4 - SAUER CADABRA

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12 de junho de 2050, 03:41am. Em frente ao BetDavies's Cassino, distrito residencial de Lenningrats, Hollowpointtown.

Voltando para casa, atrasada demais Sauer estava num orelhão em frente à uma loja de penhores no meio da cidade, poucas centenas de metros de onde estava antes, a noite corria sobre seus ombros em gotículas de chuva artificial. Os orelhões atualmente são aparelhos telefônicos digitais em forma de um fone wireless com uma interface similar à um teclado digital de um celular inteligente, as ligações são gratuitas, o uso é gratuito, mas há um limite de tempo de uso atual e de uso seguinte. Uma pessoa tinha o usado há pouco tempo, e Sauer teve que esperar mais dois minutos para poder usar também, ou esperava dois minutos, ou pagava dois dinheiros - a maioria esperava -. Pensava em ligar para duas pessoas... a primeira...

- ... *encaixando fone* ... *discando* ... -
- ... quem fala? -
- Morguie, sou eu... Sauer. -
- Sauer!? O que que foi? Porquê tá ligando de um orelhão? -
- Bem... meu celular... tá completamente destroçado, assim como meus óculos... então... -
- ... ah, meu deus. O que aconteceu com você? O que ela fez com você? -
- ... ... sabia que isso aconteceria, não é? -
- O que ela fez com você, Sauer? -
- ... não, nada... só... quebrou meu braço... ... eu esperava coisa pior... ela... ela tem sua fama, não é? -
Ela estava chorando no telefone...
- Morguie... ... ... eu já tô indo pra casa, tá? -
- ... *chorando* ... tá... tô esperando... vem rápido, meu anjo... -
- .... tudo bem... ... tudo bem. Chego em meia hora... ... se o trânsito colaborar... tchau. Eu te amo... -
- Também te amo, Sauer... -

Sauer respirava fundo, e então liga de novo pro número que lhe disseram antes. 800815...
- Telefonista. Em que posso ajudar? -
- V... Y... Z... -
- Aguarde. -
O fone ficou mudo, e sons de programação começaram à ecoar.
- Alô. Diga seu nome e terá quinze segundos. Fale. -
- Detetive Sauer... eu tô indo pescar o peixe grande. Dois milhões. Eu aceito. -
- ... ótimo. Se precisar de "boas varas de pesca", vá no estacionamento do posto de gasolina Walden Murch, ao sul da sua localização atual. E lembre-se, nós vemos tudo. -
- ... ... -
O áudio ficou mudo, dessa vez, definitivamente.

Em questão de alguns passos, debaixo da noite, ainda sentia a umidade da cidade a castigando enquanto seus curativos e sua tala no braço esquerdo faziam sua parte em manter seus ossos no lugar, já sentia seu fator de regeneração agindo, mas demoraria muito para funcionar, ficou inconsciente por tempo demais, acordou apenas quando percebeu que estava deitada numa maca ao lado de um saco de cadáver com os dizeres "Descanse em paz, tenente Mima". Devia ser algum ex-parceiro de guerra que morava por lá que escreveu aquilo. Como consequência de seu desmaio, seu fator estava demorando para agir, mas ao menos, estaria boa em umas 10 ou 12 horas.

Se sentara enfim no confortável banco de forro de algodão de seu carro elétrico de autonomia híbrida, fechou a porta com isolamento acústico, ligou o ar-condicionado e então pôs heavy metal...
*Well i know! Its hard for you! To know the reasons why! And i know! You'll understand! More when it's time to die!*
Adorava escutar a ressonância da vocalista Evellyn Oswell - a primeira grande vocalista (acima dos 40 anos) de heavy metal da história -, ela tinha uma voz fanha e potente que lhe dava a marca de quem "vomitava beleza", ela costumava comparar. Mesmo preferindo muito mais a potência adocicada da vocalista Louraine Meschalera, do The Madness Sex (1930-1947), a primeira grande vocalista de heavy metal da história como um todo. Adorava essa cultura que regia a música pesada, respirava, suava, o nariz ainda estava quebrado, mas sentia muita dor na nuca ainda, algumas costelas estavam voltando ao estado normal, sua jaqueta era boa contra impactos - não tanto quanto as militares dos exércitos paraquedistas antisseparatistas -, quebrou apenas três costelas, ao invés de todas. Já estava acostumada de enfrentar homens, mulheres e as linhas entre eles maiores do que ela, mesmo que apanhando a maioria das vezes. Respirou, e ligou a interface do veículo logada em sua conta da Glasses, pedindo um cachorro-quente baiano e uma garrafa de vinho pelo "Feed4Net", os brasileiros fazem os melhores, ela pensava.

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