× Prólogo ×

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Goiânia, Brazil.

Dez anos atrás.

— Por favor, mamãe! — Implorava a pequena Maraisa, com um biquinho nos lábios. — Nós não vamos demorar!

— É, por favor! Nós só vamos até o parque! — Pedia a outra, tentando convencer a mais velha.

— Meninas... — Começou a mãe, observando as duas amigas à sua frente, implorando por um pouco de compreensão
.
— Por favor... — Maraisa suplicou, fazendo com que a mais velha assentisse, suspirando.

— Certo, podem ir. — As duas pequenas sorriram vitoriosas, logo correndo em direção ao tão amado parque. — Mas não demorem!

Enquanto a mais velha se preocupava em terminar de arrumar as caixas, Marília e Maraisa corriam rapidamente até o parque. Ambas disputavam o primeiro lugar na corrida, que terminaria com a chegada em frente ao ipê amarelo. Marília fora a primeira a chegar, conquistando o primeiro lugar, como de costume.

— Ganhei! — A mais nova abriu um sorriso vitorioso, que foi recebido por uma careta da parte de Maraisa.

— Não valeu! — A pequena fez birra. — Você sempre foi mais rápida! Então por que insiste em apostar? Sabe que eu nunca vou ganhar mesmo... — Maraisa terminou de falar, triste.

— Ei, Maraisa... — Marília a chamou, mas não obteve a atenção que queria. — Maraisa!

— Ai! o que é?! — A pequena bateu o pé, arrancando uma gargalhada da amiga.

— Não fique assim! Na próxima você ganha... — Maraisa fez um biquinho triste, sentindo os pequenos olhinhos marejarem.

— Não vai haver próxima, Lila... — Confessou, sentando-se na grama.

— O que? Por quê? — Marília perguntou em um tom preocupado, sentando-se ao lado da amiga. Maraisa não respondeu, apenas continuou a fitar a mais nova. — Isa... Você não quer ser mais minha amiga? — A pequena sorriu ao ouvir o apelido, carinhosamente dado por Marília.

— É claro que quero ser sua amiga! É só que... — A pequena respirou fundo, fechando os pequenos olhinhos para, então, continuar. — A mamãe disse que vamos nos mudar...

— Mudar? — Perguntou Marília, sentindo seus olhos marejarem ao ouvir a confirmação da amiga. — Isa...

— E-eu não quero ir... — Confessou a pequena, agora abrindo os olhos lentamente. Observou a amiga se aproximar, fazendo com que suas bochechas tomassem um tom rosado. A pequena Marília sorri tímida, logo abraçando a mais velha. — Me perdoe por não contar antes... E-eu não queria que nossos últimos dias fossem tristes... Marília...

— Maraisa...

Então, as duas pequenas ficaram em silêncio. Deitaram-se na grama, e Marília, carinhosamente, convidou a mais velha para deitar-se em seu peito. Ambas aproveitaram o silêncio, enquanto observavam o lago à sua frente. Após longos minutos, Maraisa lembrara-se que deveria estar em casa, pois logo iria embora. Recostou-se no tronco do ipê, fitando a mais nova de olhos fechados.

— Pare de me encarar. — Pediu, fazendo Maraisa ficar totalmente envergonhada.

— D-desculpe... — Pediu ao que Marília sentara-se ao lado da amiga, logo a abraçando.

— Estou só brincando, Isa... — Maraisa riu baixo, recebendo um beijo na bochecha.

A pequena estranhou o ato, mas não reclamou, afinal, havia gostado. A mais velha nunca reclamava de nada que vinha de Marília, seja uma crítica sobre seus vestidos floridos ou beijos roubados. Dizer que as duas se gostavam era pouco, elas se amavam. O que não sabiam, era que esse amor ia muito além de amizade.

— A minha vida toda está aqui. — Comentou a mais velha. — Quero sempre me lembrar do parque...

Marília ouvia atentamente as palavras da amiga, e sorriu ao ver as flores do ipê no chão. Enquanto a pequena lamentava a mudança, Marília retirou de seu bolso um anel com pequenas flores brancas e detalhes dourados.

— Maraisa... — A mais nova chamou, recebendo a atenção da amiga. — Aqui. — Marília puxara a mão da amiga para si, sentindo um arrepio gostoso passar por seu corpo. Com um sorriso bobo nos lábios, a mais nova deslizara o anel pelo dedo anelar da outra. — Você disse que queria se lembrar do parque... — Maraisa sorriu feliz ao analisar o delicado anel em seu dedo.

— Obrigada, Lila...

— Quando crescermos, iremos nos casar, não é? — Maraisa assentiu freneticamente, recebendo um sorriso da mais nova. — Promete? — A mais velha assentiu novamente. — Então, considere este seu anel de noivado.

— Mal posso esperar para crescermos! — Maraisa sorriu, ainda fitando o anel. — Mas... Até lá, não se esqueça de mim!

Após todas as juras, as duas se levantaram. Caminharam lentamente pela calçada, rindo de bobagens alheias. Ao aproximarem-se da casa, as duas crianças viram o pai de Maraisa trancando a porta da casa e a mãe batendo pé impacientemente à espera da filha.

— Mamãe! — A pequena correu até sua mãe, sendo recebida por um abraço. — Olha só! — Disse, exibindo seu anel.

— Ah, que lindo, meu amor... Foi a Marília quem lhe deu? — Maraisa assentiu sorrindo.

— Quando crescermos, vamos nos casar!

— É claro que sim... — A mãe disse rindo, balançando a cabeça negativamente. — Agora, despeça-se de Marília.

Maraisa virou para a amiga - agora noiva -, que já a esperava de braços abertos. Abraçaram-se forte, prolongando o ato até serem despertadas pela buzina do carro. As duas crianças se separaram, e ambas carregavam expressões tristes em seus rostos.

— Vamos, querida? — Chamava a mãe, estendendo a mão para a filha. Maraisa caminhou até a mais velha, segurando sua mão e acenando para Marília com sua mão livre.

As duas entraram no carro, o qual já estava carregado com as bagagens. O pai deu partida, e Marília acompanhou o carro nos primeiros metros, correndo.

— Maraisa! Não esqueça a nossa promessa!

— Eu nunca vou esquecer! — Gritou, observando a amiga parar de correr aos poucos. — Eu nunca vou esquecer...

memories. - malilaOnde histórias criam vida. Descubra agora