A última dança

1K 108 133
                                    

Capítulo 36


Para entrar com o processo de adoção de Haru e Jun, Dave foi atrás da melhor advogada que poderia ajudá-los naquela situação. A mulher logo traçou planos para equilibrar todos os pontos negativos — o fato de Dave ser um homem solteiro perante à lei e ainda não estar formado na faculdade. Aquele plano acabou não sendo apenas bom para as duas crianças, como também para que Dave parasse de empurrar os próprios sonhos para debaixo do tapete.

Nos últimos anos, depois que conseguiu juntar um dinheiro quando viajou para o exterior e vivendo em uma casinha pequena e com poucas despesas, tinha a quantidade suficiente para dar os primeiros passos na nova vida. Primeiro, foi procurar por uma nova casa com Niki, uma que fosse grande o suficiente para viverem os quatro. Há apenas duas quadras de onde vivia, uma casa de dois andares, com três quartos e um quintal enorme, estava à venda. A casa precisava de pequenos reparos e uma pintura nova, mas em qualquer outro aspecto, estava perfeita. Os dois começaram a planejar onde seria o quarto deles, o quarto das crianças, o escritório. A advogada sugeriu que eles tivessem o quarto das crianças pronto o mais rápido possível para quando viessem verificar se o lar estava adequado para recebê-los, então os dois foram juntos comprar a mobília, tinta para pintar as paredes, algumas pelúcias fofas e quadrinhos de animais. Eles também compraram algumas roupas, um trocador para Jun, e tudo o mais que fossem precisar por enquanto. Juntos, pintaram o quarto, decoraram e o deixaram pronto, e era estranho fazer isso sem ter certeza alguma, mas sentiam que quanto mais esforço botavam nisso, mais real se tornava.

Aos poucos, seu novo lar começou a ser montado.

Dave também começou a construir a clínica onde iria trabalhar, que seria em sua antiga casa. Queria que tudo estivesse pronto quando se formasse, assim teria uma segunda fonte de renda, além do trabalho que continuaria fazendo no hospital. Sua advogada estava tentando manejar seus horários do melhor jeito possível para agradar ao juiz. A ideia era que Haru iria para a escola pelo horário da manhã, enquanto Niki iria para a faculdade. Nesse horário, Jun ficaria com Dave na clínica onde estagiava, sob os olhares de todos os funcionários do local que tinham concordado em ajudar. No período da tarde, Niki ficaria com os dois em casa e Dave iria para a faculdade, tinha poucas aulas para finalizar e conseguiu todos os horários pela tarde, então quando voltasse teria o resto do dia para cuidar dos filhos. Ele também tinha largado o serviço voluntário para ter o final de semana livre, por isso estava contando que o juiz fosse achar que isso estava bom.

Por fim, a advogada acreditava que eles deviam usar a vontade das crianças a seu favor também. Dave não quis contar para Haru sobre isso, pois tinha medo de iludi-lo com algo que poderia não se tornar realidade. Mas a essa altura do campeonato, quando estavam perto de conseguir, essa jogada podia ser um xeque-mate. Então, numa tarde calorosa de verão, os dois foram até o orfanato para informar a Haru sobre tudo o que vinha acontecendo. Nos últimos tempos desde que foi parar naquele local, ele estava menos sorridente do que de costume, mas a diretora garantia que ambos estavam se alimentando bem, o bebê até tinha ganhado peso. Haru também estava frequentando as aulas e tinha feito amizade com algumas crianças. Não parecia que o orfanato era um lugar terrível, mas também, é claro, não era uma casa.

Haru estava sentado no banco no jardim dos fundos quando os viu chegar. Ele largou o carrinho com o qual brincava e correu imediatamente para os braços de Niki. Dave, como sempre, já tinha roubado Jun do berçário.

— Temos novidades! — Niki falou e sorriu para animá-lo. — Acho que você vai ficar muito feliz!

Devagar e pausadamente, os dois informaram à Haru sobre o processo de adoção dele e de Jun. A princípio, o garotinho não acreditou, ele estava conformado de que se tivesse sorte, um dia alguma família iria adotá-los, mas nunca imaginou que seria as pessoas que mais gostava no mundo a fazerem isso. Por conta da emoção, ele até derramou algumas lágrimas nos ombros de Niki, que o confortou com o abraço. Haru disse que diria ao juiz que queria ficar com eles para sempre, que os amava, que era seu sonho viver ao seu lado.

SparksOnde histórias criam vida. Descubra agora