Pov da Fera
Após trocar minhas vestes, estava pronto para o jantar. O castelo voltou a possuir sua quietude depois do ocorrido, por mais que tentasse totalmente ignorar o fato de que havia um garoto insolente trancado em minha torre, mas meu coração não era tão duro quanto aparentava. Me incomodava o fato de ter sempre meu subconsciente lembrando quase como se estivesse incomodando meus pensamentos para que me desse conta do filho do ladrão de flores vivendo aqui, agora e para sempre, sou um homem de palavra, nada faria com que eu mudasse aquilo já decidido.
Caminhei em passos leves e mesmo assim, pesados, minhas patas viviam em contato com o chão gelado e bem cuidado, por isso era um tanto desleixado em pegar outros de surpresa, minhas garras acabam fazendo um barulho deveras irritante de vez em quando, não podendo evitar. Passei na frente de um dos vasos que estava em minha família a séculos - o mesmo que quase já quebrei inúmeras vezes quando mais jovem - o ajeitando com delicadeza sobre a mesinha, para que ficasse ao meio, voltando a caminhar sem mais interrupções. Abri devagar a porta para a sala de jantar, indo diretamente a meu lugar ao centro, sem ter o hábito de bisbilhotar o restante do local, por já estar esperando tudo em seu devido lugar. Apenas notei mais um lugar a mesa ao me sentar, pois estava evidente e na outra extremidade, nem sequer tive tempo de poder provar uma única colher daquilo que parecia delicioso pelo cheiro, em meu prato. Suspirei baixo, tentando conter o aborrecimento que senti ao ver a cena e por terem feito tudo bem embaixo de meu focinho, apoiei a mão espalmada encima da superfície reluzente, não havia sido com tanta força mas foi o bastante para que ecoasse um barulho alto pelo vasto salão, raramente me alterava, desde que o pequeno garoto de olhos claros e cabelos desgrenhados chegou, já pude contar duas vezes. Não suportava mentiras, era apenas por isso que tinha me aborrecido, apesar de tentar não demonstrar
- Lumière! - chamei em um tom alto e autoritário, mas como já sabia que demoraria mais do que chegar até lá, me levantei e caminhei.
Na cozinha estava Horloge e Lumière, ambos a mesa, um do lado do outro. O relógio, como já era de se esperar, praticamente tremia a minha mera presença, algo que não o culpo, tenho o hábito de parecer imponente até mesmo quando não é o meu objetivo intimidar ninguém. O candelabro, por outro lado, estava medindo as palavras para que pudesse conversar comigo corretamente e de um jeito que não me deixasse mais irritado com o assunto apesar de aparentar calmaria em meu semblante, me conheciam o bastante para que não precisasse de muito para saber em como eu estava reagindo ou o que pensava, já me perguntei se em certos momentos exagero com eles, mas que outra forma de manter tudo em seu devido lugar? Alguns convivem comigo desde que eu era um pequeno garoto, e a essa altura, já se acostumaram com o quão rude posso ser.
- Explique-se, agora - pedi com calma ao aproximar da mesa, esperando que possuísse em seu repertório, no mínimo uma desculpa boa o bastante que o faça se livrar da bronca
- achamos que gostaria de ter companhia! - a voz de meu velho amigo dourado tentou me tranquilizar
- Mestre, eu só queria deixar claro que EU não faço parte deste irresponsável plano - Horloge tentou se defender, como sempre fazia, já que de todos, é o que mais teme a mim - preparar um jantar, trocar de roupa, dar a ela a suíte da ala leste!
Enquanto ele reclamava em voz alta aquilo que eu não sabia, me incomodou a tamanha audácia daqueles que conviviam comigo, e dessa vez, não consegui disfarçar tanto, já que ao mesmo momento da menção do quarto, minhas orelhas foram para trás em um ato quase instantâneo, avisando que eu havia ficado estressado, lhes lançando um olhar duro com as pupilas retraídas
- Deram um aposento pra ela?! - praticamente rosnei, fechando os olhos e respirando fundo, tentando me acalmar ou pelo menos fingindo, voltando com o olhar severo apenas, apesar de minhas orelhas intactas em sua última posição
- Não não não! A ideia foi dele!
- É... - Lumière ri sem graça - é verdade, mas se esse for o garoto que vai quebrar o feitiço, talvez um jantar seja um belo começo, boa ideia Horloge!
- Que!?
- É certamente a coisa mais ridícula que já escutei, jantar com um prisioneiro? - perguntei enquanto caminhava pela cozinha evitando olha-los agora.
O lugar não parecia tão pequeno mais, me lembro de quando possuía menos de 10 anos, gostava de vir até aqui quando ninguém olhava e me pendurava em todos os lugares afim de chegar até os armários mais altos, onde mantinham os biscoitos que tanto gostava de comer
- deveria tentar mestre...cada dia que passa, nos tornamos menos humanos - sua voz agora era um pouco mais séria do que havia me acostumado, Lumière costumava ser um tanto petulante e atrevido, por mais estranho que soe, é exatamente o que admiro a seu respeito
- Ele é filho de um simples ladrão, que tipo de pessoa ele poderia ser? - perguntei com certa frieza
- Oh, não pode julgar as pessoas por quem seus pais são, ou pode!? - Madame Samovar retrucou incomodada, fazendo com que eu me calasse, como um jovem garoto que acaba de perder uma discussão cheia de pura teimosia, para a mãe, pois tinha noção de que ela tinha razão, constantemente têm. Eu raramente sou contrariado, mas ela e Lumière fazem questão de apontar meus erros caso tenha feito algum disparate, podem achar que isso não é comum na casa dos 40 - quase 50 -, mas se surpreenderiam ao perceber que é mais fácil do que aparenta.
Os observei em silêncio, ponderando tudo que tinham dito, me recordando de que todos dentro desse castelo estavam nessa situação hedionda por erros meus no passado, erros em que só eu tenho poderes para reverte-lo. Já havia desistido a muito tempo, perdido as esperanças, afinal, quem poderia amar uma criatura tão vil?- Bom...acredito que não irá fazer mal convidá-lo - mudei de ideia com certa relutância ainda
Em menos de 5 minutos, estava na ala do castelo onde ficava localizado seu quarto, e sem muita delicadeza - não por escolha, as vezes não media a força - bati em sua porta com a mão fechada
- Irá jantar comigo, não é um pedido, é uma ordem - disse alto o bastante para que pudesse ouvir, querendo ser direto e o mais breve possível
A fera um amor de pessoa 🥰Mas o que importa é que não no próximo capítulo, mas no outro, ta chegando ai o divisor de águas jkkk Fera vai parar de ser chato
E o mais importante, eles vão começar a se interessar um pelo outro sksk
Aliás, finalmente revelei a aparência da Fera, então toda vez que virem, se lembrem disso dai, não faço a mínima ideia de quem fez ou de onde ele é, mas os créditos estão na imagem!!!
Vejo vocês no próximo capítulo 🥳
Bjs do tio <3
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Besta que me Amou
Romance- Posso lhe fazer uma pergunta? - sua voz calma e profunda resoou sobre meus ouvidos - Claro... - O que fez alguém como você se apaixonar por uma criatura como eu? - sua pergunta me pegou claramente de surpresa e passei alguns minutos me perguntando...