— Muito obrigada pela gentileza de pagar o meu salário — debochei uma última vez antes de sair da loja.
Meu chefe me deu uma olhada feia, como se avisasse que não toleraria meu sarcasmo por muito mais tempo. Eu sabia que era só questão de tempo até ele me mandar embora, então não estava economizando nas provocações. Ele não poderia me demitir até pagar tudo o que me devia, pelo menos.
Saí da loja de artigos esportivos praticamente batendo os pés, mas tentei não parecer péssima na frente dos clientes. Com a mochila nas costas e os fones no ouvido, saí do meu local de trabalho e comecei a caminhar pelas ruas agitadas.
Era um emprego de meio período que até pagava bem se comparasse com a média geral. Bom, pelo menos deveria pagar, mas a verdade era que eles mais atrasavam salários do que enchiam os galões de água dos bebedouros, o que tornava todos os benefícios inúteis, visto que a empresa de energia não se importava se eu estava com o salário em dia ou não.
Meu estômago roncou e eu senti um cheiro tão gostoso de curry que quase me convenci a comprar um pouquinho. Infelizmente, precisei me lembrar que eu não sabia quando o infeliz do meu chefe me pagaria novamente, e eu precisava colocar todas as minhas dívidas em dia.
Esperava parada no ponto de ônibus quando senti alguém puxar o fio do meu fone.
— Olha só, se não é a menina que perde isqueiro — a voz grave, porém brincalhona de Draken soou ao meu lado, me fazendo olhar para ele.
— Olha só, se não é o cara sinistro que abraça estranhos — ele riu e jogou o peso do corpo para uma das pernas, como se tentasse ficar mais confortável.
— Já tá indo pra casa?
— É, eu saio cedo do trabalho.
— Entendi... — ele esfregou as mãos no macacão com os dizeres D&D Motors bordado no peito. — Aí, não quer comer alguma coisa? Naquela noite o papo foi legal, a gente podia conversar um pouco mais.
Praguejei em silêncio. Ele era tão gentil que chegava a parecer um crime negar qualquer coisa para ele, entretanto, além do fator "você não pode saber meu sobrenome porque meu irmão cometeu um crime", ainda havia a questão de eu estar quebrada financeiramente.
Meu silêncio enquanto ponderava o fez insistir.
— Tem certeza? O curry daqui é o melhor que eu já provei. Anda, eu pago — aquelas palavras, somadas ao sorriso gentil foram o suficiente para me convencer.
Não quis parecer uma interesseira só porque ia ganhar um almoço grátis, então me fiz de difícil mais uma vez, apenas para que ele insistisse mais um pouco.
Com o plano armado, caminhei para o interior do restaurante junto com ele. Nós dois nos sentamos e eu o encarei. Draken parecia já conhecer o lugar, pois cumprimentou o garçom como se fossem velhos amigos. Ele fez os pedidos e depois começou a cantarolar baixinho o rock antigo que tocava.
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Nothing Left, Draken
Fanfic[Fanfic] [Tokyo Revengers] [Draken] [Angst] [+18] Um desconhecido numa festa. Um almoço gentil. Um assassinato antigo. Ela sabia que não poderia ficar perto dele. Seria um golpe cruel demais para ambos, mas corações partidos e almas carentes se con...