XVI

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   Observamos as ondas do mar sem pressa de ir embora. Postergandk o ato de enfrentar o mundo que era o mesmo, mas de alguma forma, parecia diferente para nós duas. Era um misto de alívio, medo, culpa, liberdade. Agora, de fato, estávamos livre. Dele, pelo menos.

— Por que não me contou o que estava planejando? — questiono tentando entender.

— Não é óbvio? Vamos, Luane, você é mais inteligente do que isso — sua fala é irônica. Gabe suspira, limpando as mãos, deixando as partículas de areia voltarem para o seu devido lugar. — Tá... Eu fui uma vaca com você. Ao invés de colocar a culpa do que aconteceu no verdadeiro culpado, eu destinei toda minha raiva à você e isso não foi certo. Queria ao menos me redimir levando o fardo de me livrar dele sozinha.

— Então não era para que eu te impedisse? — insisto, sentindo que havia um 'mas' ali.

— Você estava certa quando disse que eu precisava me defender. Nunca vou me perdoar por ter paralisado diante daquela situação. Mas ao menos posso me consolar sabendo que consegui reagir, mesmo não sendo suficiente assim.

— É engraçado como somos ferradas o suficiente mas não conseguimos nos colocar no lugar de vítima. Sempre nos culpamos por tudo — apesar de sorrir, não sinto humor algum.

— Foda. Mas agora acabou. Se não formos presas, temos uma vida inteira pela frente — ela ri, enquanto prende o cabelo em um coque.

   Sigo ela na risada da nossa situação cômica ao mesmo passo que trágica.

— Aliás... Jhonas me chamou para conversar e... Eu disse que não quero mais me casar. Nem com ele e nem ficar com o Eric.

— Ainda acho estranho você chamar ele de Jhonas — sorrio. — Tem certeza?

— Sim, vivi tanto tempo à sombra deles, de um cara, quero me descobrir agora como mulher. Sabe? Deixar de ser a Gabriela perfeita pra trás.

— Você algum dia foi perfeita? Pra mim sempre foi irritante — dou-lhe uma cotovelada.

— Vá se ferrar — diz rindo.

— Será que quando vão dar falta do desaparecimento dele?

   Gabriela dá de ombros. — Gostaria que fosse nunca.

— Confia mesmo que o Arthur vai dar conta?

— Meu instinto diz que sim. Minha razão diz para estar preparada para tudo.

— Pois é. Mas ainda que eu fosse presa por isso, não me arrependeria.

— Olha, nós concordamos em alguma coisa — fala rindo.

   Levantamos, voltando para o conforto da nossa casa.

(...)

  Dias se passaram e meu tempo no Rio finalmente havia acabado. Gabriela iria bancar a aventureira, Ethan estava cumprindo sua recuperação em casa, John não havia voltado mais. Walter estava dado como desaparecido e a polícia que cuidou do nosso caso de "invasão e roubo" estava fazendo tudo que estava ao seu alcance para achar nosso querido e amado tio.

   Ponho minhas malas dentro do porta malas do carro da Nicole. Já havia me despedido de todos da minha família, até mesmo minha caçula grudenta e safada que me fez chorar assim como também sentir-me culpada por estar indo. Não aceitei que ninguém me levasse ao aeroporto, afinal ainda passaria no apartamento do Ethan para me despedir. Momentos depois, a mãe do Ethan abre a porta pra mim e nos dá privacidade após me cumprimentar.

   Ethan esticado no sofá, enquanto finaliza sua chamada, estendendo a mão do braço bom, para que eu a segurasse e aceitasse ser conduzida a sentar ao seu lado. Logo, ele desliga, olhando-me por inteiro, abrindo um sorriso doce, anunciando o quanto estava linda. Sorrio, aconchegando-me ao seu lado.

Um dia foi meu Onde histórias criam vida. Descubra agora