Capítulo 02

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Decidido, Sérgio ajeitou os óculos e fechou o zíper do seu casaco de couro até o final, seguindo para dentro da casa novamente. Ao entrar na sala ele viu seu chefe sair de um dos quartos acompanhado de Gandía, que carregava uma enorme maleta preta nas mãos.

— Gandía e Sagasta podem vir comigo, Sérgio... — ergueu a chave do carro para ele. — Você e o Suárez ficam aqui, a chave é para alguma emergência.

Ao pegar a chave, Sérgio encontrou a oportunidade perfeita. Ele agora tinha um plano.

— Certo. — guardou o objeto no bolso. — Vocês vão demorar?

— Sim, eu tenho um serviço grande para eles. — Tamayo apontou para a maleta preta que Gandía carregava e Sérgio não quis nem imaginar o que havia dentro. — Voltamos pela manhã, qualquer problema entre em contato.

Ele dizia enquanto saia da casa acompanhado dos dois homens.

— Não se preocupe, não teremos problemas. — parou ao lado da porta observando eles entrarem em um dos carros.

— Eu sei que não, eu confio em você. — Tamayo abriu a porta do carro, mas antes de entrar olhou para Sérgio uma última vez: — Fique de olho nele.

Sérgio assentiu e logo viu os três homens deixarem a casa seguindo pelo caminho de terra pela floresta.

— Eu vou cuidar muito bem dele. — deu risada e entrou novamente na casa.

Pelo silêncio que o cômodo estava, Sérgio imaginou que o homem estivesse em um dos quartos. Ele se aproximou da porta e deu um pequeno toque na mesma, percebendo que ela estava aberta.

— Tô entrando. — colocou a cabeça para dentro do quarto e encontrou Suárez dormindo na cama improvisada. — Vai ser mais fácil do que eu imaginei.

Sérgio fechou a porta do quarto e foi até o cômodo ao lado onde ele guardava suas coisas. Ao abrir o armário ele encontrou sua mochila e como de costume retirou a arma guardada dentro dela e colocou o objeto preso ao cinco de sua calça. Sérgio desejava não utilizar a arma, mas caso fosse necessário, ele não pensaria duas vezes.

Com a mochila nas costas, ele foi até a cozinha a fim de levar alguns alimentos para a viagem, mas ele parou seus passos ao olhar para o alçapão. Sérgio se deu conta que ainda não falou com Raquel sobre a fuga, ele não sabia ao menos se ela acreditaria nele.

— É óbvio que vai acreditar. — ele próprio se respondeu e afastou seus pensamentos.

Deixou a mochila em cima de um dos armários e abriu a porta do alçapão, descendo os poucos degraus em seguida. A luz acesa do porão permitiu que Sérgio a encontrasse assim que ele desceu o último degrau. Raquel continuava exatamente no mesmo canto da parede, com as pernas encolhidas e o rosto apoiado entre os joelhos. Ao ouvir os passos ela se pôs em alerta e ergueu o rosto, mas ao ver que se tratava de Sérgio os seus ombros relaxaram. Ela não tinha medo dele.

— Raquel, o que eu vou te falar agora pode parecer loucura, mas eu peço você confie em mim. — Sérgio se aproximou, retirando uma chave do bolso, e agachou ficando ao lado dela. — Nós vamos sair daqui.

Ele segurou o tornozelo acorrentado e levou a chave até o pequeno cadeado enquanto Raquel ficou parada racionando o que ele havia acabado de falar.

— Você está falando sério?

Sérgio abriu o cadeado, mas ela não se importou, continuava olhando para ele.

— Eu vou te tirar daqui, só peço que aguente mais um pouco e confie em mim.

Ao erguer o rosto e olhar para Raquel, ele percebeu que ela começava a chorar. Antes que pudesse fazer qualquer pergunta, o sorriso que Raquel abriu foi tão lindo que Sérgio não teve outro foco a não ser os lábios abertos dela. Instantaneamente ele sorriu também e desejou, no mais profundo íntimo, que Raquel nunca mais perdesse os motivos para sorrir.

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