficasse mais rente a seus olhos brilhantes...um brilho que ele havia ganhado de volta não faz muito tempo, já não eram mais os olhos foscos que encarei na primeira vez
- Do jeito que está agora, nem é tão assustador assim, está mais para um cachorrinho! É uma graça - provoquei com um sorriso ao me aproximar dele, cruzando os braços na frente do meu peito.
4 segundos depois e eu já havia decidido que ter dito aquilo, foi uma péssima ideia, pois ele apenas me encarou, o rosto sereno mas seu olhar é profundo, engoli em seco quando percebi que se aproximava devagar...desde quando ele era tão alto assim? Passava tanto tempo focado em outras coisas que as vezes esquecia de nossa mais que óbvia diferença de tamanho, eu precisava olhar para cima sempre que estávamos próximos, ele é realmente alto e forte, minha cabeça fica em direção a seu peitoral. Meu coração começou a bater um pouco mais rápido por conta da sua aproximação lenta, fazendo com que eu topasse com a borda da mesa atrás de mim, não me afastava por medo, era mais um reflexo, sentia a leve adrenalina correr pelo meu corpo pois jamais havíamos ficado tão perto um do outro assim, sentia como se ele fosse um predador que está lentamente cercando sua presa, chego até me perguntar se a caça sente o mesmo tanto de medo e curiosidade, que sente de atração com seu caçador. Sentei na superfície gelada do móvel, não havia lugar nenhum para eu ir, e quando notei, ele estava no meio das minhas pernas, com ambas as mãos apoiadas confortávelmente dos dois lados de meu corpo, sobre a superfície da mesa, seu rosto tão rente ao meu que podia sentir sua respiração, aquilo havia me deixado nervoso, no fundo, entendia um pouco o porque estava tendo essa reação...mas não conseguia focar muito nisso agora. Não era capaz de dizer nada, apenas o olhar atento com a respiração bagunçada, um sombreado vermelho em minhas bochechas, e ignorar o quão fraco estava me sentindo nesse momento. Meus olhos azuis buscavam os amarelados dele para respostas, eu procurava seu rosto inteiro por algo que acabasse com essa tensão, estava exposto a ele em mais de uma forma e fazia com que e sentisse tudo que jamais havia experienciado, quando retirou vagarosamente o óculos por uma de suas pernas, me deixou ansioso, mas ele só me ofereceu um sorriso de lado e um sussurro baixo e rente a meu rosto em seguida
- Você é fofo, sabia? Não consegue sustentar o que diz e se atrapalha todo quando é confrontado, chega a ser engraçado - comentou afagando meus cabelos carinhosamente, fechei os olhos no processo, sua voz nesse tom e a essa distância fez um arrepio percorrer por minha espinha.
Então, derrepente, se afastou como se nada tivesse acontecido, onde pude soltar o ar que nem havia percebido que prendia, me recuperando aos poucos do quão desconsertado deixou a minha pessoa com um olhar e sua presença
- O jantar está servido- oh! Hora ruim? - Lumière surgiu das grandes portas do salão, mas perguntou com um tom de humor a ver meu estado, fazendo com que eu rapidamente me ajeitasse ali, cruzando as pernas e tentando reganhar a compostura, já que por um milagre, o outro já havia se afastado
- Não! É uma ótima hora - comentei com um sorriso amável
- Sim, eu estava prestes a dizer a ele o quão faminto estou - Anthony completou meu comentário, me olhando por alguns segundos antes de focar totalmente no candelabro...porque ele me deixa tão desordenado? A um ponto que até mesmo a fila organizada de pensamentos em minha cabeça se atrapalha e eles entram em puro pânicoAi ai skdk essa fera skdkdkd
O que vocês tão achando em?
A relação deles ta ficando muito gracinha dkdk vocês não fazem ideia do que vos aguarda nos próximos capítulos khkkkk
Até lá, um beijo na testinha de vocês
Tio ama muito <3(Bebam água e comam direito!!!!)
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A Besta que me Amou
Romance- Posso lhe fazer uma pergunta? - sua voz calma e profunda resoou sobre meus ouvidos - Claro... - O que fez alguém como você se apaixonar por uma criatura como eu? - sua pergunta me pegou claramente de surpresa e passei alguns minutos me perguntando...