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Draco já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha agradecido à Mérlin por Scorpius estar bem e salvo. Sabia que nada de tão ruim poderia ter acontecido com ele num hospital trouxa, ainda mais quando ninguém sabia que a família Malfoy estava de volta a Londres depois de uma longa temporada na Itália, mas ele havia aprendido há tempos que, por ser pai, a preocupação era sua mais nova companheira e ela não iria embora tão cedo.

Depois de conversar com o filho e garantir que ele realmente estava bem, Draco se trancou no escritório por cinco minutos, enchendo um copo com uísque e virando-o em um gole só. Havia pensado muito antes de decidir retornar à Inglaterra, mas sabia que era o melhor para seu filho naquele momento, além de lhe dar uma oportunidade para espairecer dos últimos anos. Narcisa decidira não voltar no primeiro momento, sabendo que, no fundo, Draco precisava daquele sentimento de liberdade, que ele precisava aprender como seria sua vida agora que Astória já não estava mais com ele.

Malfoy havia sido contra aquele casamento arranjado de mais formas que fora capaz de argumentar, e ele argumentou. Sabia que estavam "prometidos" desde o nascimento dela, mas não significava que ele gostava da ideia de ter que se casar com uma pessoa apenas por conveniência; antes da guerra ele havia se contentado por conta da supremacia de sangue que pairava em sua cabeça, mas conforme os anos passavam e Lord Voldemort se fazia mais presente dentro de sua própria casa, as coisas foram mudando dentro da cabeça de Draco também. Óbvio que ele não acreditava naquela baboseira toda de amor, viver felizes para sempre e blábláblá, mas ele e Astória mal se conheciam, qual o sentido de ter que passar o resto da vida juntos? Draco sabia também que aquele era um caso perdido quando Narcisa argumentou que eles precisavam daquilo, que a família deles precisava, e no fim das contas, foi isso que o fez tomar a melhor decisão de sua vida.

Não demorou mais que dois meses depois de concluir os estudos em Hogwarts - por obrigação de sua sentença pós-guerra - para que o casamento fosse realizado, a última grande festa com a ilustre presença de Lucius Malfoy em vida, o casamento que marcou o início de uma nova fase para todos os ex-seguidores de Voldemort que aceitaram a rendição e a busca por uma nova vida, agora baseada no caminho certo, no caminho do bem. Ele e Astória tiveram pouco contato antes do grande dia, e não fora surpresa nenhuma o fato de terem demorado para se adaptar um com o outro quando a responsabilidade do casamento bateu na porta deles, mas quando finalmente resolveram se dar uma chance, se tornaram bons amigos - até Draco finalmente dar o braço a torcer e deixar que seu coração interferisse na história deles dois, apaixonando-se por ela gradativamente. Quase três anos depois do casamento, o melhor presente da vida deles foi concebido e eles não poderiam ter vivido uma vida melhor - não até a maldita notícia sobre a saúde de Astória.

A maldição de sangue que assombra as mulheres de famílias puro-sangue não demonstrava sua presença até ser tarde demais e, mesmo com toda a evolução dos últimos anos, não tinha cura. Ninguém tinha como prever quem seria a pessoa a sofrer com as consequências e muito menos qual seria o gatilho para ativá-la, e por mais precavidos que ele e Astória tivessem sido, não tardou muito mais que o sexto aniversário de Scorpius para que ela começasse a demonstrar os primeiros sinais. A doença começara como uma gripe qualquer, nada que um bom chá e uma boa noite de sono não resolvessem, mas quando os primeiros dez dias se passaram e a situação começou a piorar, Draco se permitiu ficar preocupado. Observou sua esposa piorar cada vez mais no decorrer daquele ano, apesar dela tentar, a todo custo, não demonstrar na frente dele ou de Scorpius, que não entendia muito bem tudo o que estava acontecendo, mas gostava de poder ficar lendo histórias com a mãe nos fins de tarde em que ela não se sentia tão bem para fazer algo além de descansar na cama.

Lembrava-se muito bem de como se sentia impotente, ainda mais como curandeiro, ao vê-la adoecer, mas encontrou um pingo de conforto ao tornar os últimos dias de Astória os melhores possíveis. Ele e Scorpius haviam feito uma espécie de cronograma, com atividades e passeios que ela ainda seria capaz de realizar e aproveitar, e Draco pediu afastamento do hospital onde trabalhava para que pudessem colocar os planos em prática: desde os chás com Dafne e Narcisa em diferentes cafés e gazebos chiques, a passeios em museus que ela sonhara em conhecer ou parques onde eles pudessem observar Scorp brincar livremente. Astoria havia conseguido descansar em paz, apesar de tudo, mas isso não tirava a culpa do coração de Draco por não ter conseguido salvá-la. Ainda lembrava da sensação que o preenchera quando a esposa deu seu último suspiro de vida, e como havia sido contar para o filho que ela não voltaria mais para casa, lembrava muito bem do sentimento de insuficiência toda vez que Scorpius acordava de um pesadelo pedindo pela mãe, mas ele havia prometido a ela que faria seu melhor.

