Prólogo: Breakup Day

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Os dois jovens se encaravam, ambos com os olhos marejados, as mãos unidas e trêmulas enquanto tentavam desesperadamente expressar o que ambos sabiam ser fato para os dois. A garota mordia o lábio inferior, cheio e sem pintura, sentindo as lágrimas correrem por seu rosto, enquanto o rapaz abria e fechava a boca sem saber o que dizer.

Não queriam ter de dar aquele passo. Concretizar aquela decisão. Encerrar aquela fase de suas vidas.

Mas, se continuassem como estavam, acabariam odiando um ao outro, e isso nenhum dos dois queria.

Não quando aquele sentimento que os unia há seis anos era a coisa mais importante e linda de suas vidas.

- A única certeza que eu tenho nesse mundo é que eu te amo, Flávia - murmurou o rapaz alto, de cabelos negros revoltos, apertando delicadamente as mãos pequenas e delicadas, que tremiam entrelaçadas às dele.

- Eu também te amo - balbuciou a jovem, de cabelos igualmente negros, repicados com uma adorável franjinha que caía sobre seus olhos, acariciando suavemente os dedos dele - Mas... a gente tá mais se magoando do que se fazendo bem. E eu não quero te odiar, Gui. Não quero. E não vou.

O rapaz puxou a namorada para os seus braços, enchendo o rosto lindo e tão amado de beijos. Ela correspondeu, com suas lágrimas se misturando às dele, e os dois se abraçaram com desespero, como se fossem se perder a qualquer instante.

O que, de fato, era o que os esperava.

- Não vou te odiar - sussurrou o rapaz, com os lábios colados à têmpora da garota - Você tá livre, Flávia.

* * * *

Flávia Santana acordou com um grito sufocado na garganta e o rosto lavado de lágrimas. Virou o rosto para o travesseiro ao seu lado e se permitiu extravasar todo o sofrimento que, nos outros 364 dias do ano, ela sufocava dentro do peito.

Um clássico de Cat Stevens dizia que 'o primeiro corte é o mais fundo' e, na história da vida de Flávia Santana, cantora e compositora, isso era verdade inquestionável. Somente agora, exatamente cinco anos depois de romper com seu primeiro namorado, ela finalmente estava namorando sério, e mesmo assim com uma série de barreiras erguidas, pois não conseguia ser, com o atual namorado, Gabriel, a Flávia alegre, apaixonada e entregue que havia sido com Guilherme.

Neném, seu primo e melhor amigo, sempre lhe dizia que Gabriel era mais apaixonado por ela do que ela era por Gabriel, e Flávia sabia, no fundo, que ele tinha razão. Gostava de Gabriel, divertia-se com ele e, sexualmente falando, eles se davam bem. Mas não havia, com Gabriel, aquela necessidade de estar sempre junto, de ter sempre uma notícia, de querer sempre ter por perto.

Não... Isso tudo ela tinha sentido apenas dos 15 aos 21 anos, período em que tinha namorado Guilherme.

Uma nova onda de lágrimas se apossou dela, e ela se permitiu chorar. Chorou, como todos os anos, pelo amor que tinha perdido e pelo amigo que havia desaparecido de sua vida sem deixar rastro. Porque, mais do que seu namorado, Guilherme tinha sido seu melhor amigo. E, embora o rompimento tivesse sido uma decisão tomada em conjunto, a qual racionalmente ambos sabiam ser a mais benéfica para os dois, foi difícil, para ambos, manter a proximidade, ainda que como amigos. Com o passar dos dias, acabaram se afastando gradualmente, até que se perderam de vez.

E essa perda nunca tinha parado de doer. Embora a dor pelo rompimento tivesse se dissipado, a dor do luto pela amizade perdida ainda incomodava como no primeiro dia. Flávia ainda sentia, por várias vezes, necessidade de ligar para Guilherme e pedir a opinião dele sobre diversos assuntos, tanto na sua vida pessoal quanto na sua vida profissional.

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