A última noite do Drive-In

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Tinha vindo com Kevin e Veronica. Eles estacionaram pelas vagas do meio enquanto eu buscava algo para comermos e assim que cheguei, Cheryl estava sentada lá também.

- Oi? - Falei entregando dois pacotes de pipoca, um para Kevin e outro para Ve, enquanto encarava a ruiva com uma expressão confusa.

- Não que eu te deva satisfações, mas não tenho nada para fazer essa noite e o Jason adorava aqui, saber que vai ser fechado é como se uma parte das minhas memórias com ele fossem roubadas. É tipo uma despedida.

Veronica e Kevin me encararam implorando para que eu não prolongasse a conversa. É pra ser uma noite divertida, apesar de sabermos que nunca mais vamos ter noites de filme como essa, mas também não queremos que o clima fique pior por uma conversa sobre assassinatos e luto, então deixei pra lá mudando de assunto.

- Que horas o Jughead vai chegar? - Perguntei.

- Ele é o primeiro a vir, até porque é ele quem transmite o filme - Respondeu Kevin.

- Sério? - Perguntei surpresa.

- Sim, quando fiz dupla com ele num trabalho de química comentou por alto.

- Vou dar uma passadinha na sala de transmissão então.

- Tá bom.

Lá estava eu com duas pipocas e um refri em cada mão. Como não sabia que ele era o responsável por passar o filme acabei pegando bebida também. Espero que ele não seja desastrado.

Ao chegar na salinha dei duas batidas na porta, que foi aberta após alguns segundos.

- Betty? - Falou surpreso ao me ver.

- Oi.

Estendi para ele o saco de pipoca e o refrigerante, que pegou de imediato ao me ver toda desorganizada com as coisas. Colocou em cima de uma mesa que havia ali e voltou a me olhar.

- Espera só um minutinho? - Perguntou e assenti.

Saiu depressa da porta e me inclinei para frente para ver o que estava fazendo, e percebi que estava arrumando o local, e algo que me surpreendeu foi ver uma cama, lá para o fundo da sala. Me endireitei e ele veio até mim entregando dez dólares.

- Valeu pela comida - Disse e colocou as mãos nos bolsos da calça.

- Jug, sinceramente, só comprei uma pipoca e um refrigerante - Estendi a nota.

Relutante aceitou o dinheiro de volta e ficou me encarando, parecia desconfortável, ou apenas tentando tomar coragem para dizer algo.

- Quer entrar? - Perguntou.

Assenti e ele abriu caminho estendendo o braço, indicando para que eu passasse, e assim eu fiz, logo depois fechou a porta.

- Pode sentar - Puxava um banco de plástico que estava encostado em uma das paredes e colocando ao lado do seu, que ficava ao lado do projetor.

- Então... Você trabalha aqui? - Tentei puxar assunto.

- Sim, desde os 13 anos.

- Nossa, e por que nunca disse?

- Sei lá, só nunca tivemos uma conversa que valesse apena contar.

Realmente, nossos assuntos ultimamente tem sido, escola, "o que você gosta de fazer?", E o assassinato de Jason Blossom.

Ele deu uma olhada rápida no relógio.

- Tá na hora - Se virou para a máquina e mexeu em algumas partes dela dando início ao filme.

- Quer ver como eu assisto durante três anos? - Ofereceu e aceitei aproximando mais o meu banco de sua cadeira.

Senti por alguns instantes seu olhar fixo a mim, mas tentei ignorar apenas assistindo ao filme. Não sei o que fazer nesse tipo de situação.

Deixei a bebida ao meu lado no chão enquanto comia uma pipoca de cada vez, e notei que nos primeiros dez minutos de filme Jughead já havia devorado tudo.

- Quer mais? - Perguntei estendendo o pacote.

O mesmo deu um sorrisinho tímido e pegou um punhado. Fomos dividindo enquanto assistíamos.

- Eu não sabia que gostava desse tipo de filme - Sussurrou Jughead com os olhos fixos a tela.

- Bem, o que posso dizer? Sou uma caixinha de surpresas - Falei brincando, e ele deu uma breve risada.

- Como você vai ficar? Me refiro a quando aqui fechar - Perguntei a ele preocupada. Notei que aqui não era apenas seu trabalho, mas sua casa também.

Haviam fotos suas com pessoas de sua família provavelmente, uma cama, uma mochila e várias outras coisas pessoais.

- Vou tentar arranjar outro bico, talvez no biju, no Pop's...

- E quanto a um lugar para morar? - Fui direta.

Ele me olhou de imediato, seus olhos estavam repletos de vergonha, parecia não querer que eu soubesse disso. Seu corpo encolheu.

- Eu vou ficar bem - finalizou a frase com um sorriso triste.

- Lá em casa temos um quarto sobrando já que a Polly... Bem, você sabe.

- Sim, mas não precisa se preocupar, eu dou o meu jeito.

Um silêncio constrangedor se instalou na pequena sala. Meu coração estava apertado, queria fazer algo para ajudá-lo.

- Só mais trinta minutos - Disse se referindo ao filme enquanto checava a hora.

Agora eu entendia o porque dele querer salvar esse lugar, não era só como um lar, era literalmente a sua casa. Reparei em uma das fotos que estavam na parede. Ele e sua irmãzinha, estavam parados em frente a fachada do Drive-In com um sorriso alegre no rosto. O garoto parecia ter uns oito anos de idade. Quando será que ele começou a morar aqui? Por que não vive com o pai ou a mãe?

Não sei se era o certo a se fazer, mas o abracei com compaixão. Não fazia a menor idéia se aquele gesto iria deixá-lo mais envergonhado ou se iria reconfortá-lo, mas esperava que o ajudasse de alguma forma.

De início ele se assustou com o meu ato. Seus braços estavam paralisados no ar sem saber o que fazer, mas depois de alguns segundos se sentiu mais confortável e desceu eles até as minhas costas, retribuindo com carinho.

- Qualquer coisa que precisar pode contar comigo tá? - Murmurei.

- Só não me enxergue como um pobre coitado, é a única coisa que eu te peço - Havia dor em cada palavra que saía de sua boca.

- Pode deixar, vou continuar te vendo como o escritor que não tira esse gorrinho da cabeça de forma alguma - Falei brincando para deixar a situação mais leve.

Ele riu, e eu amei isso.

- Obrigado - Sussurrou.

Sem saber o que dizer o apertei com mais força contra mim, fortalecendo o abraço. Ele fez o mesmo, e eu soube que ele realmente confiava em mim.

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O que poderia ter acontecido se a Betty tivesse ido ao Drive-In.

Espero que tenham gostado.

Amo os comentários que vocês fazem, são uma preciosidade.

Não se esqueçam de apertar na estrelinha se gostaram.

One shots - BugheadOnde histórias criam vida. Descubra agora