Estou "de volta" gays!!!!!
Acordo meio zonza. Não consigo dormir direito nesse hospital. Nunca consegui, na verdade.
Thalia está esparramada na poltrona. Ela fez sua jaqueta de couro preta como um cobertor.
- Bom dia. -diz.- Estava esperando você acordar para poder ir.
- Desculpa. -é a primeira coisa que digo.
- Quê? Annie, não. -ela se ajoelha ao meu lado.
- Você não precisa ficar aqui. -digo.- Me desculpa por isso. Pelo Lucky. Ele vai te dar trabalho. Eu não deveria ter adotado ele. Você não precisa parar de viver por mim, Thals. Me desculpa.
- Para, Annabeth. -ela levanta.- Você não é um peso. Estou aqui porque eu te amo. E eu me importo com você. Caso contrário, não estaria terminando a porra do ensino médio porque você pediu.
Consigo sorrir. Ela beija minha testa e pega a jaqueta dela.
- Até mais tarde.
- Até. -dou um sorrisinho fraco.
- Seus livros chegam aqui hoje. -ela abre a porta.- Maneie a bagunça. -e sai.
Encaro a parede na minha frente. Esse é o quarto que sempre fico. Decorado como eu quero. Uma foto minha sorrindo me encara de volta. Eu lembro dessa foto. Claro. Como eu esqueceria ela?
Alguém bate na porta do quarto.
- Pode entrar.
A porta é aberta lentamente. Primeiro, vejo apenas uma caixa. Então... Percy.
- Minha mãe pediu para te entregar isso. -ele diz.
- Obrigada. -mantenho os olhos na foto.
- Por que você está na área de cardiologia? -pergunta.
Não sei porque, mas, essa pergunta... me faz sorrir. Ele foi direto ao ponto. Isso deveria me deixar brava. Essa curiosidade. Mas não estou.
Ele não demonstrou pena, nem pediu desculpas pela pergunta. Fico grata com isso.
- Porque eu estou morrendo. -olho para ele. Percy me encara de um jeito curioso. Como uma criancinha.
- Você está falando sério?
- Por que eu brincaria com isso? -retruco. Ele dá de ombros.
- Não sei. -ele se aproxima e senta na cama.- Você não parece estar morrendo.
Nós dois olhamos para o carrinho com meus coquetéis de remédios e o maquinário monitorando meu coração.
- Exceto por isso. -ele diz e eu rio. Percy ri também, e...
Uau.
Rir é tão bom. Ele faz parecer algo natural.
- E... Sei lá. Não tem nenhuma maneira de você se curar?
Eu encaro ele. Ele me encara também. Nossa. Que cara direto.
- Eu estou na lista de espera de um transplante de um coração O negativo. -explico.
Meus olhos ardem porque, por mais que eu deseje isso, alguém teria que morrer.- E, no meu caso, é mais complicado. Eu tenho umas bactérias bem chatinhas.
- Que saco. -diz.- Meu sangue é O negativo. Eu te doaria um rim, se fosse o caso.
E isso é o suficiente para me fazer sorrir. De verdade. Como na foto da parede.
- Bem, todos nós vamos morrer, não é mesmo? -o moreno declara.
- Eu primeiro que alguns.
- Não seja tão mórbida. -ele diz.- E se eu morrer primeiro?
Me inclino um pouco para a frente.
- Acho pouco provável. -contraponho.
- Bem, você não é Deus. -Percy levanta e começa a examinar as paredes.- Você desenha?
- Por que a surpresa?
- Nada. -responde.- Eu pinto. E toco violão. E gosto de fotografar. E...
- Uau, que exibido. -declaro.
- Eu ia oferecer meus serviços a você, vossa Excelência. -ele se vira para mim.
- Seus serviços, é? -debocho.
- É. -ele aponta a foto que eu encarei mais cedo.- Quer ser minha modelo?
- Como você pretende me fotografar? Estamos em um hospital.
- Ora, por o acaso você vai ficar aqui para sempre?
- Não. Não vai. -Sally entra empurrando o carrinho.
Hora de trocar meu soro e desconectar as máquinas que me monitoram enquanto durmo, eba!- Pare de incomodar meus pacientes, Perseu. -ela repreende.- Volte para a recepção.
- É para já, chefia. -ele bate continência para a mãe.
Sally revira os olhos e foca a atenção em
mim.Percy faz uma reverência exagerada em minha direção e sai. Não consigo disfarçar o sorriso.
- Quando eu vou ter alta?
- Próxima semana. -ela tira a agulha do soro e coloca no carrinho.- Talvez, se tudo correr bem, depois de amanhã. Por que, meu bem?
- Nada. -digo.
Porque vou ser modelo por um dia, penso.
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The Life We Want (won't) Wait For us
Historical FictionAs consultas e internações de Annabeth se tornaram mais frequentes depois do acúmulo de bactérias em seu coração. Ela precisa de um transplante e não poderia haver um jeito pior de tê-lo conseguido.