Rouxls e Josuke, as Empreguetes

20 1 1
                                    


ROUXLS era um copo cheio de estresse. Com apenas 25 anos, ele tinha a aparência surrada de quem foi atropelado por um trem e mais impaciência do que tinha de horas de sono. Ele trabalhava como empregada doméstica na casa de Ash Ketchum — o (mal) amado Prefeito de Acerolinhas — e ali ficava o dia inteiro varrendo e passando pano, com uma cara de cu. A marca registrada de Rouxls era seu uniforme: um vestido preto na altura do tornozelo, cheio de enfeites e tecidos brancos, que combinavam bem com os seus cabelos pálidos. Por causa dessa roupa, alguns engraçadinhos lhe deram o apelido de Rouxls Maid.

Acontece que Rouxls nem sempre foi tão amargo. Ele era uma pessoa muito determinada, e jamais se desanimou com as limitações que tinha por ser de família pobre. Desde a adolescência, ele fazia bicos pela cidade para um dia poder realizar o seu maior sonho: construir uma lan house. Porém, a vida é uma caixinha de supresas: todas as lan houses da cidade faliram, acabando de vez com seus planos. Rouxls arrumou uma meta nova, criar um jogo indie, mas a arrecadação é proibida em Acerolinhas, porque a prática é vista como um ato de extrema vagabundagem. Por isso, ele foi obrigado a aceitar a vaga mais degradante do momento: trabalhar na casa do prefeito.

Ash Ketchum agia como um líder solidário na frente do povo, mas era justamente o contrário quando estava sozinho. Tratava os subordinados como se fossem escravos. Era impossível contar quantas vezes ele derramou ou quebrou coisas de propósito para que Rouxls limpasse, viu defeito até onde não havia e o forçou a recomeçar o serviço, além dele sempre arrumar desculpas para atrasar o salário da empregada. Trabalho assim acabaria com o espírito de qualquer um. 

Rouxls toda noite voltava para seu apartamento morrendo de raiva, só encontrando consolo no seu sofá e sua novela favorita, "Telebattle 17", apenas para que a desgraça continuasse no dia seguinte. E por anos, a sua vida foi assim.

Um dia, o prefeito Ketchum contratou um jovem de 19 anos chamado Josuke. Sua personalidade muito diferente da de Rouxls: era um garoto energético, vaidoso, que ficava sempre com a cara na rua e frequentemente se metia em encrencas. Vivia com a mãe em uma casinha humilde, no início do Morro do Guaraná. Para os amigos, era um cara maneiro que nunca decepcionava. Para a mãe, era um desocupado irresponsável que só servia pra dar prejuízo, tanto que ele só aceitou virar empregada para não ser expulso de casa.

No começo, Rouxls e Josuke eram como cão e gato, mas havia uma coisa que os uniu: o ódio mortal que ambos tinham por Ash Ketchum. Quando o patrão não estava em casa, eles se reuniam para xingá-lo por trás das costas e rir dos absurdos que ele dizia diariamente. Com o passar do tempo, eles começaram a abordar mais assuntos durante essas "reuniões", indo de comentários sobre a vida até programas favoritos e fofocas dos seus respectivos bairros. A partir daí, Rouxls e Josuke viraram uma dupla inigualável, e sua amizade lhes garantiu certa fama entre os trabalhadores do local.

Mas a maior proeza desses dois ainda estava por vir.


Certa manhã, Rouxls encerava o chão da sala com seu mau-humor costumeiro, até que ele escutou um berro familiar vindo da lavanderia. O sujeito largou o rodo e disparou para o outro lado da casa, temendo que algo terrível tivesse acontecido com Josuke. Chegando lá, a empregada viu que o problema não era um ladrão ou defeito na máquina, mas uma descoberta inusitada: as calças, as jaquetas e cuecas do prefeito estavam abarrotadas com uma quantidade inacreditável de dinheiro. Os buracos das roupas sujas estavam superlotados, parecendo que iriam explodir. Era uma visão tão anormal que chegava a ser ridícula.

— Mas o quê? Nem fudendo! — Rouxls proclamou.

Josuke virou algumas calças ao contrário, revelando mais dinheiro escondido. Dezenas de cédulas caíram ao chão. Ele adicionou, — Tem notas de outros países. Olhe só, dólares, bolívares, pesos... — pegou um maço para demonstrar. — Tem até kwanzas.

LALAVERSO: Crônicas sem sentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora