" é deselegante "

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-Eiii Zee tá me ouvindo ? - uma bola de papel foi jogada sobre o alfa, Max resmungava sobre algo que verdadeiramente não interessava o amigo, mas como um de seus sentidos era prejudicado, ainda que não quisesse os outros eram super aguçados.

— " O garoto de boné vermelho parece um ômega mas o de jaqueta preta é mais bonito e claramente um alfa. Seria estranho eu ter minha primeira experiência alfa X alfa com um cara que lembra meu pai ? " – o amigo toma um gole de sua bebida, que já tinha seu gelo completamente derretido — Cara você sempre me impressiona com isso. quantos dedos tem aqui? – o amigo meio bagunçado das ideias acena quatro dedos diante de seus olhos antes que receba um tapa de Zee sob o dorso de sua mão — Eu não sou cego seu idiota, só não consigo distinguir fisionomias, sério fazem três anos que somos amigos, você se faz ou é tapado de nascença ? – amigavelmente irritado ele questiona o moreno, que apenas sorri e resmunga um, " vou ficar com o de boné " enquanto se dirigia até a pista de dança, o alfa deixado no balcão sorri balançando a cabeça e voltando a se concentrar nos detalhes que não abandonavam seus pensamentos.

" Olhos escuros que lembravam delicadas jabuticabas, a pele clara de uma sutileza parecida com a pele de um pêssego, os cabelos escuros que caiam sobre a testa o deixando com um ar ainda mais angelical, os lábios fartos e úmidos pelo óleo do atum que ele pode sentir através de seu hálito, tantos detalhes, sutis traços de um rosto que Zee nunca esqueceria, por que? Simplesmente por que é o primeiro rosto que ele conhece em dez anos.


⏳Passado

— Seu idiota – o copo de bebida com gelos foi jogado no rosto do alfa, a omega enfurecida por não ser reconhecida, cravava os saltos no piso de madeira do salão, os olhos de todos estavam sobre si, mas para o Zee infelizmente aquilo era normal desde o acidente — É meu amigo sua nova vida não é fácil – Saint da leves tapinhas em seu ombro — O médico não achou nenhuma alternativa ainda? – o amigo sempre prestativo secava seus cabelos com a toalha emprestada pelo garçom — ~Oof~ Ele disse que é uma espécie de amnésia só que visual, por causa do inchaço do cérebro ele não sabe determinar se é permanente ou temporário – o suspiro cansado do mais velho vinha se repetindo a algum tempo, já fazia seis meses desde o acidente de carro mudou drasticamente sua vida.

Prosopagnosia ², a condição com nome de alguma magia de Harry Potter, se deu por um trauma na cabeça, a concussão que causou um acúmulo de líquido e afetou o seu córtex, sendo assim, desde então ele não consegue reconhecer o rosto das pessoas a sua volta, a fisionomia e características das pessoas que convivem ao seu redor eram quase nulas, mas graças a evolução dos genes e a porcentagem de 52% de lúpus que ele tinha em seu DNA seus outros sentidos são muito mais aguçados, os cheiros e as vibrações vocais são facilmente captados pelo alfa, por tanto nesse momento ele sabe melhor do que ninguém, que Saint já está levemente bêbado, já que seu hálito exala um cheiro ácido por conta das quarto doces de whisky que o amigo havia tomado, também sabe que ele está excitado, provavelmente por causa do Barman, já que cada vez que o homem fala consigo seu coração aumenta a pulsação, além da voz que soa mais baixa e rouca cada vez que responde o beta do outro lado do balcão.

— Ta, eu tô bem vai logo – afastando a mão do garoto que ao invés de secar seus cabelos agora apenas os bagunça já que a toalha praticamente estava cobrindo seu rosto — O que ? Não, até parece que vou te deixar aqui e...

— Da o fora daqui – dizia Zee sorrindo — Não é todo dia que aparece um beta corajoso pra aguentar um alfa, ainda mais sendo o senhor Suppapong o tal alfa – o que parecia um sorriso disforme, surgiu no rosto do amigo, Zee juntava o agora com suas lembranças tentando recordar o rosto do amigo, pra que o peso da "doença" não lhe afetasse tanto — Já disse que te amo hoje? – apenas provocando, já que esse assunto era mais do que passado entre eles

— Não dizia nem quando estávamos juntos imagina agora – uma risada foi compartilhada entre os alfas — Vai logo e não dorme antes dele, é muito deselegante – cutucou o amigo, trazendo a tona um dos poucos defeitos que o homem tinha na cama, Saint lhe beija a bochecha e some chamando pelo garçom.

O alfa se vira, ficando de frente para massa colorida de corpos dançantes ao som da batida alta, antigamente homens e mulheres, alfas, ômegas e betas, sorriam e sensualizavam buscando chamar sua atenção, será que agora estariam fazendo o mesmo ? Será que em algum momento sua vida voltaria ao normal? Seria possível pra ele encontrar um companheiro sem conseguir reconhecê-lo?

Perguntas que ele não sabia responder rondavam sua cabeça, os cheiros excessivos ali já causavam dor de cabeça no alfa, virando seu último gole de whisky, Zee recolhe seu terno sobre o balcão e caminha pra fora da boate, rumo ao seu apartamento, vazio, solitário mas reconhecível, a única coisa que fazia o homem se sentir seguro depois do acidente, será que algum dia alguém tomaria o lugar do imóvel ?




² Quem tem prosopagnosia não é capaz de reconhecer parcial ou totalmente o rosto de conhecidos, mas mantém preservada a capacidade de memorizar seus nomes e demais características individuais.

Sentidos do Coração  /  ZeeNunew / OmegaversoOnde histórias criam vida. Descubra agora