VIII - Feliz

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CAMILLE DUBOIS

Criatura asquerosa e maldita! Eu o odeio, eu o odeio, eu o odeio, eu o odeio!

Socos em um travesseiro não aliviam minha revolta, mas a tentativa é gratuita e eu estava vivendo à base de um desejo árduo de que este objeto magicamente se transforme em Theodore Fletcher para que eu consiga me sentir melhor.

Gritos contidos às vezes me escapam entre os dentes, tamanha a força que eu coloco em meus punhos. Não faz diferença. Meu surto não melhora nada, mas eu preciso colocar alguma coisa para fora ou morrerei sufocada.

Quando solto um grito de verdade, as janelas do quarto se abrem de uma vez e batem contra as paredes, rachando os vidros. Elas balançam com o vento forte e eu dou um último murro no travesseiro, vencida pelo cansaço.

Agora é público: todos sabem que minha vida está acabada. O Fletcher não fez questão de alterar o volume de sua voz ao me reivindicar e mais pessoas do que deveriam ouviram as novas. Eu lutei tanto para desmentir os boatos daqueles que vinham investigar a respeito e ele estragou tudo só ao se aproximar da minha mesa.

Eu preferia continuar a passar como a louca que acha que vai casar com um rapaz rico ao invés de ser ela.

Arrumo meus cabelos e sinto a ardência em meus olhos assim como a tremedeira em meu queixo denunciando que estou muito próxima de um desabamento.

Estou arruinada e sei que devo fingir que estou bem com isso. Sentada sozinha em minha cama, refugiada em meu dormitório, eu queria me sentir em casa como normalmente sinto quando estou em Dark Wood, mas hoje isso não é possível.

Olho em volta e tudo parece tão errado e fora do lugar.

Um gemido me escapa antes das lágrimas quentes. Eu não posso dizer não a ele. Ele não está errado, sei que tenho deveres a cumprir e não vou abdicar deles por pura vaidade.

Jogo a cabeça para trás e encaro o teto, na ponta de minha língua haveria preces de misericórdia se alguma vez os céus tivessem me atendido quando precisei. Debruço-me sobre o meu travesseiro e o abraço depois de ter gastado mais do que dez minutos tentando destruí-lo.

Choro, porque não quero ter que trazer honra a minha família desta forma, mas mais ainda porque eu o farei. Eu tenho que fazer isso por meu pai, o único que me restou, para que sua carreira alavanque com Fletcher em meu nome e para que eu sobreviva até viver dias melhores, se é que eles vão existir.

Queria desesperadamente que houvesse um jeito diferente de viver, mas não há.

Eu poderia me rebelar, mas há tanto fui domesticada que as correntes em meu pescoço, mãos e tornozelos estão intrincadas com meus músculos. Eu mal consigo respirar e dói tanto não saber o que será de mim. É o que eu mereço?

Fico dividida. Uma pequena parte de mim quer lutar contra toda submissão tatuada em meus ossos e diz: lute! Lute, Camille! Fuja!

Outra parte — a parte esmagadora — diz: não seja ingrata, Camille. Imagine a decepção que seu pai sentirá, poderá o levar à morte como aconteceu com sua mãe. Quer mesmo isso?

A vida toda eu ouvi: seja uma boa garota. Tudo bem se errar, mas isso é coisa de gente fracassada e se você é uma fracassada, não merece seu sobrenome. Seja a melhor. Você poderia ter sido a melhor. Como acha que eu me sinto sobre isso?

Ajeite a postura. Fale mais alto. Seja mais clara. Cale a maldita boca. Seu irmão foi um erro, você quer ser um também? Sua mãe estaria tão desgostosa.

Lembro-me claramente da época em que eu sonhava em receber um elogio sem nenhum comentário extra. Como seria bom só ter feito um excelente desenho, sem os acréscimos de que ele não fazia sentido e eu deveria continuar treinando.

OS DESONRADOS FLETCHEROnde histórias criam vida. Descubra agora