1 - SINK AND DESTROY

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11 de junho de 2050, 23:45pm. Estacionado em frente à um Railmart, rua Crosshairs, distrito financeiro 12, Hollowpointtown, Nova Iorque.

Ficha de oficial.
Agente: Heitch Evellyn Morganna.
Idade: 57 anos.
Altura: 1,87m.
Departamento: Homicídios e mortes gerais.
Status: inativa do DPH, licença em vigor, particular, aposentadoria atrasada.

Uma detetive em negação, é uma detetive em negação.

Evellyn Morganna abre seu porta-luvas, com suas brancas mãos trêmulas e ansiosas, um porta-luvas morno, num carro igualmente morno e escuro em meio à uma cidade aos poucos se levando aos confortos obscuros noturnos, ela pega um frasco de analgésicos sem prescrição médica, deixando exposto no fundo algo de prata. Ela fecha o porta-luvas, expondo a marca Fortwell, com certeza, era um Cameron muscle dos anos 70 ou próximo, o vidro elétrico vintage entregava, e a falta de multimídia, ela tocava jazz suave em fitas cassetes perdidas no tempo.
- ... ai, porra... ... filha... de...!! -
PAM-PAM!

Ela deixa os analgésico caírem quando a manga de seu sobretudo vermelho se prendeu no porta-luvas fechado, com raiva, ela bate no porta-luvas repetidamente, fazendo um amassado na forma de seu murro fundo o bastante para imaginar que uma criança de 8 anos bateu a cabeça ali por descuido do motorista...
- .... ...!! ... -
Encarando aquele amassado, Evellyn Morganna não pôde evitar de sentir uma tremenda fúria interna, era possível ouvir o som de seus suspiros e ofegares poluindo e embaçando o carro... olhava as mãos, sentia a tremedeira do estresse, sentia as lágrimas secas as substanciando.

Ela pegou do chão do carro o analgésico sem prescrição médica, tocando em um envelope de uma hamburgueria que fechou semana passada, ela comeu aquele hambúrguer ano passado, ainda sentia o cheiro de refrigerante quente endurecido e da mostarda de péssima qualidade com textura de mel velho esquecido...
Abriu a tampa... é possível escutar os comprimidos escorregando por sua boca, um à um...
- ... !... *ofegante* ... brrrhh!! .... ... *ofegante* ... -
Seus ouvidos pararam de repente de funcionar, nada além de um zumbido rígido, sentia sua visão turva e embaçada, sentia sua respiração queimando sua garganta, e respingos longos de saliva molhando sua camiseta havaiana azul com um floral vermelho, a pior camiseta que já ganhou de presente, mas agora... agora não conseguia mais andar por aí sem ela.

O efeito passou após vários suspiros e ao sentir seu pescoço estalando no afofado do assento do motorista, sentia suas obturações vazando para fora dos dentes, e sua língua seca... era possível sentir o baforar embaçando seu para-brisas, à sua frente mais carros elétricos estacionadas, conseguia sentir os reflexos dos neons da cidade ofuscando seus olhos, seus olhos vermelhos, sentia-se mergulhada na escuridão envolta por raiares de luzes azuladas. Sentia-se desorientada, lágrimas flácidas, o suadouro refletia em seu rosto, a tremedeira dos dentes, os poucos dentes intactos que tinha após anos, anos de integridade moral duvidosa e estranha.

Charuto, um charuto. Um charuto para uma noite charuto. Pasta. Charuto.

- *Respirando fundo* ... ... droga... -
Ela pega um charuto do porta-copos do carro perto da marcha, põe na boca, sentindo a suavidade do fumo de qualidade indecifrável de décadas passadas. O acende com um fósforo...
- ... *puxando fumo* ... ... *baforando fumo* ... que merda ao cubo... ... ... -
Evellyn Morganna então sacou debaixo de seu assento um envelope aberto, era possível ver a marca de rasgo feita à faca, no envelope estava assinado no nome do Departamento de Inteligência e Localização Criminal do Departamento de Polícia de Hollowpointtown. A última vez que Morganna viu a mesa de uma delegacia de polícia foi duas semanas quando apreendeu um ladrão de carros que tentou roubar seu carro - obviamente -, mas a última vez que viu uma com seu nome... foi há anos.
Logo abaixo da assinatura estava o nome "Cherry Marillow" seguido por "com amor, e não te devo nada, cacete".

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