⚪ t h r e e

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⤵⤵⤵⤵

Eu não quero estar aqui
Tão preso por dentro
Diga-me há quanto tempo estou aqui?
Estou perdendo a noção do tempo

⤴⤴⤴⤴

v i c t o r i o u s

Hikari sorriu levemente para o paciente a sua frente, uma menina de 10 anos que chegou a emergência com uma obstrução intestinal. A cirurgiã Pediátrica, assim como ela mesmo passaram mais de 6 horas em cirurgia, tentando salvá-la.

Depois de muito tempo e esforço, ambas conseguiram salvar a menina que agora descansava em seu quarto.

Sua respiração estava tranquila, culpa da sedação em que ela ainda se encontrava. Os pais estavam sentados ao lado da cama, com uma expressão de desespero. Expressão essa, que Hikari costuma ver todos os dias em seu trabalho.

— Doutora Sato. — A pediatra entrou no quarto sorrindo. — Foi um ótimo trabalho lá, a forma como conseguiu conduzir a situação e parar a hemorragia... Eu não sei se teria tanto talento para isso. Obrigada.

Hikari largou o prontuário nos pés da cama em que a criança estava e caminhou até a porta, ficando ao lado da outra médica que sorria com carinho ao ver os pais cuidando da menina recém operada.

— É o meu trabalho no fim das contas.

— Mesmo assim, se não fosse por você essa menina teria morrido naquela mesa... Obrigada!

— Não me agradeça, eu só fiz o meu trabalho. — Hikari sorriu levemente antes de sair para o andar pós operatório.

Ela tinha muitos pacientes para visitar, fazer exames e ainda tinha um paciente fugitivo do qual precisava estar de olho o tempo todo.

A médica confiava totalmente em Hanami para estar de olho em seu paciente problemático, mas ela jamais colocaria tanta responsabilidade sobre a mulher que considerava uma mãe.

De quarto em quarto, Hikari passou conversando com seus pacientes, ouvindo reclamações, elogios, marcando exames e observando os detalhes de cada prontuário. Ela amava seu trabalho, mas não podia negar o quanto estava exausta com tudo.

Quando saiu do último quarto, a morena suspirou profundamente e caminhou a passos largos para a área restrita do hospital.

Manjiro estava sentado em sua cama, observando o sol pela grande janela do quarto. Ele mal sentia dor devida as diversas medicações, mas se recusava a dormir. Uma parte de si ainda lembrava que ele era um criminoso procurado e não devia baixar a guarda em momento nenhum.

— Vejo que não consegue dormir. — Com a voz repentina Mikey se virou para encontrar a mulher parada na porta usando um uniforme azul escuro sob seu jaleco branco.

— Não constumo dormir muito. — Ele respondeu com a voz cansada.

A verdade é que toda a vez que fechava os olhos, os pesadelos o assombravam. A morte de Baji, Izana, Emma... Todas vinham ao mesmo tempo, tornando impossível relaxar e dormir.

Esse era um fardo que iria carregar até o último dia de sua vida, e ele gostaria de poder mudar tudo. Salvar seus irmãos, seus amigos... Mas era muito tarde pra isso.

— É uma pena, já que sua recuperação não vai ser a das melhores se não descansar. — Hikari falou seriamente antes de sentar na poltrona ao seu lado e começar a ler seu prontuário.

Hanami a conhecia muito bem, sabia da forma como ela gostava de ter seus prontuários revisados e nunca teria uma reclamação sobre o assunto. Cada medicação feita nas últimas horas estava listada de forma clara, para não haver nenhum tipo de dúvida.

— É difícil descançar... - Mikey falou baixinho, ele não queria que ela escutasse, infelizmente para ele, Hikari escutou e franziu as sobrancelhas.

— Por que diz isso?

Mikey a encarou pensativo, uma parte de sua mente gritava para ficar quieto e a ignora-la, a outra dizia que ela poderia ajuda-lo. Porém, quem iria ajudar o líder da bonten? Por que alguém faria isso?

— Eu perdi todos que amava... - Mikey falou com relutância.

— Sabe... Todos perdemos pessoas importantes, seja um amigo, um irmão... Pais... Todos um dia vão passar pela dor de perder alguém que ama de verdade. A questão é, você vai deixar isso te afetar para sempre?

— Como não deixar quando não se tem mais ninguém?

Hikari o encarou antes de sorri com cuidado.

— Eu não te conheço o suficiente para falar isso com convicção, mas no pouco tempo que passamos juntos eu notei que o Senhor tem sim, pessoas que ainda se importam. Você pode ser um criminoso procurado, mas seus amigos te abandonaram por isso? Ou você se afastou tentando lidar com a dor sozinho? - Hikari o questionou lembrando da ligação e das ameaças que recebeu antes de leva-lo para o hospital. — O pouco que eu notei, você tem parceiros que se importam o suficiente com você, a questão é, você percebe isso? Ou simplesmente se afasta de tudo?

— Eles tem medo de mim, por isso agem desse jeito.

— Medo? Pode ser, só que isso não muda o fato deles se preocuparem, você só precisa se dar uma chance de sentir e viver novamente.

— Você não entende o que eu sinto.

— Eu perdi meus pais num acidente de carro quando tinha 5 anos. Fui mandada para um orfanato, depois de 3 anos fui adotada por um casal, que pareciam muito legais... Eles tinham um filho que se tornou tudo pra mim, ele era meu irmão, mesmo não sendo de sangue eu o amava. A família que me adotou era uma verdadeira merda, eles abusavam de mim e de seu filho todos os dias... Até serem mortos por um grupo, um grupo para quem deviam muito dinheiro. — Hikari falou levemente ao notar os olhos arregalados do platinado na cama. — Depois disso, eu fugi com meu irmão, ele tinha 3 anos na época, eu comecei a trabalhar em bares para conseguir comprar comida, vivíamos nas ruas, rezando para acordarmos no outro dia... Mas um dia meu irmão não acordou, era um dia muito frio e ele desenvolveu uma pneumonia grave... Eu não tinha dinheiro para pagar o tratamento... Então ele sofreu... Até que um dia não acordou mais...

— Eu sinto muito... — Mikey falou enquanto sentia sua dor.

— Eu tinha 11 anos quando ele morreu e depois disso, eu comecei a estudar, me formei e estou aqui. Eu não tive amigos durante minha adolescência. Durante meu internato eu era rejeitada por ser a órfã e bolsista... Eu lutei muito para conseguir tudo que tenho... E apesar de estar sozinha na maior parte do tempo eu não desisti. Eu sei que está sofrendo, eu posso ver nos seus olhos, mas agora... Eu estou aqui e eu não vou sair do seu lado.

As palavras o chocaram, ele não sabia como reagir.

Ele não sabia o que falar.

Mas algo dentro de si, aos poucos começou a se aquecer.

V i c t o r i o u s - Manjiro Sano [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora