VII - O ultimato

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THEODORE FLETCHER

Milo Dark Wood não se empenhou para criar um campo de guerra na sua escola, portanto, o estádio é a parte mais mal aproveitada do castelo. Ele não queria soldados, mas políticos, uma pena que naqueles tempos exigia-se os dois em um e eles foram obrigados a lutar para não acabarem decapitados ou amaldiçoados pela eternidade, mas as coisas mudaram e o estádio continua aqui.

Eu tenho certeza de que Milo o apagaria do mapa hoje em dia para que o nosso aprendizado fosse unicamente didático, mas a maioria gosta da tradição militar e da exposição da violência gratuita. Os torneios são uma ótima oportunidade para se mostrar pronto para qualquer coisa com o alcance de seus dons e eu tenho que ser o melhor de todos no meu último ano.

Os veteranos ganham prêmios de honra, ouro e as melhores bençãos que os Feiticeiros mais poderosos do castelo puderem oferecer. Serei intocável por anos desde que me comprometa a zelar e proteger a escola e suas futuras gerações. É A Benção de Dark Wood e eu me recuso a perdê-la.

Até uns meses atrás, vencer A Benção era tudo o que eu precisava fazer para trazer orgulho para os meus pais, eu pensava. A única coisa que me preocupava era como eu poderia derrotar meus quinze rivais e com que rapidez.

Hoje, já não tenho certeza se uma Benção mudará minha vida.

Não tenho certeza de nada.

Caminho em direção ao meu palco e os veteranos abrem caminho para mim, meus colegas de quarto inclusos. Só tem homens aqui.

O estádio não possui cobertura e tem a forma de um ovo, suas paredes são vermelhas da cor do nosso sangue e, dentro dele, encontram-se quatro palcos de formato losangular. Os estudantes são separados em equipes, apesar de, nas retas finais da competição, ser cada um por si. Os torneios só podem ter início quando os Capitães, eu e mais três alunos de diferentes séries, escolhem outros para guiar em uma exibição de poder, autocontrole e maestria.

Eu adoro tudo sobre esse trabalho. Gosto de liderar e gosto de ter contextos para liberar minha magia, para que ela corra pelo meu corpo como uma gazela corre em um campo aberto sem predadores por perto. A paz permeia os meus ossos pela primeira vez em semanas e o ar puro é bem-vindo nos meus pulmões.

Examino os novos combatentes e os elimino em minha cabeça. Já sei quem eu quero treinar para a Elite, mas não posso cortar as pontas soltas na primeira semana ou o treinador irá encher o meu saco por não distribuir oportunidades.

Subo as escadas ao mesmo tempo que os outros três Capitães e nós caminhamos até onde as pontas dos losangos se encontram, dando as costas uns para os outros. Giro minha cabeça e o meu pescoço estala. Espero o primeiro combatente subir. Todos aqui sabem o que fazer, já estamos no último estágio.

É questão de costume os Capitães darem abertura aos treinos e em breve eu não serei mais necessário. Posso acabar morrendo se ficar lutando contra todos, todos os dias. Deixo para pensar no meu descanso depois. Agora é cedo e não quero ficar preguiçoso.

Estico os dedos e minhas mãos se aquecem, formigando.

Em cada palco está um grupo grande de alunos da mesma faixa etária. Começamos a treinar a partir dos quinze anos e, felizmente, não temos que lutar contra alguém mais velho, mas isso não torna as coisas mais fáceis.

Eu sempre quis saber como é ser um veterano, mas agora vejo que não tem nada demais nisso. Daria muitas coisas para voltar a ser um garoto de quinze anos — não que eu não tivesse estresses já naquela época, mas as coisas definitivamente eram mais simples.

Meu primeiro rival, como eu esperava, é Lance Malik, meu detestável colega de quarto. O garoto albino sorri para mim, seus cabelos longos presos em um coque apertado.

OS DESONRADOS FLETCHEROnde histórias criam vida. Descubra agora