Capitulo 16.

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Sabina's (pov):
Subindo as escadas, consigo ver a brechinha de luz que saia do quarto de Bella, indicando a localização dos dois. A luz não era forte, pelo contrário, parecia ser de um abajur ou algo do tipo.

Me aproximando bem do quarto, consigo ouvir uma conversa em tom baixo.

-Mas você precisa ajudar ela também, papai- a fina voz de Bella quase sussurrava no ambiente. Tento me aproximar ainda mais da porta, mas em uma distância segura.

Ajudar quem?

-Eu sei, meu amor- Bailey responde, quase no mesmo tom.

-Se a gente tiver paciência, um dia a mamãe vai voltar a amar a gente. Eu sei disso- a fala de Bella é como uma facada no meu coração.

-Ela ama você, minha pequena- Bailey tenta amenizar o poder da frase que a menina acabara de dizer.

-Ainda não ama, papai. Mas ela vai sim - a pequena responde, com uma leve voz de choro.

-E você sabe como a gente pode ajudar ela? Porque eu já tentei de tudo, meu amorzinho- o mesmo pergunta. Não, Bailey, você não tentou de tudo. Nem perto disso.

Se a voz de Bella não fosse tão doce e claramente infantil, eu diria fácil que isso é uma conversa entre dois adultos. Acho incrível a tamanha maturidade dela.

-Você precisa ir com calma, papi. Um dia você tenta conversar, outro um abraço, e assim vai.
A mamãe é incrível, e a gente precisa amar ela do jeitinho que ela é, não pelo jeito que ela era- Bella explica a ele, me deixando perplexa. Acho que ela é quem cuida de Bailey, não ao contrário.

-Vem cá, mini gênio, já tá na hora de dormir- ele agarra a pequena em um abraço apertado e aconchegante enquanto ela dá pequenas risadinhas fofas.

É, acho que quem precisa de ajuda agora sou eu. Ajuda de um bom vinho.
[...]
-Mas você precisava ver o jeito que ela falava maduro, Sina- falo e dou mais um gole no meu vinho espetacular.

Todos já haviam ido embora, apenas restava Sina, Krystian e Noah. Porém, eles conversavam em um canto e nós duas em outro.

-Ela é surpreendente, né? Você precisava ver como ela me ajudava a decidir os detalhes do casamento, melhor que qualquer madrinha- Sina comenta rindo.

-As vezes eu sinto vontade de conhecê-la melhor, sabe? De realmente tentar construir uma relação a mais. Só que aí vem a mesma barreira que me impede de fazer isso- falo olhando para o chão.

-Você diz... Ser mãe dela? É isso?- ela pergunta, e mesmo sem conseguir encará-la, eu consigo enxergar a esperança em seus olhos.

-Não sei... Não é nada exato. Mas é como se eu sentisse que, de algum modo, ela é exatamente a pecinha que falta em mim- só depois que essas palavras saem da minha boca que percebo a grande merda que eu posso estar fazendo ao contar isso para alguém.

E mesmo sentindo isso, sei que bem à minha frente, está a pessoa mais certa do mundo para que eu desabafe. Porque apesar de Joalin ter sido sempre a minha melhor amiga, era com Sina que eu desabafava e contava todos, literalmente todos, os meus segredos. Mesmo não lembrando, pela normalidade que Sina trata a cena, presumo que a Sabina adulta também tinha esse hábito

-Eu posso te dar o melhor ou o pior conselho da sua vida agora, Saby. Mas quando sentir isso, tenta ser mãe dela! Aproveita essa chance que o teu coração está te dando e deixa ela ser essa peça- Sina toca meu ombro, como se estivesse me dando apoio. Força para fazer aquilo.

-E se eu me arrepender depois, Si?- pergunto.

-Você não vai se arrepender. Isso eu te garanto- ela fala e eu subo meu olhar para encará-la. O sorriso de Sina era de alguém que sabia o que estava falando. Sabia muito, muito bem.
[...]
Todos já haviam ido embora. Só restavam eu e Bailey, recolhendo os pratos e taças de vinho espalhados pela área de lazer.

-Você já pensou no quão bizarro é termos o mesmo ciclo social desde a adolescência?- ele quebra o silêncio entre nós, me fazendo uma pergunta bem interessante.

-Bizarro mesmo- respondo, colocando mais umprato na enorme pilha que se formava.

Mesmo sabendo que para salvar a nossa relação, eu precisaria ao menos conversar com ele, não sei como fazer isso sem querer fugir. Correr para muito longe daqui.

-Você vai na apresentação da Bella amanhã? - novamente, Bailey tenta puxar algum assunto.

Vamos, Sabina. Tente.

-Errr.... que apresentação? - pergunto.

-A de ballet. O quebra-nozes. Ela passou o mês todo falando sobre isso, não contou nada a você? - ele para de limpar o balcão só para me olhar.

-Não. Talvez ela não queira que eu vá, Bailey. E não tenho problema algum com isso...- respondo.
Estranhamente, isso me abalou. O fato de Bella estar tão animada para essa apresentação e não me querer lá, me faz, novamente, querer fugir.

-Não vejo o porquê dela não querer você lá. Mas enfim, se ela te falar algo, me avisa que eu te pego aqui para irmos- ele fala e volta a limpar o móvel.

-Certo. Como está seu dia amanhã?- pergunto com as mãos suadas, até mesmo uma pergunta me deixa nervosa ao falar com Bailey.

-Bastante cheio. De manhã tenho uma reunião, a tarde um almoço com sócios, a tarde mais uma reunião e a apresentação de Bella, a noite pensei em sairmos para jantar algo diferente. Sair dessa casa um pouco- responde e me olha para que eu aprove ou não seu último plano.

-Claro. Onde pensa em ir?- pergunto.

-No seu favorito, Craft- ele fala enquanto lava as taças meladas de vinho.

-Craft?- pergunto. Não faço ideia que lugar seja este.

-Ah, esqueci que você não... Enfim, você vai amar- ele ri, um pouco bêbado, e ao mesmo tempo derrama uma lágrima.

-Você está chorando?- pergunto, tentando olhar para a lágrima que caiu.

-Acho que sim- ele limpa a lágrima, surpreso -É que, porra, Sabina. Você faz ideia do que é não poder errar em nada? Porque de um dia para outro, eu precisei virar pai e mãe ao mesmo tempo para uma bebê de um ano. Eu precisei tocar um negócio sozinho, com apenas pequenas ajudas. Eu precisei cuidar de você no hospital, de tudo, completamente tudo. E agora que você chegou, eu preciso não continuar errando, porque se eu errar, você vai embora, se eu errar, a Bella fica sem o cuidado que ela precisa, se eu errar a gente não tem mais dinheiro algum para viver. Eu estou cansado, Hidalgo. Muito cansado.

Eu nem sei mais como, mas eu apenas agarro Bailey e o envolvo nos meus braços. Um abraço que os dois precisavam. Um abraço apertado, muito apertado.

-Você não está mais sozinho- sussurro no ouvido dele. -Eu acordei para vocês. E eu prometo tentar ser a Sabina que vocês amavam de novo.

-Não. Seja a Sabina que nós amamos agora, porque mesmo ela sendo muito difícil, nós não conseguimos mais largar dela. Nunca mais- ele sussurra no meu ouvido e sinto uma lágrima, de muito alívio, descer pelas minhas bochechas.

Until the end - sabiley Onde histórias criam vida. Descubra agora