III

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   Respiro com dificuldade enquanto ponho minhas coisas no porta malas da motorista. Entro no carro como se meu corpo pesasse uma tonelada. Se caísse no mar agora, não me encontrariam nunca mais. Meus nervos estavam explodindo. Minhas mãos tremiam, meu estômago tinha dado duzentos nós, uma forte vertigem ameaçava tomar conta da minha cabeça.
    Balanço a cabeça com força. Não. Eu não vou dar a ninguém mais o poder de me abalar... Mas já parecia tarde demais. Pois eu estava abalada. Meus olhos se enchem de lágrimas. Fecho-os encostando minha cabeça no banco.
    Relembro contra minha vontade o encontro que eu não esperava que fosse tão cedo.
     Eu não havia visto a mensagem do meu pai a tempo. Não havia tido a sorte de escapar daquele momento tão temido.
    Ao sair com minhas malas, buscando meu pai com os olhos, já que a Vic tinha me avisado que era ele que me buscaria no aeroporto, sofro um baque quando vejo o motivo de tanto trauma em minha vida. Sorrindo pra mim, com uma plaquinha nas mãos "seja bem vinda".
     O oxigênio parece ser sugado do meu corpo e respirar parecia ser um trabalho muito, muito difícil. Os sons e as pessoas parecem se misturar, tornando borrões coloridos em minha volta. Meu coração batia violentamente contra o meu peito.
    Mas tudo foi de 0 a 100 quando ele deu um passo em minha direção. Meus instintos gritaram. Minha mente disparou alertas vermelhos berrantes em meu cérebro.

— Está tudo bem, querida? Está pálida, venha se sentar — fala com sua voz diabolicamente cínica.

    Dou um passo para trás quando ele se aproxima mais uma vez.

— Fique longe de mim! — falo mas minha voz me trai, ela não sai com tanto ódio como eu gostaria. Não. Eu não posso fraquejar. Eu não sou mais aquela Luane de 18. Não sou!

— Você sabe que eu não vou machucá-la. Eu sempre cuidei de você, coelhinha... Eu sou seu tio, estou aqui para te levar para casa — diz. Com aquele tom de voz que sempre me fez acreditar que ninguém acreditaria em mim. Mas eu precisava acreditar em mim, eu precisava.

    Suas mãos nojentas encostaram em meus braços e desceram deslizando até minhas mãos, descendo após uns segundos parados até a alça da minha mala. Não toque em mim...
    Quando ele tentou puxar as malas da minha mão, algo em mim conseguiu encontrar forças para me afastar. Puxo minha mala de volta bruscamente.

— Nunca mais ouse encostar em mim novamente, seu demônio! — rosno para ele, que demonstra surpresa diante meu ato. E saber que eu deixei que ele acreditasse por qualquer tempo que fosse que estava ainda em seus domínios me fez sentir nojo de mim mesma.

— Eu sou seu tio, Luane. Você me deve respeito...

— Para monstros iguais a você, a única coisa que os merece é a morte!

   Seu semblante se fecha e eu vejo ali, a centelha da fúria.

— Não venha com suas cenas, Luane! Oras... esse é um momento de paz.

— Então fique longe de mim! Ou eu juro que...

— Jura o quê? — Ele se enche para cima de mim, até olhar ao redor e dar seu sorriso asqueroso. — Contar? Contar o quê? Com que provas? É a palavra de uma garota adolescente gorda e problemática que foi embora de casa sem nem ao menos falar com os pais contra a do seu tio, irmão do seu pai, que nunca fez nada contra ninguém... Admita, você me quis. Você se insinuou pra mim, caso contrário porque não falou antes? Deixou esse bando de mulherzinha se vitimizando por serem umas putas jogando toda a culpa para cima dos homens que seguiu os sinais que as mesmas haviam dado, poluir sua cabeça?

    Walter ri debochado, então levanta a mão em direção ao meu rosto. Por reflexo, seguro sua mão com força. Ouvir ele dizer que eu havia me insinuado quando era apenas uma criança me fez mensurar o quão monstruoso ele era, foi o que me ajudou a juntar o restante da força que eu tinha para colocá-lo em seu devido lugar.

Um dia foi meu Onde histórias criam vida. Descubra agora