tudo por nós • Maiara & Maraisa

Capítulo 14

Pov Maiara

Entrei no quarto e vi minha irmã dormindo tranquilamente, com ataduras nos braços e coxas. Seus longos cabelos negros caindo sobre os ombros, como de costume. Me aproximei, acariciando sua bochecha e lhe dando um beijo na testa. 

Mai: você vai ficar bem, minha vida... - sorrio levemente - eu te amo, tá? 

Alm: filha, você teve emoções demais por hoje, vá pra casa. - minha mãe me abraça - eu vou ficar aqui com a sua irmã, ok?

Mai: tudo bem, mãe...

Eu e Paulinha vamos pra minha casa de uber. Depois de tomar um banho, coloco um pijama rosa e branco com um cachorrinho na frente. Sem conseguir dormir, vou pro quarto da Maraisa e sento na cama, sentindo seu cheiro marcado nas cobertas. Sorrio levemente ao ver a bagunça em seu criado mudo e começo a arrumá-lo. Em meio aos bonés e papéis espalhados na gaveta, encontro um caderno, mas não o de composições. Começo a folhear, constatando que é o diário da minha irmã, do qual nunca soube da existência.

"Eu tô me sentindo um lixo, e sinceramente, isso é uma merda. Só queria desistir, mas não posso, ela precisa de mim.."

A cada pagina lida, sinto a dor que minha irmã guardou pra si por tanto tempo. Respiro fundo, continuando a leitura. 

"você é e sempre será  só a sombra da sua irmã. Você não é nada mais, nada menos, que uma menina idiota, você não é motivo de orgulho pra sua mãe, sua irmã é. Foram essas as amargas palavras que ouvi da minha madrasta. Palavras me atingiram como facas. Cesinha e Maiara merecem muito mais do que uma pessoa morta por dentro pode dar."

"eu subi naquele palco, diante de milhares de pessoas e dei tudo de mim. É incrível como estar aqui com minha irmã me faz ser outra pessoa. Se eu pudesse, viveria aqui, apenas pra não encarar de frente o inferno que é a minha vida pessoal. Tudo que eu mais queria era saber o que fizemos pra cair nessa teia de maldades daquela mulher, em que momento estar em família se tornou uma tortura." 

"hoje, antes de entrar no palco, me peguei pensando em quão fundo precisaria cortar pra morrer. Olhei pro lado e vi a Maiara brincando e pulando pelo camarim. O que eu fiz? Desisti. Vale apena tentar um pouco mais, por ela."

"e se a solução pra parar de sentir essa dor seja, simplesmente, parar de sentir qualquer coisa pra sempre?"

"hoje, aprendi que enquanto algumas palavras nutrem sua alma, outras podem matá-la."

Isso foi o suficiente pra mim. Guardei o diário e continuei mexendo na gaveta, encontrando mais cartas. Deus, ela planejou isso muito bem. Como não percebi isso antes? Não deveria estar fazendo isso, mas abri a primeira carta, endereçada a Lila. 

Querida Marília,

Se você tá lendo isso, quer dizer que eu não consegui aguentar mais, o que é uma merda. O que tenho a dizer nessa carta é confuso demais pra mim, mas chegando ao ponto, Mendonça, eu queria dizer pra você nunca parar de ser doida. Mesmo que me irrite, continue rindo escandalosamente. Tudo tá tão escuro e sufocante, mas você e a Mai continuam sendo minhas lembranças mais felizes. Vocês duas estiveram presentes nos momentos mais felizes da minha vida e caralho, como isso é brega. Mas já que eu tô morta, eu quero ser sincera. Obrigada por ter me suportado em todas as vezes que eu fiz merda, e citando uma frase extremamente importante pra nós, Patroas é infinito. Você sempre teve as chaves do meu coração, Mendonça, mas nunca precisou delas. Sinto muito por não ter sido forte o suficiente. Por favor, cuida da Maiara, como eu cuidaria. 

Da sua parceira de bebedeiras, 

Carla Maraisa