𝘉𝘢𝘥 𝘨𝘪𝘳𝘭

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Pov Kate

Suspiro no silêncio acolhedor, grata pela chance de escapar de toda aquela conversa sem sentido que ficou do outro lado da porta, mesmo que por apenas um momento. Para todos os efeitos, os participantes das conversas são os meus convidados, mas isso não significa que eu tenha que gostar das pessoas ou até mesmo me sentir confortável ao lado delas. Felizmente, MJ foi solidária e me deixou assumir uma tarefa em seu lugar, o que me deu a chance de relaxar.

Enquanto caminho pelos corredores vazios dos bastidores do teatro alugado para o evento de hoje, o barulho provocado pelos meus saltos é o único ruído que acompanha meus pensamentos. Logo chego ao velho camarim e apanho as listas que MJ esqueceu ali, por conta de toda a confusão dos preparativos para a festa. À medida que retorno para o salão, faço um checklist mental de tudo o que está relacionado ao tão aguardado leilão desta noite. Algo me diz que estou esquecendo algum detalhe. Numa reação automática, levo a mão até a cintura em busca do meu celular, onde sempre tenho tudo devidamente registrado. Porém, encontro apenas o toque suave da organza de seda do meu vestido vermelho.

- Merda! - resmungo para mim mesma, enquanto paro por um momento para tentar identificar o que poderia estar passando despercebido. Encosto-me na parede para me concentrar, mas o corpete traçado e justo que estou vestindo torna impossível até mesmo um suspiro de frustração. Mesmo que absolutamente fascinante, aquele maldito vestido deveria ter vindo com um aviso: respirar é opcional!

- Obrigada, mãe, por sujar o meu terno quando eu estava saindo e me fazer usar esse vestido minúsculo - revirei os olhos.

Pense, Kate. Pense! Com as costas apoiadas na parede de maneira um tanto deselegante, movimento meu corpo de um lado para o outro na esperança de aliviar a pressão nos pés, dolorosamente comprimidos dentro daqueles sapatos de salto alto.

As plaquinhas para o leilão! Eu preciso das plaquinhas de lances. Sorri para mim mesma, celebrando a habilidade do meu cérebro de lembrar desses pequenos detalhes, principalmente, considerando o fato de ter estado sobrecarregada nos últimos dias, sendo a única coordenadora do evento. Aliviada, desencostei da parede e segui em frente, pelo menos por alguns metros.

Um riso feminino de puro flerte ecoa pelo ar, seguido de um gemido também feminino. Diante daquela situação, fico completamente paralisada, chocada pela ousadia de alguns dos nossos convidados. Ouço então o som inconfundível de um zíper sendo aberto e um suspiro familiar "Ahhh, céus!", vindo de um canto escuro a poucos metros de onde estou. Quando meus olhos se acostumam com a pouca iluminação, percebo um vestido atirado de modo descuidado sobre uma velha cadeira e um par de sapatos de salto alto abandonados no chão.

Não há quantia suficiente no mundo que me obrigue a fazer algo desse tipo em público.

Meus pensamentos são interrompidos pela respiração ofegante de uma mulher, seguida pela exclamação rouca: "Porra, você é muito gostosa!".

Nesse momento de grande indecisão, fecho os olhos e hesito. Sei que preciso pegar as plaquinhas guardadas no depósito no final do próximo corredor, mas também estou ciente de que a única maneira de chegar lá é passando pelo "cantinho da pegação". Não tenho escolha a não ser seguir em frente. Na expectativa de conseguir passar pela dupla sem ser notada, faço uma prece silenciosa e ridícula.

Na ponta dos pés, caminhei rapidamente, mantendo minha expressão fechada e virei para o lado oposto. Afinal, a última coisa que precisava agora é atrair atenção e dar de cara com algum conhecido. Depois de ultrapassar com sucesso a "zona de perigo", suspirei aliviada.

Ao chegar ao depósito, ainda estava tentando desvendar de quem era a voz feminina. Desajeitada, tive dificuldade com a maçaneta e fui obrigada a dar um tranco na porta para conseguir abri-la e acender a luz. Rapidamente localizei a sacola com as plaquinhas sobre a prateleira, dei alguns passos da porta e estendi a mão para alcança-la. No exato momento, senti a porta com dobradiças automáticas bater com força atrás de mim. Eu tinha me esquecido de prendê-la. A pancada foi tão forte que todas as prateleiras do armário tremeram. Assustada, tentei abrir a porta, mas logo percebi que um dos lados da dobradiça estava solto. Desolada, larguei a sacola no chão, as plaquinhas se chocaram contra o piso de concreto e se espalharam, fazendo um enorme barulho. Quando tentei acionar a maçaneta, ela até girava, mas a porta estava emperrada. O pânico começou a tomar conta. Mesmo assim, tentei me controlar e usar toda a minha força para destravá-la. O esforço foi em vão.

𝙍𝙐𝙉𝙉𝙄𝙉𝙂: 𝘼𝙢𝙤𝙧 𝙖 𝙏𝙤𝙙𝙖 𝙑𝙚𝙡𝙤𝙘𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 - [𝘒𝘢𝘵𝘦𝘭𝘦𝘯𝘢]Onde histórias criam vida. Descubra agora