Eu caminhei até a gaveta do meu guarda roupa, a gaveta esquecida, aquela que eu não abria nunca.
Estava lá a foto que Thales tirou nossa, sem a minha autorização, a única. Se eu soubesse como tudo iria terminar, teria aceitado tirar várias fotos.
Ele beijava meu rosto da imagem e eu fazia uma careta, lembro que ele babou no meu rosto quando me beijou e eu surtei.
Nossos dias depois daquele foram perfeitos, cheio de amor e carinho, ele me chamava de nervosinha e às vezes me provocava para me ver brava. Eu segurei a corrente que ainda estava em meu pescoço e apertei, minha vista ficou embaçada pela lembrança triste.
Eu me lembro perfeitamente...
Estava observando a água que caía da pequena cachoeira. Era bonita, eu me lembrei de dormir sobre o peito de Thales ouvindo aquele barulho, a lembrança daquela noite me fez corar. Eu cheguei o sol estava alto e ganhei uma bronca da minha irmã por ter mentido para família toda para acobertar minha fuga.
Eu senti um par de braços me envolver de forma carinhosa, respirei profundamente e senti o cheiro de Thales, eu reconheceria seu cheiro em meio a uma multidão de perfumes, o cheiro dele era único. O cheiro dele estava em minha roupa, em meu corpo, em minha alma.
Ele beijou meus cabelos carinhosamente, eu suspirei, senti meu corpo relaxar ao seu toque, ficamos em silêncio por um tempo.
— Senti sua falta. — Ele sussurrou perto do meu ouvido, sua voz era uma melodia.
— Sabe que nos vemos todos os dias.
— Cada segundo sem você me parece uma eternidade.
Eu me virei e olhei pra Thales, eu deitei minha cabeça em seu peito, ouvia seu coração bater como a mais bela sonata de Beethoven, eu fechei meus olhos e respirei fundo, me senti embriagada pelo perfume de Thales, estávamos juntos e nada podia ser mais perfeito.
Thales estava calado, parecia triste e melancólico.
— Nervosinha — eu levantei os olhos e o encarei, seus dedos percorriam meu rosto — eu vim me despedir de você.
Eu olhei em seus olhos, procurei um sinal de brincadeira, então eu entendi que nós iríamos nos separar.
isso já era de se esperar mas tinha apagado aquilo da minha mente, do meu coração.
— Preciso voltar pra casa, quer ir embora comigo? — Ele beijou minha testa e me abraçou
— Você é muito bobo — Eu suspirei, era algo totalmente impossível, éramos jovens e ainda dependíamos de nossos pais.
Thales engoliu seco, eu pude sentir. Meu coração se apertou, ele realmente ia embora, não era uma simples brincadeira, amanhã ele não estaria aqui.
Ele deu um passo pra trás e tirou uma corrente de estrela de seu bolso, algo simples, bobo, banal que poderia ser encontrado em qualquer lugar, mas aquilo se tornaria tudo pra mim. Ele segurou no ar e eu pude ver a estrela
— é pra você, sou eu. Serei sua estrela.
Ele parou atrás de mim e colocou o colar em meu pescoço, o frio do pingente me tocou. Ele me abraçou, seu rosto se escondeu entre meus cabelos, naquele momento eu não sabia, mas depois eu descobri ele estava chorando e não queria deixar eu me virar, não queria que eu visse suas lágrimas.
Minha visão também estava embaçada.
Foi um longo tempo que ficamos assim, muito tempo, na verdade no relogio comum foi pouco, na minha mente foi um momento mais longo e doloroso da minha vida.
— Você vai me ver — Thales forçou a risada — me ver no cinema quando eu for famoso?
— Eu prometo que vou sempre te ver no cinema.
Nossas mãos se tocaram, nossos dedos se entrelaçaram e nossos lábios se uniram. Foi um beijo molhado, molhado pelas nossas lágrimas, um beijo carregado do amor da juventude e a tristeza da despedida.
Naquele momento eu entendi que ele não iria mais voltar, que meu primeiro amor estava partindo.
𝓹𝓪𝓵𝓪𝓿𝓻𝓪𝓼: 637
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Eu vejo você
Romance𝓼𝓲𝓷𝓸𝓹𝓼𝓮 Você consegue manter uma promessa? As vezes arrancar a pagina da dor de um amor é fácil, mas não foi esse o caso. Todos os anos pacientemente ela mante sua promessa e ele cumpriu a sua missão. O que o destino reserva para duas pessoa...