Capítulo 4: Amargo

456 68 3
                                    

  Nunca pensei que me sentiria tão feliz em voltar pro colégio, mesmo que não odiasse frequenta-la, porém depois dos dias que passei por conta do meu braço ou pelo menos é a desculpa que usamos para a minha ausência eu estava mais do que ansiosa para voltar a minha rotina normal e ficar o mais longe possível do centro de treinamento, fugo o meu inferno pessoal.

  Tinha até me esquecido de quão difícil ele era depois que o concluí anos atrás e sim eu já havia feito antes a primeira parte pelo menos, afinal era meio que obrigatório na família passar por um treinamento básico de sobrevivência em situação de risco, tipo saber desarmar uma bomba, conhecimento básico sobre venenos e seus antídotos, leis dimensionais e suas brechas, a minha família é estranha e paranoica quanto mais aceitar isso melhor para sua sanidade mental e afiz.

  Eu aceitei pelo menos em parte e agora que despertei os meus poderes sabe Rao qual sejam, pois mesmo com todos os testes que fizemos naqueles dias ainda não descobrimos seus efeitos além de uma rápida regeneração nem preciso mais usar a tipoia, só tô usando para não ser estranho mesmo e porque a minha prima deslocou o meu ombro no treinamento de combate, por sorte vai tá de volta ao lugar no fim do dia.

  -- Tem certeza que tá pronta pra voltar? -- pergunta minha mãe olhando pro banco de trás do carro aonde eu estava tirando o cinto.

  -- Tenho mãe, já passamos pelo período mais crítico da muda -- respondo num tom seguro.

  Muda era o nome que demos ao período que  os despertos passavam pela mudança genética onde o seu corpo se adapta a nova situação, os primeiros dias eram críticos por ser os mais dolorosos, afinal todo o seu gene era destruído e reconstruído.

  -- Podemos não saber o tipo exato de mutação ganhei -- começo pegando minha mochila -- porém sabemos que não é do tipo bestial como a minha tia Susana senão já teria aparecido uma mudança física que indicasse a transformação, não é do tipo mental como a minha prima Gabriela senão eu teria mostrado sinais neurológicos, como dor de cabeça, vertigem, perda temporária de equilíbrio e insônia o que não aconteceu, a única coisa que mudou foi a minha regeneração que indica o tipo físico só não sabemos qual é dentro dessa classificação e isso não me torna um risco para mim, nem pros outros, ou seja, nada me impede de ir pra aula.

  -- Eu sei, mas ainda fico preocupada -- disse demostrando isso em seu olhar -- me promete se algo acontecer você me liga?

  -- Claro mãe -- confirmo abrindo a porta saindo do carro -- te mais tarde.

  Assim que coloco o primeiro pé para fora pude notar os olhares em minha direção. -- Tchau anonimato vou sentir tanta falta sua -- penso me despedindo um lenço chorando. -- Eu já imaginava que algo assim fosse acontecer, mas tava torcendo que estivesse errada, qual é gente tem coisas mais interessantes acontecendo por aí.

  Ignorando o meu humor depressivo sigo para dentro do colégio escutando as pessoas falarem sobre mim.

  -- E aí maninha, como se sente sendo o centro das atenções? -- questiona Alex me abraçando de lado tomando cuidado com o meu braço enquanto sorria.

  -- Me dar uma pá que vou lhe mostrar como me sinto -- respondo não fazendo questão de esconder meu incomodo -- aproveitando me trás um caixão também.

  -- Nossa que mórbido, sabia não que curtia essas coisas -- disse sem perder o bom humor.

  -- Não curto, mas combina com o meu humor atual -- disse soltando um suspiro cansado.

  -- Então ele vai ficar pior, viu -- disse Alex finalmente me soltando, mas antes aponta para frente com a cabeça me deixando confusa.

  -- Oi. -- Agora eu entendi, porém a Alex estava errada a presença da garota não piorou o meu humor, ela poderia ter vindo falar comigo em um lugar que não fosse o corredor, cheio de gente? Poderia, mas não vou dizer nada. -- Como está o braço?

  -- Melhorando -- respondo olhando para a tipoia -- de acordo com o meu médico daqui a 15 á 11 dias eu posso tirar a tipoia.

  -- Precisa de alguma coisa? -- pergunta começando a andar.

  -- Uma capa de invisibilidade seria muito bem vinda agora -- disse a seguindo enquanto tentava ignorar os olhares.

  -- Desculpa -- disse Lena -- sei que não gosta de chamar atenção.

  -- De boa, logo logo eles esquecem isso é só aparecer uma fofoca nova -- disse vendo a porta da sala dando tapinhas leves em seu ombro -- e estando no ensino médio não vai demorar muito pra isso acontecer.

  -- Tem razão -- concorda ela me seguindo -- ah, Kara.

  -- Sim? -- questiono a olhando parada na entrada.

  -- Eh...

  -- Lena, você é da equipe de debate, entra em constante discussão com os nossos professores pelo menos três vezes por semana, não deixe uma única pessoa a lhe intimidar -- digo num tom quase manso -- pense que isso é um debate diga o que quer dizer como um argumento.

  -- Podemos ser amigas?

  -- Você não ia me pagar uma pizza? -- questiono a vendo ficar confusa -- qualquer um que me pagar comida é meu amigo.

  -- Ok, é só me dizer quando -- disse sorrindo.

  -- Me diga você, a minha única exigência é que não seja do colégio -- digo entrando na sala -- no fim da aula te dou o meu número, posso não ser a melhor aluna, mas não quero atrapalhar a aula, não é professor?

  -- Não poderia ter dito melhor -- disse J'onn parado atrás de Lena -- e também fico feliz por finalmente se interessar por convívio social, principalmente com tão boa influencia.

  -- O que me aconteceu me fez colocar algumas coisas em perspectiva -- digo vendo a minha cadeira de costume.

  -- Devo levar isso como um indicio que finalmente vai participar das aulas?

  -- Participar não, mas pensar, não nego -- respondo me sentando.

  O meu professor era uma das poucas amizades que cultivei no colégio, uma das poucas que me dei ao trabalho pelo menos e é por isso que posso falar assim com ele.

  -- É impressão minha ou você estava flertando com a Lena? -- questiona Alex sentada ao meu lado inclinando-se em minha direção.

  -- Estava? -- pergunto meio confusa, porém mantendo a minha atenção no professor e aproveitando minha visão periférica fazia o mesmo com Lena.

  -- Sério que não notou? -- pergunta sorrindo por achar ser piada, mudando o tom assim que viro meu rosto em sua direção -- pera, você realmente não notou?

  -- Não, achei que tava normal -- respondo ainda mais confusa.

  -- Aí meu Rao, temos uma conquistadora inocente aqui.

  -- Con... que papo é esse Alex, pirou? -- questiono tentando manter a voz baixa -- eu só tava sendo gentil e amigável.

  -- Você nunca é gentil e amigável.

  -- Falou a miss simpatia -- digo tentando com muito custo manter a paciência -- agora chega esse assunto tá me deixando com um gesto amargo na boca.

  -- Kara...

  -- Chega, aula.

  Ver se pode, eu flertando.

continua...

Complicações de não ser normal - supercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora