she drives me crazy

7

Rosamaria me busca às 7h22 na segunda de manhã. Eu sei o minuto exato porque ela me liga três vezes seguidas enquanto estou secando o cabelo.
— Eu tô indo! — grito no telefone.
Ela estala a língua e desliga sem falar uma palavra.
Quando chego à calçada, há uma complicação não planejada. Marcela está embaixo do toldo, as chaves na mão, olhando feio para o carro de Rosamaria.
— Er... bom dia — cumprimento Marcela.
— É? — Os olhos dela se estreitam. — Mamãe me disse que eu precisava te dar carona porque o seu carro ainda está no mecânico, mas parece que a Regina George recebeu o mesmo memorando.
Rosamaria nos encara pelo para-brisa. Parece impaciente.
— Achei que eu tivesse dito pra mamãe que eu tinha carona. — Jogo a mochila por cima do ombro, tentando parecer que estou com pressa. — Foi mal por isso, mas não se preocupe, está tudo certo!
Dou um passo na direção do carro de Rosamaria, mas Marcela me puxa pelo braço.
— Você quer me explicar por que a sua arqui-inimiga está te dando carona?
— Hum, é meio complicado, eu te conto hoje à noite...
Ela segura o meu braço mais firme e espera.
Não sei como explicar isso para ela. Eu sabia que teria que convencer a minha família mais do que qualquer outra pessoa que Rosamaria e eu estamos namorando, mas achei que teria mais alguns dias para me preparar para a ocasião. E Marcela é a última pessoa com quem quero começar essa conversa. Ela é perspicaz demais para essa merda.
— Houve um... avanço amoroso inesperado.
Marcela se engasga.
— Com ela? Ela bateu no seu carro semana passada. E você falou que ela fazia bullying com você ano passado.
Eu dou de ombros.
— Perdoar e seguir em frente, né? As pessoas mudam.
— Caroline. Você ficou doida? Essa filha da puta vai te zoar do mesmo jeito que a Ariele.
A porta do carro se abre. Rosamaria dá um passo para fora, tirando os óculos escuros com uma precisão que sugere que ela está pronta para um combate até a morte.
— Oi — ela diz, a voz séria e fria. — O nome dessa filha da puta é Rosamaria.
Marcela se vira nos calcanhares para encará-la. Ela é vários centímetros mais alta do que Rosamaria, mas Rosamaria não se abala e retribui o olhar feio que Marcela está lançando para ela. Eu pairo entre as duas, meu pulso acelerado.
— Então foi você que zoou minha irmã duas vezes , segundo as minhas contas — Marcela diz, a voz perigosamente calma. Ela ronda o carro de Rosamaria, examinando. — Hum. Parece que está novinho em folha. Não seria uma pena se minha mão escorregasse?
Ela ergue as chaves do carro e faz a mímica de que vai arranhar a porta do motorista inteira.
— Marcela, não... — começo.
Rosamaria espreme os lábios.
— Eu mereço. Então se é isso que você precisa fazer, vá em frente.
Ela dá um passo para trás, abrindo o caminho para o carro dela, e meu cérebro entra em curto-circuito. Essa é a primeira confissão de culpa que eu já ouvi dela. Marcela estreita os olhos ainda mais.
— Nós estamos atrasadas — digo, indo na direção do banco do carona. — Marcela, por favor, a gente precisa ir.
— Por que você fez bullying com a minha irmã? — Marcela pergunta.
Os olhos de Rosamaria rapidamente vão na minha direção. Ela tem a boa vontade de parecer envergonhada.
— Eu cometi um erro.
— Um erro. — Marcela ri sem humor. — Bullying não é um erro. Você pediu desculpas?
Pelo jeito que Rosamaria expira, eu sei o quão humilhante isso está sendo para ela.
— Não, não pedi.
Marcela não fala nada por um tempo. Então ergue o queixo e diz:
— Me surpreende que você consiga fazer suas coreografias com essa bunda tão mole.
As bochechas de Rosamaria ficam escuras.
— Estou trabalhando nisso.
Há um silêncio prolongado. Marcela encara Rosamaria diretamente, examinando-a sem pudor. Então se vira para mim. Consigo ver pela curva da boca dela que ela está amolecendo. Por enquanto.
— Você me liga se ela resolver foder com você — Marcela me diz. Ela lança um último olhar mortal para Rosamaria, então passa por nós e volta diretamente para casa.
Rosamaria entra no carro sem mais uma palavra. Eu ainda estou tentando processar o que aconteceu enquanto jogo minhas bolsas no banco de trás. Quando dou uma olhada no porta-malas, tudo parece novinho.