Cap. 2

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  ( 🏹 )

Eu andava de cabeça erguida, enquanto Papa andava ao meu lado com aquela expressão de que assassinaria qualquer um que me olhasse errado.

  Eu me sentia segura com ele ao meu lado. Apesar de não precisar ordenar que os homens ficassem longe de mim, se alguém me olhasse errado, ele não faria nada. Seria eu quem teria de me defender sozinha.

  Apenas uma vez, Papa agiu por mim. Eu tinha 6 anos. Ainda era nova nessa nova realidade, e um dos homens tentou me levar para uma das selas e se aproveitar de mim. Os guardas me ouviram gritar e não fizeram nada. Eu fui estuprada enquanto riam de mim.

  Quando o homem terminou, ele me deixou sair, e eu corri aos tropeços em direção ao meu quarto. Eu ainda não conseguia sequer pronunciar sílabas. Por isso eles acreditaram que Papa jamais descobriria.

   Mas no meio do caminho, ele estava andando pelas selas, e acabei tropeçando nele. Eu estava com roxos em meu pescoço, respiração ofegante, e sangue escorria pelas minhas pernas, por baixo da minha camisola.

  Quando ele me olhou, eu vi a morte. Eu não sabia que podia ser um sentimento. Mas eu a vi. A senti nos olhos dele. Eu esperei que ele me batesse. Esperei pela surra que ele havia dito que me daria caso eu fizesse algo de errado.

   Ainda me lembro de achar que ele me puniria por estar deixando um rastro de sangue por onde eu passava. Eu nem precisei escrever para que ele entendesse o que tinha acontecido.

  Papa me pegou no colo com cuidado, e me levou de volta pelo caminho que eu havia percorrido, apesar dos corredores, o rastro do meu sangue denunciava. Quando chegamos onde tudo tinha acontecido, os guardas e meu abusador riam fora da cela.

  Até me verem nos braços de Papa.

  Ele apenas disse uma palavra.

  — Quem? — perguntou como uma sentença de morte.

  Mas eles haviam sido ensinados a não dedurar. Jamais. Dedurar. E eu aprendi aquela lição naquele dia. Quando vi todos protegerem o meu abusador.

  Papa olhou para mim, mas eu já estava olhando para meu abusador. Acho que foi a primeira vez que tremi de medo. Medo de sentir aqueles sentimentos novamente.

  Papa apenas retirou uma de suas armas que ficavam expostas na sua cintura e a entregou para mim. A arma era grande em minhas mãos. Gelada. Fria. Escorregadia por conta do suor entre os meus dedos.

  — Mate — Papa sussurrou para mim.

  Uma ordem. Uma ação. E eu o fiz, sem realmente saber exatamente como segurar um revólver. O corpo do meu abusador caiu em câmera lenta diante dos meus olhos.

  Eu me lembro de segurar a arma com mais força e atirar nos outros três. Havia sido a primeira vez que eu matava alguém. Minha primeira vez segurando um revólver. Com apenas 6 anos.

  Papa nunca contou para ninguém o que havia acontecido, e ao questionado pelas mortes, assumiu todas elas, mentindo dizendo que ouviu eles falarem mal do na época Supremo da academia.

  Por isso, meu cabelo era minha maior conquista. Eu só usava cabelos soltos. Mas cada vez que eu matava, conquistava algo, vencia algum desafio, Papa permitia que meu cabelo crescesse, e trançava-os com fios de ouro.

  Eu jamais havia sido derrotada, e agora, duas tranças balançavam atrás de minha cabeça cada vez que eu dava um passo. Ambas chegando ao meu tornozelo.

  Eu vestia uma calça preta de couro, com um cinto onde dois coldres, cada um em um lado, descansavam duas armas. Botas até minhas canelas, com fivelas, onde o interior delas escondiam diferente tamanhos de facas.

Born To Kill : Nascida Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora