Capítulo 36: Leva eu

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  Eu não poderia descrever o quão feliz estava ao ouvir aquilo, bom, se não posso falar, iria agir a beijando com toda a paixão  que tinha contido ao longo dos anos, a puxando para os meus braços, mas ainda tentei me manter na medida do decente, pelo menos por enquanto, tínhamos tempo para isso e principalmente haveria um lugar melhor, todavia não significava que não poderia arrancar um pedacinho.

  — Você está bem alegrinha — disse Lena, sorrindo enquanto limpava seu batom, começando logo em seguida a limpá-lo em mim também.

  — Posso ficar mais, mas sei ser paciente — digo sorrindo, pegando a mão que me limpava beijando-a, a olhando de canto de olho, sem duvida era uma ótima vista, com seus olhos verdes dilatados, respiração meio ofegante pelo beijo anterior e bochechas coradas — porém não muito.

  — Está aí uma coisa que temos em comum — disse por fim se sentando em sua cadeira saindo do alcance dos meus braços — vamos comer?

  — Tava rezando pra ouvir isso — confesso com um sorriso maroto, me ajeitando na cadeira, depois que a devolvera para a posição original.

  — Um dia vai acabar morrendo por essa sua boca — disse Lena num tom risonho.

  — Estou contando com isso na verdade — digo a olhando com intensidade.

  — Esse seu rostinho engana, sabia? — pergunta num tom calmo, sem realmente olhar para mim.

  — Sabia — confirmo, incapaz de esconder o sorriso.

  A partir dali o almoço transcorreu bem, com algumas brincadeiras e flertes inofensivos de ambas as partes, parecia que havia uma fina linha invisível que nenhuma de nós se sentia pronta para atravessar, mesmo que tivéssemos confessado e oficializado, de certa forma, os sentimentos que possuíamos, ainda não sabíamos como agir uma com a outra.

  Eu muito menos que a Lena, já que nunca namorei, não por falta de oportunidade, nem mesmo devido aos meus sentimentos persistentes pela Lena, pelo menos não totalmente, porque mesmo que tivesse me apaixonado por outra ainda teria a questão da minha família e o fato de eu ser incapaz de começar um relacionamento desse tipo sem ser 100% honesta.

  Então ela tem mais experiencia, deveria saber como prosseguir a partir dali, eu ainda não deveria colocar a responsabilidade toda nela.

  — Contamo ou não? — questiono enquanto começava a recolher as coisas em cima da mesa, não tinha a menor intenção de arrumar tudo, mas faria isso para facilitar o trabalho do meu amigo que passaria mais tarde e estava inquieta demais para manter as mãos paradas e essa era a opção mais segura.

  — Uma parte de mim quer muito não contar por um tempo e guardar isso entre nós um pouquinho — admite Lena, olhando atentamente os meus movimentos — apesar de eu não ter só pensamentos puros em relação a isso.

  Seus olhos verdes brilharam em malicia a dizer aquilo e eu sabia que o mesmo brilhavam nos meus.

  — Eu garanto que os meus são ainda menos — confesso terminando o que fazia — e acho que estamos pensando na mesma coisa.

  — Pois eu garanto — disse sorrindo com o queixo apoiado na palma da mão.

  — Então a minha resposta é sim — digo com o mesmo sorriso, estendo a mão em sua direção a ajudando a se levantar.

  — Eles vão nos odiar — disse enquanto saíamos da galeria.

  — Vão ficar irritados, no máximo — digo dando de ombros, atravessando o corredor — depois vão ficar felizes por nós.

  — Por que eu estou sentindo que você só quer se vingar pela raiva que fizeram você passar? — questiona Lena erguendo a sobrancelha.

  — Porque realmente uma parte de mim quer mesmo se vingar — confesso sem um pingo de remoso — e não é uma parte pequena.

  — Me lembre de nunca pisar no seu calo — pede Lena depois de gargalhar.

  — Lena, você poderia me usar como tapete que eu não ligaria — digo abrindo a porta do carro para que entrasse.

  — Eu penso em te usar como outra coisa — disse Lena, entrando, rindo levemente ao notar o meu rosto corado.

  — Agora quem tá se vigando é você — digo fechando a porta antes de dar a volta, entrando no lado do motorista — então... casa ou empresa?

  — Por que eu sentir que queria me chamar de viciada em trabalho?

  — Eu...? Imagina — digo colocando o cinto e ligando o carro — ainda não me respondeu, se não for rápida eu mesma irei escolher.

  — Casa, hoje é o meu dia de folga. — Aquilo me pegou tão de surpresa que agradeci internamente que o carro ainda estava parado, porque senão seria acidente na certa.

  — Meu Rao o mundo vai acabar — digo a olhando incapaz de esconder meu espanto — se estiver doente eu vou reconsiderar seu sim e vou tentar de novo quando estiver melhor.

  — Para de palhaçada Kara, você já está exagerando — disse Lena me dando um tapa no braço — eu tiro férias.

  — Sim, depois que a gente praticamente te ameaça e não lembro de termos feito isso essa semana.

  — Kara, minha querida se eu fosse você ficaria caladinha até chegamos em casa ou não vou fazer o que estou pensando — disse apertando levemente minha coxa.

  Na hora virei muda, rapidamente dando partida ainda sentindo sua mão fazer carinho naquela regiam, nem sabia que era tão sensível ali.

  Não quebre o volante, não quebre o volante, não quebre o volante. — Repeti em minha mente tentando me manter focada, bem ciente que a melhor ao meu lado estava se divertindo bastante com o meu desespero.

  E antes que eu pudesse notar, havíamos chegado, quase precisei que me avisasse pois por poucos centímetros havia passado da entrada ao mesmo tempo que tive que reprimi a vontade de encostar a cabeça no volante, tamanha era minha ansiedade.

  E sentindo que poderia explodi se passasse mais um segundo parada saio do carro, não dando tempo de Lena fazer o mesmo rapidamente dou a volta abrindo a porta para ela lhe oferecendo a mão em seguida, acompanhando-a até a porta em total silencio parando na soleira.

  — Ah, tenha santa paciência — disse Lena me puxando para dentro.

  Aquilo fora o suficiente para eu acordar para vida, claro que ainda estava bastante ansiosa, afinal, nunca havia feito aquilo antes, mas respira e segue em frente.

  E como Zeca Pagodinho diz:

  "Deixa a vida te levar, Lena leva eu".

Continua...

Complicações de não ser normal - supercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora