mr. zero

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Uma onda estava em progresso no Yankee Stadium. Ela passou por toda a extensão do estádio, e então passou por S/n e Jess - a melhor amiga dela. As duas estavam sentadas no segundo deck, cercada de fãs dos Yankees, e no meio da onda as duas foram as únicas que não participaram.

Jess parecia chocada demais para sequer levantar, e S/n estava triste demais para até mesmo pensar em fazer isso.

Além de que elas não eram grandes fãs dos Yankees, apesar de gostarem de Baseball. A coisa é que S/n precisava espairecer, Jess tinha entradas para o jogo daquela tarde, então parecia uma ideia boa sair de casa e se enfiar no meio de milhares de fãs malucos de Baseball.

As duas estavam usando jaquetas corta-vento e jeans, porque era outono e o clima estava se voltando para um frio quase desconfortável. 

S/n estava usando preto dos pés à cabeça - refletindo perfeitamente a energia dela naquela tarde - e Jess estava com jeans numa lavagem mais clara e jaqueta num tom bem leve de rosa, a jaqueta aberta mostrando a camisa branca simples por baixo.

S/n parecia bem desapontada - o que era o esperado - o olhar sem ânimo, e Jess a encarou por alguns segundos antes de perguntar:

— Quando aconteceu?

— Sexta-feira. Harley chegou em casa, ela disse "Eu não sei se quero me casar", você sabe, como se fosse uma instituição, como se não fosse nada pessoal, como se ela estivesse pensando sobre isso de um jeito casual, algo como "eu queria me casar, agora não quero mais". Eu estava calma, eu disse "Por que você não pensa melhor a respeito disso? Tira um tempo, não apresse essa decisão" ela não falou mais nada, ela apenas balançou a cabeça concordando e foi se deitar, e eu dormi na sala para dar espaço para ela. No outro dia ela disse que queria tentar abrir nosso relacionamento, como se fosse simples, ela comentou isso enquanto tomávamos café, algo como "nós podemos sair ainda mas vamos ver outras pessoas", quero dizer, vamos lá... Eu entrei em uma relação séria justamente para parar de sair em encontros, para que eu não precisasse mais pensar aonde esses "encontros" me levariam. E qual o ponto de abrir a relação se você ama alguém, se você ama alguém você não quer abrir o relacionamento, você quer a pessoa para si. Foi por isso que eu perguntei "Você não me ama mais?" E ela respondeu da maneira mais calma do mundo, como se aquilo não fosse me doer, ela disse "Sendo sincera, acho que nunca te amei".

Outra onda correu pelo estádio e dessa vez Jess e S/n a acompanharam, levantando as mãos mas mantendo a expressão séria no rosto.

— Isso é insensível — Jess comentou quando elas se sentaram.

— Obrigada, Jess. Sim, isso é muito insensível.

— Não, eu sou uma escritora, eu sei sobre diálogos, e isso foi bem insensível.

— Pois é, e então ela disse... Ela disse que encontrou alguém, um cara que trabalha com ela, ele é Argentino e veio para cá, para ficar por alguns meses. Ela disse que poderia ficar no apartamento dele até resolvermos tudo e eu só conseguia pensar "Eu não acredito que isso está acontecendo, não acredito", e então a campainha tocou, foi tudo muito rápido e eu só conseguia ouvir "Eu posso ficar no apartamento dele", as palavras na minha mente, ainda no ar, as palavras ali como se fossem um balão conectado a boca dela. 

— Como uma história de quadrinhos.

— Exatamente. E aí eu fui até a porta, eu abri e os caras da mudança estavam lá, do nada. Aí eu comecei a pensar "Quando ela chamou esses caras? Meu Deus, estávamos conversando" e eu perguntei... Eu perguntei quando aquilo tinha acontecido. Ela não me respondeu, eu fiquei irritada. Então eu olhei para aquelas pessoas na minha porta e perguntei sem direção alguma "Quando ela agendou isso?" e aí esse cara gigante e assustador, usando uma camisa escrito 'não mexa com o Mr. Zero' apenas deu de ombros como se não fosse importante mas para mim era, por isso eu perguntei de novo, dessa vez para ela, eu perguntei "Quando você agendou isso?" e ela respondeu "Uma semana atrás" e eu disse "Você sabia disso há uma semana?" ela sabia há uma semana e não disse nada e então ela comentou "Eu não queria estragar o seu aniversário". Mas ela estragou.

Uma terceira onda passou pelo estádio, e mais uma vez Jess e S/n se levantaram com as mãos para o alto. 

Quando elas voltaram a se sentar, Jess perguntou:

— Você tá dizendo que o grandão com a camiseta do Mr. Zero sabia disso antes de você?

— Mr. Zero sabia de tudo — S/n balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Deus... — Jess suspirou impressionada.

— E eu nem te contei a parte ruim — S/n falou.

— O que poderia ser pior que isso?

— Era tudo mentira. A coisa de "acho que não quero me casar" "vamos abrir o relacionamento", tudo mentira. Ela se apaixonou pelo Argentino, ela não estava disposta a manter uma relação, ela não ia ficar com ele só até resolver tudo, ela vai morar com ele e eles vão se casar. Eles planejaram tudo, eles vão se casar. Ela está usando essa aliança enorme no dedo e quando eu a pedi em casamento ela disse que odiava essas coisas, que não gostava de nada caro e enorme e agora ela está com a desgraça de um anel da Cartier no dedo.

— Como você descobriu isso?

— Eu a segui até o prédio do Argentino e falei com o porteiro, aquele cara sabe de tudo.

— S/n, isso é... Isso é humilhante — Jess disse, sincera.

— Eu sei, Jess. Eu estava lá, parada do outro lado da rua, se estivesse chovendo seria cena de filme...  E aí eu vi eles entrando e fui conversar com o porteiro. O pior é que eu sabia que isso aconteceria. O tempo todo, eu sentia que mesmo parecendo estarmos felizes não estávamos, era tudo uma ilusão e um dia ela me deixaria. No fim aconteceu.

— Casamentos, namoros, noivados não acabam por infidelidade, isso é só um sintoma de que algo não está certo — Jess comentou. Ela lia muito, e mesmo não tendo tanta experiência com relacionamentos ela já tinha visto aquilo em algumas obras. Parecia algo bom para se falar.

Mas não era realmente.

S/n revirou os olhos.

— Bem, esse "sintoma" está fodendo a minha noiva- ex, minha ex-noiva. 

— Pelo menos você ficou com o apartamento — Jess deu de ombros.

— Bem, levando em conta que eu comprei a merda do apartamento eu acho que isso era o mínimo.

— Eu só estou dizendo... Nem tudo é ruim.

— Oh, é... Claro. Poderia ser pior.

— Sempre pode.

Satellite • Sadie SinkOnde histórias criam vida. Descubra agora