11 - "Ela é tolerável, mas não bela o bastante para me tentar"

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Caminhei lentamente, rente as estantes enormes e cheias de livros, não me contendo, passando a ponta dos meus dedos, do mindinho até o indicador sobre a encadernação resistente e dura daquilo que eu gostava tanto de ler...certos momentos, tê-los em mãos já bastava.
Parei exatamente onde estavam livros com capas esverdeadas, haviam chamado minha atenção, retirei com cuidado de seu lugar e acabei lendo em voz alta
- "Orgulho e Preconceito" - abri por curiosidade, dentro dizia "Um romance em três partes escrito por Uma Senhora", meus olhos praticamente saltaram quando percebi que era de fato um livro escrito por uma mulher, assinado como "A Lady", só poderia ser! - Foi escrito por uma mulher!?
Perguntei animado o mesmo tanto que estava impressionado, me dando conta de que havia falado um pouco alto demais e com euforia, até mesmo feito um eco no enorme lugar, o que me deixou envergonhado, desviando o olhar para ele lá embaixo, que me olhava com um sorriso de lado, como se já soubesse que, uma hora ou outra, encontraria esse livro e que essa seria a reação esperada
- Sim, Jane Austen, se deseja saber seu nome
- Como você sabe?! - perguntei me aproximando da grade dourada e belamente construída, podendo o olhar melhor
- Vire a página e descobrirá
Mais que rapidamente, segurei o livro com delicadeza apesar da agitação, virando a página após o título, onde estava uma mensagem carinhosa escrita com uma caneta tinteiro, a caligrafia era certamente bela
- "Para Anthony, com estima, de sua grande amiga, Jane Austen", uau...onde? como!? Ela é inglesa? - havia tantas perguntas rondando minha cabeça e saber que não escutaria as respostas neste exato momento, me frustrava...
- É uma história engraçada, precisa ser contada com calma, mas envolve uma viagem até Hampshire por engano e meus cavalos sendo amedrontados por um bando de gansos valentes de uma jovem inteligente que não vivia muito longe dali - ele comentou com certo humor, fazendo eu sorrir e apoiar meus antebraços encima do corrimão, querendo saber mais sobre
- Sabe de uma coisa? Você fica bem sorrindo também, deveria fazer isso mais vezes, rir também - o elogiei, finalmente vendo pela primeira vez ele me encarar sem reação, não esperava escutar aquilo - o que foi? Ficou sem graça?
- Está bem atrevido, não acha? - perguntou arqueando uma de suas espessas sobrancelhas
- Sinto que posso ser, afinal, não somos mais desconhecidos - respondi com certa petulância e um sorriso convencido, voltando a prestar atenção no livro que havia em mãos, após praticamente ter esquecido de sua existência por conta de nossa conversa.
Reparei que na estante, havia mais dois livros encapados com o mesmo verde escuro, a continuação, é claro. Abri um sorriso grande e contente sem nem perceber direito nos lábios, saber que têm esse tipo de livro em sua biblioteca diz muito sobre ele... principalmente em um período que mulheres não podem sequer estudar, quem dirá escrever obras! Certamente não entendo qual seria o problema se fôssemos tratados iguais, mas é sempre assim, não é? Homens e mulheres; Pobres e Ricos. Sempre têm algo que vai tentar ou conseguir nos afastar de alguma forma...mas saber que ele é amigo de uma jovem tão á frente do tempo dela, é...bom, em partes uma surpresa. Eu imaginei mesmo que no fundo, talvez ele não fosse tão terrível assim depois de deixar que eu cuidasse dele, definitivamente já possuía outra imagem sobre o mesmo há dias atrás, mas esse tipo de coisa...não é algo que eu imaginaria, foi uma surpresa mais que boa!
- "É tolerável, mas não suficientemente bonita para me tentar", ah! Mas que grosso e presunçoso o Senhor Darcy é! O dinheiro que tem e a posição não lhe dá o direito de tratar alguém assim - comentei indignado, abaixando o livro que estava a frente de meu rosto para olhar a criatura lá embaixo com certa indignação, que riu baixo pela minha reação exacerbada - o que? Não concorda?
- Elizabeth também não era lá, uma flor
- Ora, uma rosa, rosas também possuem espinhos - respondi mais do que rápido
- ...O que não justifica a grosseria de Darcy, se deixasse eu terminar a frase antes, veria que não tenho intenção de criticar apenas ela
- desculpe, acho que me empolguei - disse sem graça, passando devagar os meus dedos da mão vaga em minha nuca
- Vai perceber que ambos são o Orgulho e o Preconceito
- É mesmo?! - ele apenas assentiu com a cabeça calmamente, fazendo eu voltar com o olhar atento até as páginas finas do livro, talvez um pouco animado demais para terminar e ter, finalmente, alguém a quem comentar sobre tudo aquilo que irei ler.

A Besta que me AmouOnde histórias criam vida. Descubra agora