E por isso a decisão de retornar a Londres.

Havia se afastado do lugar que havia lhe causado tanto sofrimento para cumprir a sentença em uma casa no interior da Itália, para que pudessem ter um breve período de paz, para que pudessem recomeçar e deixar todo o luto e tristeza passarem, para que pudessem curar-se de tudo aquilo que o destino traçou para eles, e ali estava ele, fugindo de suas dores mais uma vez. Quando ele comunicou ao ministro sobre sua vontade de sair da Itália, Kingsley fora bastante direto e sucinto ao propor-lhe um único caminho de volta: Londres. Em um primeiro momento, ele não entendeu muito bem se o Ministro da Magia achara que aquilo serviria como punição para ele, como um bônus por sua sentença - a qual ele já havia cumprido e cumpria todos os dias pelos olhos da sociedade, mas a volta para a Inglaterra caíra como uma luva, ainda mais por seu novo cargo ter uma exigência específica: ele trabalharia na Londres Trouxa.

Sabia que seria um novo desafio para Scorpius começar a conviver com crianças da mesma idade que ele, mas sabia também que seria um desafio ainda maior começar a conviver com pessoas não-magi, não quando em casa ele tinha toda a liberdade do mundo para descobrir como a magia funcionava. Ele e Astória haviam conversado sobre a educação dele, e haviam concordado que apesar dos professores particulares e regras de etiqueta que sabiam que ele ia precisar aprender - por ser de uma família dos Sagrados 28, queriam que ele, ao contrário dos pais, pudesse ter uma infância mais normal possível. Apenas nunca pensaram que uma escola para crianças trouxas fosse fazer parte da história. Se Draco Malfoy de alguns anos atrás soubesse que estaria considerando esta possibilidade para seu filho, com toda certeza teria se jogado da Torre de Astronomia sem pensar duas vezes. Mas os tempos eram outros, e a única coisa na qual ele conseguia pensar era em fazer o melhor para Scorpius, fosse o que for.

Com esse pensamento em mente, largou o copo de volta ao minibar que mantinha no escritório, oculto por um feitiço simples que impedia que qualquer outra pessoa mexesse, e saiu do cômodo, o casaco do paletó esquecido na poltrona próximo a janela. Foi até o quarto do filho e observou-o da porta enquanto ele brincava com alguns bonecos de quadribol que avós tinham lhe presenteado no último aniversário, apoiando-se no batente da porta.

— Papai! — Scorpius correu até ele, sendo muito bem recebido em um abraço que o tirou do chão. — Você não parece mais estar bravo.

— Eu não estava bravo, filho.

— Mas estava sério, com sua cara de bravo — o mais novo argumentou, os braços ainda ao redor do pescoço do pai.

— Eu estava preocupado, você me assustou hoje — Draco respondeu, beijando o topo da cabeça de Scorpius.

— Foi sem querer, papai. Eu juro.

— Eu acredito em você, Scorp — respondeu, olhando para o filho — Mas fiquei assustado mesmo assim, você sabe como é importante para mim.

— Desculpe por assustar você, eu também fiquei assustado. Mas a doutora... que me ajudou — o pequeno parou, deixando de lado a intenção de contar o nome de sua heroína, afinal não sabia se era uma boa ideia — disse que iria ficar tudo bem. Porque eu não fiz de propósito, e você ia entender. Mas eu juro juradinho que não vou fazer de novo, papai, não quero ficar longe de você.

— Eu também não quero ficar longe de você, meu filho — Draco suspirou, abraçando o filho ainda mais — Está tudo bem, Scorp. Olhe para mim, por favor.

— Sim, papai.

— Eu não estou bravo com você, juro de dedinho — Malfoy sorriu, colocando o filho de volta no chão e se abaixando para ficar na altura dos olhos dele — Tivemos um dia cheio hoje, você está cansado?

— Um pouco — Scorpius deu de ombros, reprimindo um bocejo — Já está na hora de dormir, não é?

— Está sim, mas eu estava pensando em uma coisa antes disso.

— O que, papai?

— O que acha de sorvete?

— Com granulado e calda de chocolate? — o garotinho sorriu, os olhos brilhando.

— Com granulado e calda de chocolate — Draco confirmou, sorrindo ainda mais para o filho e piscando antes de levantar: — O primeiro a chegar na cozinha ganha granulado extra! 

story of another us - dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora