O Livro das Sombras [AU Lumity]

Devil Town

– Amity!

Ótimo, agora além de ser atormentada pelo gostoso das fanfics, possivelmente também tem uma bruxa fazendo projeção astral para dentro dos meus sonhos. Ela nunca disse se era uma bruxa mesmo, mas pela forma que falou sobre aquele livro e os anéis com cristais brutos, ficou bem óbvio que sim.

Acordei exatamente como ontem: com um cansaço do cão e não entendendo porra nenhuma do que havia acabado de acontecer, só lembrando de um rosto e então, o nada. Mas por que Amity dessa vez? Eu estava brincando quando considerei projeção astral, vi isso em uma série uma vez, mas eu descarto mesmo essa possibilidade? Sei que não devo ter causado a melhor das impressões, mas será que foi tão ruim assim que ela decidiu me amaldiçoar? Não que eu acredite em maldições, claro.

– Luz? Cariño, tudo bem? – Escuto uma voz vindo da cozinha, acho que meu susto foi mais alto do que eu percebi.

– Tá, sim! – Berro em resposta, mas conhecendo a minha mãe ela vai precisar...

– Mesmo? Ouvi você gritar, teve um pesadelo? O que é uma Amity? – ...checar.

– Acho que eu só tô um pouco estressada com meu projeto e tal.

– Hum... eu falei pra você pegar leve ­– Ela me fala em um tom de sermão, bem feito pra mim por não ter criado maturidade e ido morar sozinha. Se bem que eu acho que entraria em depressão, minha mãe é minha melhor amiga, eu não sei se hoje conseguiria viver sem ela nas condições em que me encontro: sem mais ninguém. Por mais que eu odeie isso em mim, eu sei que ela gosta de me ter por perto, talvez, de alguma forma, isso só torne tudo mais difícil.

– É, eu sei – Respondo desinteressada encarando meu teto.

– Filha, você não parece bem... vou medir sua pressão e temperatura só pra ter certeza.

Não tenho forças para argumentar, mal consigo apoiar meus braços na cama, está bem pior do que ontem. Será que eu estou doente mesmo? Suspiro e levo minhas mãos até meu rosto, quando sinto uma dor em meus pulsos. Mais hematomas. Mas que merda está acontecendo comigo?! Não tenho tempo de surtar, pois logo a senhora Camila Noceda entra novamente no quarto, igualmente enlouquecida, talvez um pouco mais.

O estereótipo de mãe latina superprotetora nunca foi tão real, somando ao fato de que ela a melhor enfermeira do hospital geral de Gravesfield e por isso pegava tantos plantões. Ela concluir que eu estava com a temperatura altíssima de 37,4 graus Celsius e a pressão perigosamente baixa medindo 110/79 – contém ironia – foi suficiente para eu me encontrar com uma compressa de gelo na testa e recebendo diversos cuidados. Não vou mentir, até que precisava disso.

Apesar de tudo, esse possivelmente está sendo um dos melhores dias da minha vida. Nada de aula, comida na cama, mangás, maratona da quarta temporada de "A Lenda de Korra" por motivos de: Kuvira possua meus sonhos amanhã, por favor. Quando – estava demorando – ela invade meus pensamentos mais uma vez, eu não consigo evitar, começo, de verdade, a acreditar na possibilidade de um feitiço.

Decido – talvez eu me arrependa – procurar por ela na internet. Eu sabia o nome e sobrenome, por que não? Quem sabe eu encontro algo que faça os pensamentos irem embora. Ok, Twitter: nada. Em defesa da menina, ninguém usa seu nome real lá. Sigo com a pesquisa por todas as redes sociais que conhecia, estou com medo de mim mesma, nunca pensei que seria uma stalker. Nada. Nem no Pinterest, quem não usa Pinterest?! Onde ela encontra inspirações para o estilo, então?

Deixo o Instagram por último, por ser o mais promissor. Bingo. Amity Blight. Poucas fotos e menos de cem seguidores. Na biografia: "Esse é o grande segredo, conhecido de todos os homens cultos de nossa época: pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca novo a cada dia." Jogo a frase no Google (nem um pouco stalker). Uau, um livro de fantasia... agora você me surpreendeu, senhorita Blight.