7 - HAMMER SMASHED SOUL

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17 de junho de 2050, 18:45pm. Metrô Paul Allen, rumo aos apartamentos Larrygold, Hollowpointtown.

O metrô estava um lixo, tudo estava um lixo para os olhos de Sauer. Estava agora, apenas com sua camiseta social branca e sua gravata com clipe. Suas calças jeans e suas botas já estavam livres daquelas faixas brancas utilizadas anteriormente para auxiliar no efeito de transparência no traje. E a iluminação azulada do trem a assolava, respirava fundo, e sentia sua pele, sentia suas roupas, naquele fim de existência, sentia tudo se tornando azul, seu corpo estava azul. Reluzente como fluido de luminária. Uma máscara corporal invisível, como um cenário vivo, uma planta, um louco, um filme fosco antigo. Olhava em volta, estava sozinha. Se sentia sozinha, Andy e ela sempre iam para os lugares juntas de carro, escutavam heavy metal e falavam sobre coisas da vida. Nunca teve esse privilégio na época como parceira de Morganna, onde passavam boa parte do tempo juntas em silêncio. Lembrava à todo momento da maneira como Andy descrevia coisas simples da vida de maneira tão apaixonada, sentiu falta disso na noite em que deixou sua vocação para trás, ela parecia seguir o luto de Sauer pela própria alma, sentia um certo aperto. O que tinha feito de bom? Era essa a pergunta que fazia enquanto dormia nessa uma semana que passou sem ver Morganna em lugar nenhum e operando como cowboy. Aquela noite antes de se consolidar como cowboy, ficara remoendo enquanto enchia a cara de vinho sobre essa questão.

O que tinha feito de bom?

Remoía sobre falhas passadas, criminosos que deixou passar, ou mesmo, crimes que a própria Morganna cometeu. Quantas vezes ela não rachou os crânios de suspeitos e fujões com aquela merda de sorriso hipócrita, e nada fez para a impedir? Quantas vezes Morganna se envolveu com esquemas antiéticos que ocasionaram a morte de muitas pessoas, e nada Sauer fez para a deter. Lembrava do escuro em meio azul imaginário dos confins do tempo. Era sua maneira de atenuar a dor daquele sangue todo, não em suas mãos, mas em seu rosto.
Não, ela tentou sim alguma coisa. Mas a última vez que tentou, Morganna a fez precisar fazer fisioterapia por cinco meses, isso três anos depois da sua carreira como uma dupla. Não acreditava naquilo, com quem estava trabalhando, era amiga, namorou aquela mulher por um ano. Não lembrava sequer como fora surrada de tal séria forma, só lembrava de rápidos flashes de Morganna a socando de forma enlouquecida. As sombras do passado cobriam suas costas como uma capa flutuante. O metrô parou...

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Os metrôs são elétricos há mais de 100 anos, com um abastecimento de dez minutos, essas coisas conseguem andar por quatrocentas estações, isso dá 790 km aproximadamente. Dá pra rodar a cidade inteira de uma ponta à outra umas duas vezes. Era uma cidade bem grande mesmo. A maioria duvida disso, mas Sauer não.

O caminho até lá foi uma caminhada no escuro por várias horas, poucas partes da luz artificial solar gerada pela cúpula conseguia chegar à sua cabeça, à sua volta, tudo parecia querer a engolir, braços de ferro, grandes corpos mecânicos estáticos e olhos digitais exprimindo vigilância, os prédios gigantes da metrópole, altos, finos, picos, coloridos demais para definir, placas de fibra de titânio e outdoors de chumbo com feixes de hidróxido de sódio glorificado constantemente piscando e gerando uma espécie de fumaça translúcida.

No caminho, observava os mal-encarados dos becos e ruas a olhando, mal-encarados vendendo substâncias para uma variedade de pessoas de uma variedade de classes sociais, gêneros e raças. Brancos, negros, asiáticos, árabes, indianos, latinos, homens, mulheres e as linhas entre eles, todos juntos, no mesmo lugar, defendendo seus espaços na sujeira, no escuro, Sauer conhecia aquelas regiões, são o meio-termo bizarro entre cada distrito residencial, há caminhos inteiros planejados por criminosos à fim de movimentar armas, drogas e humanos fora do radar da máfia demonicista e da polícia.

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