Capítulo 20: Assuntinho complicado

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  Depois daquela frase acabo entrando timidamente no quarto ficando parada próxima a parede com meu braço esquerdo atrás das costas ainda incapaz de ficar parada me movendo de frente para trás, muito sem graça devido ao meu estado para olhar para ela.

  -- A gente só pode conversar se você estiver perto, mas já sabe disso -- disse Lena me chamando com a mão sorrindo de leve -- além do que eu não mordo.

  Abrindo o mesmo sorriso me aproximo puxando uma cadeira sentando-me ao seu lado.

  -- Desculpa pela aparecia nem me atentei que deveria me trocar antes de vim e claro, tomar um banho -- digo cochando minha bochecha sem olhá-la diretamente.

  -- Não se preocupe Kar, eu não estou muito melhor -- disse ela num tom tranquilo tocando meu ombro acalmando um pouco da minha inquietação -- agora, você algumas coisas pra me contar, não é mesmo?

  -- Posso me reservar a fazer isso outro dia? -- questiono virando meu rosto pro lado sabendo muito bem o tipo de expressão que ela tinha no momento -- Lena tem coisas que prefiro mostrar do que falar.

  -- E o que você pode me dizer? -- pergunta Lena mantendo o mesmo tom, mas eu sabia que grande parte disso era só pose, ela não queria me pressionar, porém tão pouco parecia querer deixar para lá.

  -- É difícil explicar algumas coisas sem tá por dentro do assunto -- digo meio que resmungando, segurando o meu braço com a tipoia enquanto inclinava a cabeça um pouco pro lado pensando no que diria.

  -- Tenta.

  -- Bem, por onde eu começo? -- pergunto para mim mesma, demorando um bom tempo organizando os meus pensamentos.

  -- Que tal os seus poderes? -- sugere Lena notando a minha dificuldade em escolher.

  -- Pode ser -- concordo dando de ombros -- mas é um assuntinho complicado.

  -- Kara! -- repreende Lena começando a parecer aborrecida -- não enrola.

  -- Eu não tô enrolando -- digo num tom meio fino devido a um leve desespero recebendo um olhar de descrença da Lena -- tá eu tô enrolando, mas é porque é difícil, é como tentar explicar uma coisa que já é de conhecimento comum.

  -- Poderes são de conhecimento comum -- disse Lena.

  -- De onde eu vim são -- digo meio exaltada a surpreendendo ela -- explico depois.

  -- Termina de explicar o que você começou primeiro -- disse parecendo começar a perder a paciência -- depois você introduz o outro.

  -- Tudo bem -- digo cochando o queixo -- a minha família tem duas mutação genética que causam os poderes, mas são duas linhagens diferentes que não se misturam, que dizer teve uns primos que se casaram uns 30 anos atrás, mas dos três filhos que tiveram só um herdou os dois genes e ainda assim só despertou um dos genes.

  -- Despertou? Mutação? Pera aí, calma -- pedi Lena rapidamente totalmente confusa.

  -- Eu disse que era difícil explicar -- digo -- principalmente se não tem conhecimento prévio sobre isso e eu não tenho o domínio necessário pra explicar de forma simples, por isso eu tinha a intenção de deixar outra pessoa explicar pra mim, tem até palestra e eu não conseguir ficar acordada tempo o suficiente para absorver o assunto.

  -- Explica por partes então -- sugere Lena voltando a se acalmar -- o que é o despertar?

  -- Dependendo de algo do gene pode ser algo diferente -- respondo num tom pensativo -- afinal são duas mutações diferentes, no tipo A tem mais haver com os hormônios, mais especificamente puberdade, sendo mais comum o tipo místico, tipo... magia.

  -- Magia? -- pergunta chocada se inclinando em minha direção.

  -- É magia existe, tem isso também -- digo meio sem graça -- e você já conheceu alguém dessa ramificação, no caso, a minha prima Luísa ela tem uma grande capacidade magica, que não usa ou treina, é um desperdício total do dom, mas não julgo, eu meio que faço o mesmo.

  -- Você tem magia?

  -- Na verdade eu estava me referindo aos poderes -- respondo antes de ficar meio aérea -- mas meio que sim, se vimos por um ângulo, porque todo mundo tem muita ou pouca capacidade magica, o que não significa que você consiga usar naturalmente, precisa ter conhecimento pra isso e um catalizador, então se eu quisesse eu poderia usar, mas eu não quero.

  -- Meu Deus, tô sentindo como se estivesse vivido a minha vida inteira numa mentira -- disse se deitando na cama -- e algo me diz que você não me contou nem metade.

  -- E não contei mesmo -- confirmei com a cabeça -- mas vou deixar pra um especialista fazer isso caso queira mais informações.

  -- Ok, me dar um minuto para digerir tudo, depois você continua a explicação -- disse Lena escondendo os olhos com o braço.

  E mesmo que quase estivesse explodindo de ansiedade e estivesse me esforçando muito para não me mexer na cadeira, fico esperando o tempo dela para que pudesse prosseguir.

  -- Pronto, pode continuar -- disse ela voltando a se sentar.

  -- Bem, dentro do tipo A, também tem o tipo espécie, ou seja, você adquiri as características e poderes dessa espécie, no caso o meu primo Kal o idiota que atravessou o seu prédio tem os poderes de uma espécie de aliens aí que nem sei o nome, ainda assim ele não é um alien, mas tão pouco é visto como um humano, ainda estão debatendo a nomenclatura correta.

  -- Aliens.

  -- É aliens -- confirmo quase rindo pelo seu espanto, porém consigo conter -- e antes que pergunte, sim, qualquer espécie que possa imaginar, então... coisas como bruxas, lobisomens, vampiros, até fadas.

  -- Fadas existem, olha sem querer ofender, mas a sua família estrainha -- disse Lena num tom meio cansado.

  -- Não ofendeu, eu concordo -- digo mexendo a cabeça -- é a opinião de geral não se preocupe.

  -- Então, você se encaixa em alguns deles?

  -- ...Não, eu sou do tipo B esse tipo pode passar a vida inteira sem despertar, mas por ter um despertar tardio é mais complicado de controlar e é mais doloroso, sem contar que é composto por 4 classes que não vou me aprofundar agora só vou dizer que pertenço ao tipo físico.

  -- O que precisa acontecer pro despertar? -- pergunta Lena olhando para o meu rosto curiosa.

  -- Quando você vai sair do hospital, a pancada foi muito séria? -- pergunto rapidamente tentando mudar de assunto.

  -- Kara!

  -- Precisa de uma situação de vida ou morte -- confesso depois de suspirar derrotada vendo um brilhos de entendimento passar por seus olhos e seu rosto ficar espantado.

  Eu não queria contar isso.

Continua...  

Complicações de não ser normal - supercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora