Observo a casa da minha tia, onde eu iria ficar pelos próximos três dias. Minha tia por parte de mãe, ela nunca foi muito presente em minha vida eu eu praticamente não a conheço.
-Irei para o quarto. -Respondi enquanto ignorava os adultos presentes aqui.
-Tem certeza? Não quer comer algo? -Minha tia perguntou confusa. Provavelmente ela quer que eu fique ao lado da presença desagradável dela. -Você não comeu nada o dia inteiro, querida!
-Não estou com fome, meu dia foi longo e eu quero descansar. Já é de noite. -Respondi olhando para a janela, ela estava fechada mais as cortinas estavam abertas então dava para ver o quintal.
A chuva ainda não havia cessado e meu pai não estava aqui, ele sabe que eu odeio ficar na casa de estranhos e que eu odeio tempestades durante a noite.
Minha tia iria dizer algo, mas me virei e sumi no coredor escuro daquela casa. Nunca gostei de vir aqui, a cada canto da parede tem cruzes e imagens de diversos deuses do xintoísmo. Ela é a única da família que acredita em algo desse tipo, as vezes ela me conta histórias sobre os irmãos Izanagi e Izanami ou sobre Amaterasu. Embora eu não acredite nos Kamis, eu gosto bastante das histórias deles. Só não gosto são desses quadros dela! São feios demais.
Adentro o quarto de hóspedes que eu teria que dividir junto com o papai, o quarto não era grande e tinha apenas dois futons arrumados no chão. Escolho um e me deito, deixo a porta fechada e me cubro. Não estava tão frio assim, mas mesmo assim sinto a necessidade de usar um cobertor.
Observo o teto cinza do quarto, escutando apenas o barulho da água caindo do lado de fora.
O céu esta chorando, então tudo bem eu chorar também? Somente dessa vez, ai eu juro que não irei derramar uma lágrima sequer até o dia em que irei me vingar.
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Não consigo dormir de jeito nenhum, a chuva havia diminuído um pouco. Não exatamente que horas são, não há nenhum relógio por perto. Me sento no futon e visto minha blusa, também coloco minhas meias e o meu all Star.
Sei que eu não posso sair de noite/madrugada, é perigoso demais para alguém do meu tamanho. Mas estou me sentindo sufocada aqui dentro, não posso continuar e preciso de um pouco de ar.
Me levanto e caminho até a janela, abrindo a cortina e analisando o outro lado. Abro a janela, não é alta e não vou me machucar se eu pular.
Essas gotículas de água caindo do céu, vão ser os responsáveis a fazer com que flores nasçam mais para a frente, e assim a vida continua.
-Aí...-murmurei ao pular da janela, doeu um pouco mais nada que seja grave. Provavelmente vai ficar roxo.
Coloco o capuz em minha cabeça, a fina garoa já me atingia. Andando pelas ruas vazias, sinto um certo alívio por estar respirando o ar úmido. Tento relaxar um pouco, tento não pensar em como será o meu futuro agora em diante. Papai é péssimo cozinheiro, mal sabe usar uma máquina de lavar e sempre quebra pratos e copos quanto tenta lavar louça. Talvez agora ele contrate uma empregada, ou...arrumara outra mulher.
Levanto a cabeça, sentindo um pouco da água fina e gelada pingar em meu rosto. Não deixarei nenhuma mulher interesseira tome o lugar de minha mãe! Farei questão de garantir, caso um dia meu pai se case novamente, seja com uma mulher boa e honesta. Se for alguma piranha querendo o dinheiro dele, farei a vida dela um verdadeiro inferno.
Olho para o lado ao escutar um barulho, um...uivo de dor. Provavelmente um cachorro se machucou, coloco as mãos em meu bolso e vou em direção aos choramingos do cachorro.
Ando um pouco, uma moto passou correndo em alta velocidade pela rua. Não demorou para eu encontrasse, no meio da rua um cachorro adulto caído no chão. Me aproximo dele, não havia sinal de atropelamento, havia um machucado em sua barriga. O cachorro já estava sem vida, era uma fêmea.
Me sinto um pouco incomodada com aquilo, se eu tivesse vindo nessa direção talvez eu pudesse ter salvo a cachorra...
-Quem machucou você? Aquele homem que passou correndo igual o sonic? -Perguntei mesmo sabendo que não iria obter respostas.
Covardia.
Covardia matar um animal que não pode se defender de maneira adequada.
-Quelle? -Murmurei confusa ao escutar novamente o choramingo de um cachorro, a mais um animal ferido aqui. Me distancio do cachorro caído e vou a procura do outro.
Finalmente o encontro, caído na calçada embaixo da iluminação do poste de luz acesso. Um cachorro com as duas patas machucadas, olho para frente e para trás em busca de algum sinal que algum carro passou por aqui, mas nada. A rua está deserta, é madrugada e todos estão dormindo.
-Não tenha medo...-Murmurei para o filhotinho que não parava de chorar. Como se quisesse algo. Me sento em um boa distância dele, molhando minha calça. -Você é igual a cadela, só que em miniatura...aquela...era a sua mamãe?
O cachorrinho me olhou, ele era cinza.
-Machucaram ela e a você também? Humanos...tão cruéis, não é? Precisa ser forte se quiser sobreviver a esse mundo tão cruel. Mas, no mesmo tempo, ele é tão belo, não é? Veja só, mesmo chovendo o céu está belo com essas nuvens em formatos de de flores e morangos. -Comecei a falar como se ele pudesse me entender. Ele parou de choramingar, quero me aproximar para ajudar ele.
Ignoro aquele frio que comecei a sentir no momento em que molhei as calças.
-Homens maus também mataram a minha mamãe...-Respondi olhando para ele. -Você está sentindo o mesmo que eu?
O cachorro choramingou novamente, decido me levantar bem devagar para não assustar ele.
-Não importa o que aconteça com a gente, a vida continua. -Falei me aproximando bem devagar. -Você é bem corajoso, está sozinho aqui nesse escuro. Quer que eu te ajudo? Cuidarei dos seus machucados e iremos nos tornar amigos. Vamos superar a nossa dor, juntos.
Ele não se assustou no momento em que retirei minha blusa e a utilizei para pegar o coitado em meus braços. Ele apenas fez um barulho de dor.
-Não deixarei a sua mamãe na rua, irei enterrar ela e todos os sábados iremos visitar o túmulo dela. Ok? -Murmurei olhando em seus olhos, mesmo sentindo um frio, não me importo. Pegarei um resfriado, mas não estou ligando.
Não salvei a mamãe cachorro, mas salvei o filhotinho dela.
-Você é corajoso, pequeno. -Respondi começando a andar com ele em direção a casa de minha tia. Usarei a garagem para tratar de seus ferimentos. -Seu nome será Sirius, pois ela é a única estrela visível hoje.
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Salvação.
Fiksi Penggemar. . . Onde Morgana faz uma promessa a si mesma, iria salvar Mikey da escuridão. . . ?!♡