× Capítulo Vinte ×

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— Sente-se corretamente, por favor. — Pediu, e rapidamente eu endireitei minha postura, sentando-me ereta no sofá.

— Mãe, aconteceu algo?

— Sim, Maraisa. — Disse ela, cruzando as pernas.

—.Aconteceram várias coisas. Vamos começar pelo seu término com Danilo. — Droga...

— O quê... O quê há de errado?

— Como assim, Maraisa? Por que vocês
terminaram um relacionamento tão bonito? Tão duradouro... O quê houve com vocês?

— Danilo... — Me traiu na maior cara de pau. — N-nós já não éramos mais compatíveis.

— Explique-se.

— Mãe, nosso relacionamento se desgastou.
Já não havia mais aquela magia. E... Minhas
amigas conversaram comigo. Elas me
apoiaram.

— Suas amigas? — Minha mãe bufou
impaciente. — Esqueça o que elas disseram.
Você não precisa delas. Você precisa se
reconciliar com Danilo. Os pais dele
frequentam a mesma igreja que nós. Com que cara eu vou falar com eles?

— Mãe, a senhora não pode me obrigar a
namorar com ele.

— Claro que posso. — Rebateu. — Mas não
vamos falar sobre isso agora. Imagino que
vocês precisem de um tempo longe um do
outro. Daqui a alguns dias vocês voltam a se
falar.

— Mãe! Eu não quero voltar com ele!

— Por que não?

— Por que ele é um idiota! — Exaltei-me. — Por que quer me obrigar a namorar com alguém que eu não gosto mais?!

— Abaixe o tom de voz, mocinha. —
Ordenou e eu respirei fundo. — Quando
seu pai morreu... Os pais de Danilo nos
ajudaram com as despesas do funeral. Até
mesmo quando eu precisei de emprego eles
me ajudaram. Nós devemos isso a eles. —
Argumentou. — Danilo é um bom garoto,
Maraisa. Será um ótimo marido um dia.

— Por favor... A senhora já está pensando em casamento?

— Não, não, Maraisa. Esqueça isso por enquanto.

— Certo. Era só isso?

— Não. — Disse, de repente parecendo mais
séria e preocupada. — O que eu realmente
queria falar com você... É sobre...

— Sobre? — Incentivei.

— Maraisa, querida, quando o seu pai morreu... Eu sofri muito. — Disse, respirando fundo. — Ele foi o único homem a quem eu já amei. Após a sua morte, eu dediquei-me inteiramente a você. Tudo o que eu faço é para o seu bem.

— Isso... Ainda tem haver com Danilo?

— Não, querida. Deixe-me continuar. —
Pediu, e eu assenti, insegura. — Eu dediquei
minha viuvez a Deus. — Respirou fundo
novamente. Mas por que está tão nervosa? — O que eu quero dizer... É que, após muitos anos, Deus finalmente me concedeu a oportunidade de amar novamente.

Nesse momento o ambiente ao meu redor,
literalmente, congelou. Eu já não ouvia minha respiração. Era como se o mundo houvesse parado. Minha mãe... Não está falando que ama a outro homem. Isso não pode ser verdade... Não... Não pode! Ela ama ao meu pai, e apenas a ele!

— Mãe... A senhora..

— Sim, Filha. Eu amo a outro homem. Eu
espero que entenda, querida...

— E-eu... Eu... Preciso ficar sozinha.

— Maraisa...

— Eu preciso pensar. Por favor. — Supliquei.

Minha mãe apenas assentiu, e eu pude
finalmente caminhar até meu quarto, ainda
atordoada com o que ela acabara de dizer.
Agora tudo faz sentido. As ligações que ela
recebia constantemente. As suas saídas pela noite. Todo aquele mistério...

Joguei-me em minha cama, afundando o rosto no travesseiro. Abafei um grito histérico e após mordi com força a fronha branca.

— Que merda... — Praguejei.

Está tudo tão confuso! E há tantas perguntas... Por que isso tinha que acontecer agora? Já não bastava toda a confusão relacionada à Marília? Não, o destino tinha que me sacanear novamente.

Disquei o número de Maiara, apertando meu celular fortemente entre os dedos enquanto algumas lágrimas molhavam meu rosto.

— Maraisa?

— Oi, Maiara...

— Está tudo bem? — Perguntou preocupada. — Você parece meio apreensiva...

— Maiara... Eu não quero ficar em casa hoje... — Funguei. — Eu preciso conversar com alguém.

— Tudo bem. Vamos fazer o seguinte: hoje à
noite vou convidar Marília para dormir aqui em casa. — Disse. — Vamos fazer uma noite entre as garotas.

— Mas... E Gustavo?

— O quê tem?

— Você não vai convidá-lo? — Perguntei,
ouvindo um suspiro frustrado de Maiara. — Eu sei que não tenho direito de te pedir isso... Mas eu realmente preciso de vocês três comigo.

— Quer me contar?

— Não. Eu quero falar com os três. Por favor...

— Certo... — Concordou Maiara após alguns
segundos. — Vou avisá-los.

— Obrigada... — Agradeci, sorrindo
minimamente. —Ah, e... Compre muito
sorvete, por favor.

•  •  •

Já era noite e eu encontrava-me arrumando
minha mochila com mais alguns pertences.
Vesti um moletom rosa bebê por cima da
blusa e coloquei a mochila nas costas,
respirando fundo antes de sair do quarto.

Eu não havia falado com minha mãe durante o dia, nem ao menos para pedir se poderia ir à casa de Maiara. Eu apenas a avisei, por mensagem, que dormiria na casa de uma amiga da igreja. Minha mãe concordou, mas acho que apenas sentia-se culpada por jogar uma bomba em minha cabeça.

— Eu já vou indo, mãe. — Avisei ao que a
encontrei sentada no sofá, lendo uma revista.

— Cuide-se, querida... — Pediu ela,
abraçando-me. — Maraisa... Eu sinto muito por hoje mais cedo. Eu sei que-

— Mãe, a senhora merece ser feliz. E... Ele
ficaria feliz por você.

Após alguns minutos rápidos de conversa,
eu finalmente pude pegar um táxi e ir para
a casa de Maiara. Eu realmente precisava
conversar com alguém.

O carro parou em frente à moradia rosa
pastel e eu paguei ao motorista, saltando
para fora do carro. Abri o portão e caminhei em direção à porta, tocando a campainha da mesma. A ruiva atendeu-me segundos após.

— Maraisa... — Senti os braços da
ruiva rodearem minha cintura, e eu
aconcheguei-me em seu abraço. — Entre.

Adentrei a casa, encontrando Marília na sala. Minhas bochechas esquentaram quando a loira direcionou seu olhar para mim.

— Olá, Maraisa...

— Marília... — Sentei-me ao seu lado. — Gustavo já chegou?

— Aqui, princesa do drama... — Disse o moreno saindo da cozinha com algumas latas de refrigerante em mãos. — Eu realmente não queria vir. Tinha planos interessantes para essa noite... Então, acho bom que seja algo importante.

— Gustavo! — Jennie repreendeu-a. — Você sabe que Maraisa-

— Eu sei, eu sei... — Ele revirou os olhos. — Isa... Só estou brincando. — Lisa
abraçou-me e após apertou minhas
bochechas. — Estou aqui para o que precisar, te amo. — Sussurrei um "também te amo" de volta.

— Okay, então pode começar a explicar. —
Pediu Maiara entregando-me um pote de sorvete de morango e uma colher.

memories. - malilaOnde histórias criam vida. Descubra agora