CAPÍTULO 02: Desavenças

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Londres, Inglaterra. 28 de Julho de 1810.

Faltavam apenas alguns minutos para o jantar quando suaves batidas ecoaram à porta do escritório de Enrico. Aquilo acontecia com tanta frequência que ele era capaz de saber de quem se tratava simplesmente pelo número de batidas e pela delicadeza com a qual eram realizadas, então autorizou-lhe a entrada no mesmo instante.

A porta abriu-se, emoldurando a graciosa imagem da mais nova Condessa de Greenshire, só cabelos louros, olhos azuis e sorriso amável. Ela encontrou o marido sentado atrás de sua mesa a estudar um documento, tão compenetrado que sequer levantou os olhos.

Stella fechou a porta e caminhou elegantemente até ele, dando a volta na cadeira e parando às suas costas. Ela envolveu as mãos em seus cabelos escuros, iniciando uma carícia suave e sentindo-o relaxar sob seu toque no mesmo instante. Espiando por cima de sua cabeça, a condessa pôde ver que ele estudava o contrato matrimonial que o duque o enviara dias antes.

— Não sei se aprovo o que está fazendo com essa moça, Enrico — declarou, e aquilo era um verdadeiro eufemismo uma vez que ambos sabiam que ela não aprovava nem um pouco. — Um casamento de Isabelle com o outro rapaz já era esperado. Perdi a conta de quantas vezes fui abordada por outras senhoras perguntando quando seria realizada a cerimônia.

Em primeiro momento, o conde se manteve imóvel. Stella começava até a desconfiar que não prestara atenção em suas palavras, mas então ele soltou um longo suspiro.

— Senhoras no mínimo desinformadas, suponho — comentou, fazendo pouco caso. — Achei que era de conhecimento geral o fato de eu e meu irmão não nos falarmos.

— Estou falando sério, Enrico — ralhou Stella, tentando soar mais severa. — Você pode estar condenando essa moça a uma vida miserável.

— Não acha que pode estar sendo um pouco injusta comigo? Nós também fomos unidos por um casamento arranjado e hoje somos felizes.

— Você sabe muito bem que não foi um mero casamento arranjado o responsável por nos unir — a condessa retorquiu, mas embora parecesse uma resposta grosseira, o fato de nunca ter parado as carícias nos cabelos do marido somado ao tom naturalmente gentil com o qual costumava falar fazia parecer apenas um comentário aleatório, frívolo. — E, à propósito, por que eu sinto do fundo do coração que você não arranjou esse casamento com o intuito de fazê-la feliz?

Enrico tornou a suspirar. Odiava que Isabelle houvesse entrado em sua vida havia menos de dez dias e já estivesse sendo motivo de desentendimentos com Stella.

— Sabia que eu senti muito sua falta nessas semanas em que esteve ausente? — murmurou ele, galante, tomando-lhe uma das mãos e levando-a aos lábios para depositar um beijo terno contra a palma macia. Àquela altura já nem se lembrava do contrato matrimonial sobre a mesa.

Um sorriso bobo foi desenhado no rosto bonito da condessa.

— Mas foi você quem sugeriu a viajem, meu amor — ela argumentou, inclinando-se para cheirar os cabelos dele e aproveitando para plantar um beijo ali. — E até disse na carta que eu não devia antecipar a data de retorno em razão dos últimos acontecimentos.

— E não devia mesmo, mas isso não anula a saudade que senti.

— Ah, Enrico — murmurou Stella. — Não pense que ainda não percebi sua tentativa fracassada de fugir do assunto.

Com amor, IsabelleOnde histórias criam vida. Descubra agora