× Capítulo Quatro ×

566 82 17
                                        

— Muito bem, Marília Mendonça, sente-se... — O professor pareceu analisar a sala, em busca de um lugar para a aluna nós. — Atrás de Fernanda.

— Se não se importar, professor, eu gostaria de me sentar atrás de Maraisa. — Disse ela, e meus olhos arregalaram-se. Ela sabe meu nome?

O professor não protestou, apenas assentiu encaminhando-se à sua mesa. Marília sentou-se atrás de mim, e um calafrio percorreu minha espinha.

Por algum motivo eu não conseguia prestar atenção na aula do professor, e nem era por que a explicação estava maçante demais. Apenas não conseguia. Tentei, mais uma vez, focar no assunto, quando sinto dedos gélicos sob meu ombro descoberto. Um arrepio percorreu o local, e em seguida uma respiração morna ousou tocar meu ouvido.

— Me empresta uma caneta? — Perguntou, e por algum motivo eu me senti presa à suas palavras, mesmo que fosse um mero pedido. — Esqueci meu estojo em casa.

— C-claro... — Rapidamente, revirei meu estojo em busca de uma caneta que estivesse em bom estado, sem marcas de mordida. Acabei pra encontrar uma, a minha favorita. Era rosa e continha desenhos de ursinhos. — A-aqui está.

— Obrigada, Maraisa...

Voltei à minha antiga tarefa: tentar prestar atenção na aula. Mesmo que eu sentisse o olhar de Marília sobre mim, eu precisava focar minha atenção, já que era extremamente desconfortável saber que a loira me encarava intensamente.

Bufei impaciente ao notar que Marília ainda me fitava. Seu olhar estava em mim. Eu sentia isso. Ela não tem que prestar atenção na aula? Comecei a batucar minha unhas na mesa, em um ato de nervosismo.

— Será que você poderia parar de me en-

Parei de falar ao virar-me para trás e perceber que a loira não me encarava. Pelo contrário. Seu olhar estava focado em seu caderno, onde ela anotava rapidamente o conteúdo. Seu olhar levantou até mim, encontrando meus olhos. Senti minhas bochechas esquentarem, e Marília sorriu divertida, dessa vez passando a me fitar.

— Algum problema, Maraisa? — Perguntou em um sussurro, e eu neguei com a cabeça e virei para a frente novamente.

Ouvi ela rir baixo, e naquele momento eu me senti patética, muito patética. Encolhi-me na cadeira, pensando em mil e uma formas de sumir daquela escola.

•  •  •

O sinal soou e eu suspirei aliviada, guardado o caderno de matemática juntamente com meu teste, que eu havia tirado um oito.

Levantei-me rapidamente, arrastando Maiara e Gustavo comigo. Os dois murmuravam palavrões baixos, mas eu ignorei, arrastando-os até o pátio, onde finalmente os soltei.

— O que foi isso, Maraisa?! — Perguntou Maiara, alisando o braço.

— Você quase arrancou meu pulso! — Gustavo resmungou, mostrando-me as marcas de minhas unhas.

— Me desculpem... Eu só.... Argh, aquela garota!

— Quem? Marília? — Maiara perguntou e riu.

— E falando nela, que surto foi aquele?

— Ah, e-eu achei que ela estivesse me encarando...

— E?

— E eu fiquei com vergonha! — Admiti, e os dois riram.

memories. - malilaOnde histórias criam vida. Descubra agora