0 - INTRODUÇÃO PARA O LALAVERSO

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Várias coisas são consideradas impossíveis. Muitas vezes pelas leis da natureza, às vezes pelas leis humanas que comandam a todos nós, e a maioria são impossíveis simplesmente pelo bom e velho senso comum. 

Joga isso tudo no lixo, esquece.

Toda regra tem sua exceção, e a exceção de todas as regras é o lugar onde se passa a história. Essa anomalia se chama Lalaverso.

Aqui você encontrará de tudo, por bem e por mal. Na dúvida, queime esse livro.

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Tudo começou no século XYZ, quando Cebolinha parou de tentar virar dono da rua e decidiu irritar sua rival com outra arma: a inveja. Ele partiu o chão com uma vareta e declarou que seria um rei muito melhor do que a Mônica, e que teria muito mais do que uma mísera rua. É claro que sua jornada começou quando uma coelhada o tacou pra fora do Bairro do Limoeiro.

Estava travada então a disputa do século. Por 15 anos, ele e sua trupe viajaram pelo Bostil em busca do vale mais bonito do morro mais alto da grama mais verde, tudo para enfurecer a dentuça. Porém, eles não tiveram sucesso, e depois de tanto tempo viajando estavam todos exaustos e desanimados, prestes a desistir dessa missão.

Acontece que a esperança é a última que morre, e Cebolinha e seus homens se finalmente se depararam com o lugar dos sonhos. Enquanto atravessavam a Serra da Manga, eles encontraram uma vasta planície, onde os morros eram quase verticais, o mato alto parecia a Floresta Amazônica e os piolhos eram piolhos-de-cobra. 

— Nossa, que lugar hololoso.

Cebolinha disse que esse era buraco mais lindo desse mundo, e ali estabeleceu suas colônias, fundando o Leino da Jilipoca. 

Ainda que Mônica nunca ouvisse falar do reino e das suas conquistas (já que na época atravessar a Serra da Manga já era milagre, imagina voltar dela), Cebolinha foi um homem relativamente feliz e se orgulhava do seu pedaço de chão.

Após 40 anos de carreira política, o rei morreu num trágico acidente de bicicleta. Dias depois, o tropeiro Carlos Roberto funda a cidade de Acerolinhas, o primeiro município não-nomeado por Cebolinha e logo o primeiro que continha a letra "r". Esse batismo quebrou o padrão de nomes geográficos do reino, amaldiçoando Acerolinhas para sempre.

Os próximos contos girarão em torno dos cidadãos que tiveram o azar de existir em Acerolinhas, e irão focar nos dramas de cada um e como estes se encaixam na gigantesca teia do caos desse lugar.

LALAVERSO: Crônicas sem sentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora