Oito: Rompimentos & Revelações

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Usando o short jeans desfiado e a meia arrastão da véspera, combinados com uma camisa social branca e uma gravata vinho de Guilherme, Flávia chegou assobiando no seu prédio. Depois que o amante havia saído, tinha voltado para a cama e dormido abraçada ao travesseiro dele, rodeada pelo cheiro deles. Ao acordar, tinha tirado uma foto de si mesma enrolada na toalha do médico e mandado para ele antes de tomar banho para começar o dia.

Agora voltava para seu cantinho, sem nem se importar com o celular zerado de bateria, cantarolando a melodia da música que havia começado a compor de madrugada, e indo rumo à escada quando seus passos foram interrompidos pelo zelador.

– Bom dia, dona Flávia! Só pra lhe avisar que aquele seu namoradinho está sentado do lado da sua porta – informou o homem, que tinha idade o suficiente para ser avô da cantora.

O bom humor de Flávia se dissipou em boa parte. Mesmo depois de um ano, Gabriel ainda não sabia que, quando ela estava brava, a última coisa que ela queria era vê-lo; ou então, se sabia, não importava porque ele queria resolver. Respirando fundo, a cantora fechou os olhos e contou até dez, juntando todas as forças e a paciência que tinha para encarar o (futuro) ex.

– Obrigada, seu João. Ele não vai demorar, tá bom? – Respondeu ela com um leve sorriso.

– Tudo bem, dona Flávia – O senhor observou a moça por algum tempo antes de abrir um sorriso cúmplice – A senhora finalmente se acertou com aquele seu amigo médico? O que vem lhe buscar sempre no carrão bonito?

A morena tentou disfarçar o rubor e o sorrisinho que encheram seu rosto diante da astuta menção do zelador a Guilherme, mas não conseguiu e abaixou a cabeça, deixando os longos cabelos escuros esconder seu rosto como se fossem uma cortina.

– Quase, seu João. Quase. Faltam apenas alguns detalhes – admitiu ela, se dirigindo à escada.

– Vai dar tudo certo, dona Flávia. Boa sorte – desejou o zelador, acompanhando a jovem com o olhar enquanto ela aprumava a coluna e subia a escada que levava até seu apartamento.

Gabriel se levantou assim que ouviu o som de passos na escada e viu a silhueta bonita e elegante de Flávia surgir no último degrau. Não pôde deixar de sentir aquele aperto gostoso na barriga ao ver o rosto dela, bem como uma agulhada no coração ao ver que ela não estava usando a camiseta de banda que vestia quando saiu da sua casa, na noite da véspera. O rosto dela estava muito sério, e ele se lembrou, com o sangue gelando nas veias, que ela não gostava quando ele a procurava depois de uma briga.

Mas ela não entendia que ele a amava? Que, para ele, ficar brigado com ela era horrível, e por isso ele não conseguia esperar até que ela se acalmasse para tentar se resolver com ela?

– Oi... – Ele falou, mordendo o lábio inferior com nervosismo antes de exibir um sorriso fraco.

Mas Flávia não correspondeu, encarando-o com seriedade.

– O que você está fazendo aqui, Gabriel? – Perguntou ela, friamente.

– Vim falar com você, Flávia. A gente precisa conversar. Eu tô te ligando desde ontem, mas você não me atende! – Explicou ele, tentando disfarçar o tom de queixa e acusação na voz.

A cantora suspirou em contrariedade e ergueu o celular evidentemente desligado.

– Estava sem carregador e a bateria morreu – respondeu, secamente, enfiando a mão na bolsa enorme atrás do chaveiro – E eu já não te falei que não gosto de conversar logo depois de uma briga? – Continuou enquanto puxava o porta-chaves colorido e encaixava a chave correta na porta.

– Eu sei, meu amor, e te peço desculpas, mas é que você saiu tão rápido, quando dei por mim você já estava quase na rua! – Defendeu-se o empresário, ficando de pé atrás dela. Quando a porta se abriu, ele nem mesmo esperou que ela o convidasse para entrar e entrou logo após. Tentou disfarçar o desconforto por estar naquele apartamento minúsculo, sem perceber o quanto Flávia se sentia à vontade e feliz ali.

we never really moved onOnde histórias criam vida. Descubra agora