My Alcoholic Friends

46 2 0
                                    

Passei o sábado cem por cento focada no tal Livro das Sombras. Eu estava vivendo em uma bolha, aparentemente. Na internet haviam centenas, se não milhares, de páginas sobre magia real. Não me orgulho, mas foram de onde eu tirei a maioria dos tópicos do que eu deveria anotar.

Fiquei olhando o contato de Amity em meu celular, escrevi e apaguei mensagens tantas vezes que perdi a conta. Enquanto isso, minha caixa de entrada enchia-se com colegas alucinados quanto ao cineclube em Hexside, o qual eu quase esqueci que havia assumido a responsabilidade de coordenar. Ignoro todos.

Voltando ao meu tal "Grimório Oculto", a princípio estava sendo bem simples, mas as páginas em branco atormentavam minha consciência e eu me perguntei se um dia teria conhecimento suficiente para preenchê-las.

Tento não cair em uma espiral letal de pensamentos e apenas escrevo que a sálvia branca deve ser usada na limpeza de ambientes, sonhando com o dia que serei capaz de usar o tal poder de que Amity tanto falava. O poder que me libertou do... íncubo. Que fez Gus saber que eu estive rondando sua casa pouco antes de sermos apresentados, e muito mais que eu ainda não sei.

Fui tirada do meu foco por uma ligação. Quem ainda liga para alguém em pleno 2022?! Era chamada de vídeo, pior ainda. Jurei que era um dos puxa-sacos impacientes da faculdade, mas o pior mesmo estava por vir, o remetente: Hunter. O que ele quer, agora? Fazer eu pagar um ritual com a minha alma não foi suficiente?

– Luz! – A tela movia-se freneticamente e eu só consegui enxergar os cachos brilhosos que reconheceria a quilômetros de distância. Sério, que creme esse garoto usa?

– Gus? – Perguntei tentando decifrar o que a câmera nervosa buscava captar.

– Eu falei pra não ligar, que merda! – Aquela voz agarra minha atenção, e eu sinto um arrepio por toda minha espinha.

– Amity acabou de dizer que você começou os estudos e... Calma aí, porra! – Gus berrava para fora do telefone e eu consegui vê-lo correr para o que parecia ser seu quarto, já que eu nunca tinha visto aquele cenário na casa 667 antes.

– Gus?! Cadê meu celular?! – E acaba de ficar pior, ouço a voz abafada de Hunter como se estivesse bem na minha frente, mas o que diabos tá acontecendo?

– Eu só queria dizer que estou feliz por você, sabia que iria encontrar seu caminho.

– Eu não diria assim, eu só... tô interessada.

– É, tanto faz. Escuta, tá todo mundo aqui, a gente tá bebendo e vendo filme, não quer vir também?

– É quase meia noite.

– Hora das bruxas, ué.

Fico em silêncio contemplando minhas opções. Se alguém me dissesse um mês atrás que eu estaria sendo convidada para sair numa noite de sábado, eu não teria acreditado nem por um segundo. Mas Gus havia se destrancado do quarto e eu pude ver Willow sorrir para mim enquanto levava uma tigela de salgadinhos para a famigerada sala, e lá estavam eles. O Coven. O grupo mais inusitado de pessoas que eu já conheci ou vou conhecer. E eu só consegui pensar o quanto eu, estranhamente, adoraria a companhia deles.

– Hum... esse convite tá vindo só da sua mente entorpecida?

– Claro que não! – Escuto a voz alta, porém quase inexpressiva de Boscha – Vem logo, a gente aproveita e tira suas dúvidas.

– Quem disse que eu tenho "dúvidas"?

– A gente viu você digitando mil vezes no chat da Amity sem mandar nada – Gus se senta no lugar que eu imagino ser seu de costume: no pé do sofá em frente à mesa de centro; e foca a câmera em Boscha, que a encara por mísero segundo.

O Livro das Sombras [AU Lumity]Onde histórias criam vida. Descubra agora