Wicked Game

The Promise

Tiffany-

As duas vozes se misturavam em um couro grave que chegava a ser assustador para mim, pois eu nunca as tinha escutado juntas dessa forma antes. O olho direito agora escuro, me deixava arrepiada me fazendo questionar como uma segunda personalidade tinha o poder de mudar até fisicamente o corpo do seu hospedeiro?! Era incrível e ao mesmo tempo a coisa mais maluca que eu já tinha visto. Achei que não poderia mais me surpreender, mas ela sempre achava uma forma de se subestimar.

A doutora Kim Seolhyun e eu conversávamos muito quanto a condição da Tae, e em uma dessas conversas ela me falou sobre isso, mas pra ela, essa possibilidade estava fora de alcance. Para que Taeyeon e Taeha se unissem em uma só, as duas teriam que estar de acordo, teriam que estar na mesma sintonia de pensamentos, vontades e o mais importante: sentimentos. Com o histórico de ódio que Taeha tinha quanto a maioria das pessoas que Taeyeon amava, aquilo seria no mínimo impossível, mas o que está na minha frente agora parece bem real.

Ao observar detalhadamente as expressões, jeitos, voz e principalmente os olhos da minha namorada, era nítido que ela não estava sozinha ali. Taeha estava com ela, não controlando as suas ações como das outras vezes, mas se expressando e ao mesmo tempo a deixando se expressar também. As duas estavam unidas em querer salvar Jessica do mal que ela faria a si própria. Nunca pensei que Taeha fosse capaz de colocar o bem estar de alguém na frente do dela ou do de Taeyeon mas agora vejo que a julguei precipitadamente. Assim como Taeyeon, Taeha também estava evoluindo em seu jeito de ver o mundo, e as pessoas ao seu redor. O ódio que ela tanto supria por todos nós deu lugar a uma pequena chama de empatia e até mesmo cuidado. Não comigo, é claro. Mas com a garota que ela por tanto tempo acreditou ser a culpada pelos abusos do tio da Tae não terem cessado.

Agora estávamos lá, nós três nos encarando. Achei que ao perceber que as duas estavam ali juntas Yuri ficaria assustada, confusa ou com receio de nos seguir mas ela apenas pareceu intrigada e curiosa com toda a situação. Taeyeon levantou da cama me segurando pela mão delicadamente, me fazendo levantar junto a ela. Com apenas um olhar entendemos o que ela queria. Nós íamos para a penitenciária feminina de Seul e moveriamos céus e terras para ver aqueles olhos castanhos mais uma vez. Ela não nos deixaria agora, sem dúvidas nós a impediriamos.

Em pouco tempo Taeha já dirigia o carro às pressas, eu estava sentada ao seu lado e Yuri no meio do banco traseiro ligava para seus advogados, avisando-os do nosso atual destino. Ela não lhes deu muitos detalhes do porque nossa repentina visita a Jung estava acontecendo, apenas queria os deixar cientes de que iríamos lá e que a presença deles poderia ser necessária caso não nos deixassem entrar ou Taeha socasse alguém. Tudo poderia acontecer e isso só nos deixava mais aflitas sobre como lidar com a atual situação.

Era ótimo ter Taeha finalmente do nosso lado, trabalhando para nos ajudar, nos proteger ao invés de sempre ficar contra nós fazendo de tudo para nos afastar da Tae. Esperamos muito por isso e de jeito algum eu estava reclamando, mas devo dizer que isso também era assustador. Nós não conhecíamos Taeha o bastante como conhecíamos Taeyeon, ela era literalmente alguém que poderia ser capaz de qualquer coisa para ter o que deseja e isso nem sempre é uma dádiva. A única coisa que me tranquilizava um pouco era saber que Taeyeon também estava nisso, estava ao lado dela estando ciente de todos os pensamentos, sentimentos e principalmente ações da garota. Se Taeha chegasse a pensar em fazer alguma loucura na penitenciária, eu esperava que a Taeyeon a controlasse de alguma forma.

Não demorou muito até chegarmos no local, senti um arrepio súbito percorrer a minha espinha ao passar pelos portões pesados de ferro. Olhos grudados em nós, observando cada mover do carro, tinha câmeras em todos os lugares da entrada principal e guardas em cada canto, provavelmente para evitar que alguém não autorizado saísse e alguém não autorizado entrasse. Taeha estacionou o carro próximo a entrada principal e Yuri pulou para fora em seguida, as duas pareciam estar ansiosas demais para dizer o mínimo. A viagem toda foi puro silêncio, só a voz de Kwon no telefone foi ouvida, depois disso nada. Talvez não tivesse mais muito o que ser dito, apenas o que ser feito.