Wicked Game

I Miss You

Me perdia entre o som tão perfeito e ao mesmo tempo tão triste, que vinha das teclas do piano em que eu me concentrava tocando melodiosamente, aquela música que me dizia tanto sem dizer palavra alguma, aquela melodia que me contava a história de uma garota triste em meio a tristeza de ter seu amor perdido para sempre, entre o desespero e a incerteza eu cantava. 

O mundo estava em chamas e ninguém podia me salvar a não ser você
É estranho o que o desejo faz as pessoas tolas fazerem
Eu nunca sonhei que conheceria alguém como você
E eu nunca sonhei que perderia alguém como você
Não, eu não quero me apaixonar
(Esse amor vai quebrar seu coração)    
Por você...

As teclas de um piano podem contar histórias tão lindas e as vezes tão tristes... Minhas mãos se moviam rápido tocando com habilidade em uma conversa entre mim e ele até que em lágrimas não consegui termina-la.

Me lembrei de quando brigamos pela primeira vez, minha cabeça estava uma confusão de sentimentos, raiva e tristeza se misturavam e eu simplesmente não sabia o que fazer. Eu andava de um lado ao outro do meu quarto procurando algo que eu pudesse quebrar para tirar minha atenção das lágrimas que começavam a deixar meus olhos sem permissão.

Foi então que a ouvi, sua voz baixa e rouca como a de alguém que passou o dia chorando ou gritando. Ela cantava no jardim da minha casa, abaixo da minha janela. Seus olhos vermelhos, segurando um violão velho pelo uso exagerado enquanto uma lágrima escorria por sua bochecha. Foi a primeira vez que a ouvi cantar, e desde então essa se tornou a minha música.

Apoiei meus braços cansados em cima das teclas ouvindo seu ruído alto logo depois, com a cabeça sobre eles tentei controlar minha respiração que já estava acelerada, com um nó na garganta que me fazia querer gritar de dor, uma dor que não tinha nenhum remédio, nenhuma solução. Eu estava exausta, tanto psicologicamente quanto fisicamente. 

Meu corpo todo doía por dentro e por fora, parecia que metade de mim fora arrancado e levado pra longe e eu não pudesse viver sem essa parte, me sentia morrendo aos poucos cada vez mais, cada dia mais. Como ela pôde ter levado tanto de mim com ela ? Eu me perguntava. Como eu podia ser tão dependente dela ? Como a minha vida deixou de ter sentido sem ela ? Como cheguei a isto, a essa dor que não sai de mim e não me dá descanso a dois longos e tristes anos ? Eu não conseguia responder.

—Você por aqui... - Ouvi uma voz e logo depois passos caminhando até mim, levantei a cabeça com cautela e a observei me encarando com um sorriso de meter inveja a qualquer um. Seus cabelos negros, assim como seus olhos combinavam perfeitamente com sua jaqueta de couro preta, uma blusa regata branca e sua já conhecida calça jeans rasgada. Ela estava impecável como sempre.

— É o único lugar em que consigo ter um pouco de paz. - Estar naquela sala de música me deixava mais calma de alguma forma, sempre que me sentia exausta e triste, me entregava a aquele piano de corpo e alma e ele me restaurava de tudo de ruim que podia existir em mim.

—Entendo... Bem, vou aproveitar o nosso encontro para te perguntar algo, ok ? 

 — Tudo bem, o que quer ? - Falei um pouco apressada pra saber o assunto da conversa.

—Wow, calma aí, gata. - Ela respirou fundo. — Queria saber se.. se você está bem ? Eu ouvi alguns professores conversando sobre as suas faltas na faculdade, e me parece que falta pouco pra você perder o semestre. - Sua pergunta me fez pensar se eu deveria respondê-la ou não. Yuri e eu não éramos o tipo de amigas que dividem segredos, na verdade nem éramos amigas, apenas colegas de faculdade, mais nada. A sua feição entregava um pouco de preocupação comigo.