Flávia levantou-se de um pulo ao ouvir o pedido de Gabriel. Seu corpo tremia de cima a baixo, os olhos negros arregalados, fixados no namorado como se ele tivesse enlouquecido e falado o maior dos absurdos. A moça abriu e fechou a boca várias vezes, sem saber o que falar, não podendo dar a resposta que lhe veio à mente imediatamente quando ouviu as quatro palavras e sentindo um bolo formar-se na sua garganta, sufocando-a.
Gabriel pareceu não perceber o completo desespero da namorada. Encarava-a com os olhos azuis brilhando de expectativa e, diante do silêncio de Flávia, estendeu a mão e pegou a dela, ajoelhando-se no assento macio do sofá.
– Eu te amo, Flávia Santana. Nunca amei ninguém como amo você. Nunca quis ninguém como quero você. Nunca tive tanta certeza quanto tenho do fato que quero você como minha esposa – Ele levou a mão gelada da garota até os lábios, beijando docemente o dorso – Você me dá a honra de ser o seu marido?
– Gabriel... – Ela balbuciou – Casar?
Ele deu um largo sorriso e se levantou, ficando de pé diante dela.
– É, meu amor – Estendeu a mão e fez um carinho leve na curva da bochecha dela – Imagina só. Com a gente casado, você vai poder sair daquele seu quitinete e morar aqui comigo, não vai mais ter de pagar aluguel. O que for meu vai ser seu também e você não vai precisar ficar fazendo bico como cantora em tudo que é buraco, pode só cantar no bar e se dedicar à sua arte. Eu pago-
– Peraí, Gabriel – Ela afastou, afastando o rosto da mão dele, soltando a mão da dele. A expressão de perplexidade e desespero havia desaparecido, dando lugar a uma expressão crescente de indignação – Você não quer casar comigo. Você quer me manter prisioneira, isso que você quer!
O empresário arregalou os olhos, acenando negativamente com a cabeça.
– O quê? – Gaguejou o rapaz, piscando várias vezes – Não, Flávia! Não!
– Como não? – Ela pegou a bolsa colorida e a colocou no ombro – Pensa no que você acabou de me dizer, Gabriel! Você quer que eu saia da minha casa pra morar na sua casa, pare de correr atrás dos meus trampos pra cantar no seu bar e até se ofereceu pra pagar não sei o quê porque eu nem te deixei terminar a frase! A sua mãe já me chama de golpista interesseira sem eu deixar você pagar uma cerveja que seja, imagina se eu vir me enfiar aqui! Além disso – Ela olhou ao redor, procurando as botas coturno – em algum momento eu reclamei pra você das minhas contas ou de correr atrás da minha realização profissional?!
Gabriel tentava acompanhar o ritmo da namorada, mas a sua cabeça girava e ele não conseguia se concentrar. Tinha certeza que Flávia ia aceitar seu pedido e ver as vantagens de se casar com ele. Sua intenção não era, jamais, a de a manter presa, mas sim de juntar o útil (ela poder se dedicar sempre ao canto e à composição sem ter de se preocupar em trabalhar para pagar as contas) ao agradável (poder estar sempre um com o outro).
Como podia ter errado tanto?
– Flávia, não é nada disso! – Ele exclamou enquanto via a namorada calçar as botas coturno sem lhe dignar nem ao menos um olhar de relance – Meu amor, não vai embora assim! Não é nada disso que você tá pensando! Eu não quero te prender! Quero só ser parte da sua vida!
– Gabriel, para – ela ordenou. Tirou a franja que caía sobre os olhos e o encarou – Você pode não querer me prender, não de propósito. Mas é o que tá parecendo. E não é de agora – A garota ajustou a alça da bolsa no ombro e se levantou – Tem pelo um mês que você quer passar todas as horas do dia grudado comigo, e você sabe muito bem que eu odeio esse tipo de coisa!
Ela o olhou fixamente, odiando-o e odiando-se por aquela situação. Odiava Gabriel por fazer aquele pedido, com aquelas palavras, ignorando seu completo desconforto com a situação, visando apenas mantê-la a seu lado, ignorando os desejos dela própria.
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we never really moved on
FanfictionAU. Cinco anos após um rompimento doloroso, mas pacífico, a cantora Flávia Santana e o médico Guilherme Monteiro Bragança se reencontram e voltam a sentir aquela velha faísca. Só há um problema: ele está noivo, e ela tem um namorado sério. OU... A f...