Avallon, de GreenVale.

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AVALLON

Malditos Reinos podres, com interesses mais podres ainda na minha coroa. Um baile para minha apresentação oficial a Elite Real, ou melhor dizendo, um Baile para ver quem consegue a minha mão em casamento. Vestidos e mais vestidos eram levados para que eu escolhesse o mais belo e chamativo. Nenhum do meu agrado. Suspirei e fui até a janela do meu quarto, nuvens de chuva se formavam, deixando uma paisagem melancólica.

Vaga-lumes.

Por todo o bosque. Iluminando o lugar, o deixando ainda mais magnífico. Olhei de cima ao redor, e não havia guardas localizados, provavelmente uma troca de turno. Coloquei um roupão quente e desci as escadas do palácio, saindo pelos fundos. Pegaria alguns vaga-lumes para Apollo e Solar e voltaria para o Baile. Seria rápido. Abri a porta dos fundos e olhei novamente ao redor para me certificar que não havia ninguém. Sai em direção ao bosque, os vaga-lumes não estavam tão a fundo na floresta, então não seria perigoso. O frio começou a incomodar, e quando dei por mim já havia entrado na floresta.

Magnífica! Esplêndida! Belíssima!

  Foram as palavras que passaram pela minha mente ao olhar para tamanha novidade. De fato haviam vaga-lumes, mas também haviam o som de queda d'água, árvores que mais pareciam dançar, e passarinhos cantando por todos os lados. Isso sim era um verdadeiro baile. Tudo naquele bosque me fazia andar mais e mais, acompanhando o som da água, e me esquecendo totalmente do meu propósito. A nascente do rio era linda, a lua iluminava o local, e os vaga-lumes enfeitavam tudo, dando um cenário mágico. A grama verde e úmida, como se tivesse acabado de receber chuva, mas nem mesmo uma gota havia caído do céu ainda.

E havia alguém. Deitado em uma grama, enfrente a nascente. Um homem. Me aproximei e pude ver mais claramente. Ele dormia sereno, com uma expressão relaxada. Sua aparência continha traços suaves demais para um homem de algum dos reinos vizinhos. Sua pele era em um tom de caramelo, seus cabelos pretos caíam até o ombro deixando sua aparência ainda mais surreal. Ele com certeza não era daqui. Me aproximei um pouco mais, e me permiti olhar com mais atenção os detalhes. Seu maxilar era fino e definido, seus olhos um pouco puxados, sua boca era um pouco carnuda, e sua estrutura era de um jovem príncipe forte. Ele dormia de barriga para baixo, dando a visão de seus ombros largos e com desenhos marcados em sua pele, mais parecido com galhos de árvore. Passei o dedo indicador suavemente pelos desenhos, os gravando na minha mente. O homem se mexeu e eu me afastei.

Asas.

Asas enormes e brilhantes nasceram. Eram lindas, e meus olhos mal acreditavam no que estavam vendo. Elas mais pareciam folhas transparentes com toques de dourado. Era surreal.

_Quem é você?- ouvi uma voz chamar. Olhei para trás e vi um ser de estatura média de cabelos verdes me encarar. O que era aquilo?

_O que...é você?- disse dando alguns passos para trás.

_O que você faz perto dele?- ele disse com uma expressão brava. Mas que logo suavizou ao olhar o homem deitado._As asas...elas....o que você fez?

_Nada...eu...preciso ir.- disse tropeçando nos próprios pés.

Comecei a correr mas logo me perdi e já não sabia mais qual caminho pegar. Alguns pingos de chuva começaram a cair e logo engrossaram. Que maravilha! A chuva ficou mais pesada e eu mal conseguia enxergar um palmo na minha frente. Sentei em um canto, escorada em uma árvore e fiquei esperando. Iriam notar  a minha ausência e me procurariam.

_É apenas um sonho.- repeti para mim mesma enquanto tremia de frio.

Coloquei a cabeça sob os joelhos e tentei me concentrar em ficar viva, sem morrer de hipotermia.

_Levante-se!- ouvi uma voz grave gritar. Levantei a cabeça e subi o olhar. Era o homem das asas.

_Não se aproxime, por favor.- disse me ponto de pé e dando alguns passos para trás. Porém, ele não tinha as asas de antes, parecia um homem normal, tirando o fato de usar apenas calças e nada mais.

_Você não respeitou meu espaço a uns minutos atrás.-ele disse se aproximando.

_Eu...me desculpe.- disse dando mais um passo para trás.

_Me siga, te levarei de volta.- ele disse se virando e indo na direção oposta. Não retruquei e apenas o segui em silêncio. Depois de alguns minutos pude ver as luzes do castelo e sorri aliviada.

_Obrigada.- disse em um tom baixo._Posso saber o seu nome?

Ele me encarou, arqueando uma sobrancelha e virou de costas.

_Apenas vá, e não volte.- ele disse duramente.

_Certo.- disse confusa._Obrigada.

Me retirei em direção ao palácio e assim que um guarda me viu, veio em completo desespero. E logo mais as empregadas e o Conselheiro Real estavam a minha volta com olhares preocupados.

Menos o homem das asas, esse já não estava na entrada para o bosque.

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