Dois: Sexta às Sete

232 21 58
                                    

Na sexta-feira, às sete da noite, tudo estava devidamente pronto na casa da família Marino para o famoso jantar organizado por Paula e Neném. A família do jogador conversava entre si, empolgada, embora volta e meia dona Nedda, a mãe de Neném, e Betina, irmã dele, olhassem com curiosidade para o casal anfitrião. Paula parecia mais ansiosa que o normal, e Neném estava se esforçando muito para acalmá-la, embora ele também estivesse bastante agitado.

– Muito bem, casal – interrompeu a ruiva, após suspirar com impaciência após a décima vez em trinta minutos em que ouviu um dos dois murmurar para o outro que 'ficaria tudo bem' – O que diabos vocês estão aprontando que deixou vocês todos nervosinhos desse jeito?

Paula piscou para a cunhada e deu um sorrisinho inocente. Luca, atrás dela, afastou uma mecha dos cabelos castanhos dos olhos, prendendo-a atrás da orelha, e forçou um sorriso.

– Aprontando? A gente? – Disse a mulher usando um conjunto de saia e cropped monocromático, apontando para si e para o namorado – Nada. É que a gente tem uma novidade muito boa pra contar, mas – Ela interrompeu Betina antes mesmo de a cunhada abrir a boca para falar – Só quando a minha mãe, meu padrasto, minha irmã e mais dois convidados chegarem – Finalizou, e pegou a mão do namorado para o puxar na direção do quarto dele – Vem, coisa linda!

Mas não chegou a dar dois passos. A campainha tocou, e a própria dona da casa se levantou para abrir a porta. Deu de cara com uma senhora de idade, cabelos brancos e sorriso doce, acompanhada de uma menina muito branquinha, de cabelos negros curtos e sorriso tímido.

– Mamãe! – Disse Paula, que tinha ficado na ponta dos pés para ver quem tinha chegado. Afastou-se de Neném e apressou-se na direção da porta, desviando da sogra para abraçar a mãe e a irmã e as conduzir para dentro da casa – Sogrinha, essas são a minha mãe, Antônia-

– Tuninha – corrigiu a mãe de Paula, sorrindo educadamente para a dona da casa, que correspondeu ao sorriso. Tuninha soltou-se da filha e apertou a mão da sogra de Paula – Muito prazer.

– Nedda – respondeu a mãe de Neném – O prazer é meu. Entrem, por favor!

– E essa é a Ingrid, minha irmã mais nova – Paula concluiu, passando o braço pelos ombros da adolescente, que acenou para todos timidamente.

– Família, cheguei! – anunciou Flávia, aparecendo na porta aberta. Usava um vestido de couro fake preto, com uma jaqueta vinho, a inseparável meia arrastão preta e coturno; sua única maquiagem era um delineado vermelho e batom da mesma cor.

– Flávia! – Um sorriso radiante apareceu no rosto de Nedda, que se apressou a abraçar a sobrinha – Como você está, meu amor? Quanto tempo!

Enquanto Nedda cumprimentava a recém-chegada, Paula apresentava a mãe e a irmã ao resto da família do namorado: Osvaldo, padrasto de Neném, bem como Betina, irmã mais nova dele, e Jandira, esposa dela. As duas tinham duas filhas, Bianca e Martina, que alegremente puxaram assunto com Ingrid.

Recolhidos a um cantinho, Paula e Neném, abraçados, observavam Flávia com ansiedade. Agora só faltava Guilherme.

* * * * *

Quando Guilherme recebeu o endereço da casa da família do namorado de Paula, algo lhe pareceu extremamente familiar. Ele só não sabia apontar exatamente o quê.

Durante a época do namoro, Flávia residia na Tijuca, e por isso Guilherme costumava sempre estar lá quando não estava na faculdade ou no hospital servindo como sombra de algum médico. Evitava levar a então namorada até sua casa, porque sabia que Celina não aprovava o relacionamento, e preferia manter a paz com Flávia. Além disso, ela morava sozinha desde o segundo casamento do pai, e isso permitia a eles mais privacidade do que em sua casa.

we never really moved onOnde histórias criam vida. Descubra agora