CAPÍTULO 08: Casos de família, Parte 1

251 49 50
                                    

Londres, Inglaterra. 19 de Outubro de 1810.

William nunca foi o que poderia ser chamado de libertino. Não tinha aquela sede insaciável que alguns homens possuíam, sempre sedentos por uma nova mulher, uma nova aventura. Descobriu os prazeres da carne relativamente tarde, aos 20 anos, e desde então, precavido com relação a todos os tipos de varíola das quais já ouvira falar, manteve apenas amantes fixas e exclusivas ao longo dos anos.

E ele nunca havia tomado uma mulher que não desejasse ser tomada. Podia afirmar aquilo com certo orgulho: mesmo suas amantes sendo muito bem recompensadas por seus serviços, havia desejo incluso nos negócios.

E ainda que sua lista de conquistas não fosse tão longa quanto sua posição social poderia pressupor, William costumava pensar que tinha certa experiência com mulheres. Acreditava conhecer muito bem o corpo delas, ser capaz de explorar os mais diversos caminhos até conseguir desvendar o ponto fraco de cada uma. A noite de núpcias com sua esposa o despertou para a possibilidade de estar enganado.

Aquela foi, sem exageros, a experiência sexual mais desagradável de sua vida.

Quando mais novo, durante a época que clubes e jogatinas ainda lhe despertavam o interesse, ele havia presenciado incontáveis homens a se vangloriarem de suas conquistas. Narravam com orgulho e para quem quisesse ouvir a maneira como cortejavam e perseguiam incansavelmente uma garota até que ela cedesse o que queriam, para então usá-la e descartá-la como se não fosse nada. Desvirtuar mocinhas inocentes era uma espécie de esporte para eles.

Mesmo antes, William pensava que aquilo era uma coisa sem sentido e até mesmo repulsiva. Supunha ser quase o equivalente a ir para a cama com uma criança. E depois daquela noite, ele descobriu que tinha estado certo durante todo aquele tempo.

Havia passado todo o período do noivado achando que Isabelle seria diferente daquelas mocinhas a caírem nas garras dos aproveitadores, afinal, ela era bem-nascida. No mundo a que pertenciam, no qual as moças eram educadas desde cedo para fazer bons casamentos e agradar seus maridos acima de tudo, ele acreditava que fossem agraciadas com mais informações.

Quando a viu chorando, achou que aquela frustração fosse o sentimento mais amargo que iria experimentar naquela noite. A decepção era muito pior.

Sabia que grande parte da culpa era sua, uma vez que fora ele mesmo quem alimentou expectativas extremamente altas para aquela noite. Mas como poderia não alimentar? Era a primeira vez que dividiria a cama com alguém por quem nutria algum sentimento. Talvez estivesse sendo um tolo romântico, mas esperava sentir aquela completude que só havia visto no mundo dos livros.

A realidade tendia a ser decepcionante.

Para começar, pela primeira vez em quase 28 anos ele havia conhecido a sensação de ir para a cama com alguém que não queria. Aparentemente não era possível despertar o desejo em uma pessoa que simplesmente. Não. Está. A fim.

E aquela nem era a pior parte. Por mais prepotente que pudesse parecer, a pior parte, realmente, era ser um homem supostamente maduro e experiente e ter se permitido manipular tão facilmente por uma garota de 18 anos. Era isso o que feria o seu orgulho, reduzia-o a cinzas.

Ele não era um canalha. Estava perfeitamente disposto a adiar aquele momento pelo tempo que fosse necessário, se ela assim o quisesse. Mas não, a diabinha ardilosa achou mais vantajoso fingir que estava pronta. E ela o enganou direitinho. Talvez tivesse imaginado que conseguiria manter a farsa. Não conseguiu.

Como poderia? Santo Deus, a garota não sabia nada.

O sol já tinha nascido e William não pregara os olhos. Sua cabeça latejava tanto que parecia prestes a explodir, apenas um indicativo de que aquele seria um dia longo. Não era assim que tinha imaginado o seu primeiro dia como casado.

Com amor, IsabelleOnde histórias criam vida. Descubra agora