CAPÍTULO 08: Casos de família, Parte 2

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Isabelle estava sentada diante da penteadeira. Enquanto uma criada fazia um penteado em seus cabelos, ela olhava para o próprio rosto e aproveitava o silêncio para refletir a respeito de todas as novas percepções que haviam lhe ocorrido naquela noite.

Sentia-se diferente. Sabia que, racionalmente falando, não era possível que uma pessoa sofresse tamanha mudança em um espaço de tempo tão pequeno, mas era como se sentia. E existiam alguns motivos para isso, na verdade. Para começo de conversa, ela tinha ficado nua na presença de um homem. Ela tinha visto um homem nu. E por último, e talvez o mais importante, tinha sido tocada em locais onde nem ela própria possuía liberdade para tocar.

Como era possível que algo daquela natureza ocorresse desde os primórdios da humanidade e ela tivesse sido mantida ignorante a respeito por toda a vida? Ou talvez só não estivesse prestando a devida atenção. Era tão óbvio, esteve ali o tempo todo, era apenas questão de associar a extensão existente na parte inferior da barriga dos cães ou dos cavalos, por exemplo, e teria uma razoavelmente decente da anatomia masculina. Ou se tivesse associado a maneira como os cães costumam se debruçar sobre o outro, talvez teria uma pequena noção do que ocorre entre homem e mulher.

Mas ela nunca foi muito atenta ao mundo animal, e em todas as vezes que viu aquilo acontecer, tinha no máximo achado inusitado. E só naquele momento passou a fazer sentido que os mais velhos sempre a tivessem mandado sair do local...

Ela sacudiu um pouco a cabeça, tentando organizar os pensamentos — e bagunçando parte do trabalho da criada no processo.

Queria ter sabido mais a respeito daquilo antes de sua noite de núpcias, teria evitado que se sentisse tão terrivelmente tola no curto período que durou. Mas era compreensível que não soubesse. A sociedade como um todo demonizava até o mais inocente dos toques, como ela poderia imaginar que algo daquela espécie ocorresse quando ninguém estava olhando? Então todo o recato e pudor que tinham lhe sido ensinados a vida inteira deveriam ser descartados quando estivesse a sós com o marido?

— Está pronta, Vossa Graça — anunciou a criada, Minna, dando um passo para trás e guardando as mãos nas costas.

Isabelle, assentiu, respirando tão fundo que os seios inflaram e seus olhos recaíram sobre o decote. Não entendia como não tinha reparado naquele detalhe ate então.

— Acha que devo trocar o vestido? — perguntou, incerta.

Minna estranhou a pergunta.

— Por que haveria de trocar, milady?

Isabelle voltou a olhar para o vestido verde. Aquele era, sem sombra de dúvidas, o traje mais adulto que tinha usado em toda a sua vida. Chegava a ser vulgar a maneira como os seios se insinuavam sobre o decote. Ela só podia estar bêbada no dia em que a costureira fez os ajustes finais.

— Não acha que está um pouco exagerado? — respondeu, fazendo um gesto vago em direção ao busto.

— A senhora é uma mulher casada — observou a criada, com toda a naturalidade. — Mulheres casadas têm total liberdade para exagerar um pouco no decote.

Ela tinha alguma razão. Ao pensar em todas as senhoras, sobretudo as viúvas, que costumava ver nos bailes que frequentava, Isabelle já nem achava aquele traje tão extravagante assim. Entretanto, quanto mais se olhava no espelho, mais se convencia de que aquilo não era uma boa opção. A Isabelle que conhecia usava cores mais claras e modelos menos justos, mais decentes, e já haviam sido mudanças demais para um único dia.

— Além do mais... — continuou Minna, sugestivamente, ao perceber que a nova patroa estava a um passo de despir o vestido e atirá-lo nas chamas da lareira. — Essa é a cor favorita do seu marido.

Com amor, IsabelleOnde histórias criam vida. Descubra agora