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Apesar de gostar de trabalhar no turno da noite, Hermione ficou bastante feliz em voltar para o dia assim que as férias de seu colega terminaram. Gostava de sua rotina, por mais caótica que pudesse ser, então voltar a acordar cedo havia sido um desafio nos primeiros dias, mas agora - quase duas semanas depois - já estava tirando de letra. Havia voltado ao ritmo normal de cirurgias e a única coisa que realmente sentia falta era tomar café da tarde com sua mãe, já suas escalas haviam voltado a ser contrárias uma à outra, então voltaram aos jantares rotineiros, onde aproveitavam o tempo em família e arriscavam novas receitas que o Sr. Granger havia aprendido em seu tempo na Austrália.

Apesar de seus pais deixarem claro que entendiam os motivos de Hermione tê-los mandado longe e ter apagado sua memória, a garota não conseguia não se sentir culpada por ter roubado dois anos da vida deles, mesmo tendo sido para protegê-los. Sabia o quanto eles haviam lutado para terem chegado na vida que tinham, tanto a profissional quanto pessoal, e os primeiros anos ajudando-os a retomar a vida foram os mais complicados. Agora, dez anos depois de tê-los afastado da vida em Londres, as coisas já voltaram ao rumo padrão e ela tentava ver tudo por este ângulo: não pelo tempo que perderam, mas sim o tempo que ela havia ganhado com eles, tendo-os protegido de uma guerra de um mundo que não era o deles.

Havia feito algumas sessões de terapia com uma psicóloga que uma amiga de sua mãe havia indicado logo que terminou Hogwarts e voltou para o mundo trouxa definitivamente, mas era complicado demais conversar sobre algo do qual ela não poderia ser completamente verdadeira - não tinha como explicar que magia existe, que ela era uma bruxa e o que Voldemort tinha causado a eles, então simplesmente desistiu. Granger sabia muito bem que fugir de tudo o que lhe assombrava era ainda pior do que reviver a sensação de estar em perigo todos os dias, mas fora a solução que ela havia encontrado naquele momento e fora a solução que mais surtira efeito para ela, então continuaria fugindo até não poder mais.

No entanto, não tinha o que reclamar de sua vida atual. McGonagall havia sido um anjo em sua vida ao ajudá-la a entrar na faculdade, e assim que terminou o último ano de Hogwarts, havia se mudado para Cambridge, onde cursou medicina em metade do tempo previsto, e engatou a especialização em cirurgia logo em seguida. Assim que a faculdade terminou, ela voltou para Londres junto com suas notas excelentes e não demorou mais que dois dias para receber um convite do diretor do St. Marys para conversar sobre o futuro dela, e era onde estava desde então. Longe dos antigos amigos e da antiga vida, mas com os dedos cruzados com a possibilidade de uma nova vida pela frente, livre dos fantasmas de seu passado.

Olhou-se no espelho mais uma vez, saindo dos devaneios nostálgicos, e alisou o vestido verde de alcinhas, prendendo a cinta num laço simples e arrumando a saia, alguns centímetros mais curta na frente do que era atrás, mas nada que chamasse muita atenção. Deixou o cabelo solto para sair de casa, sabendo que não adiantaria arrumá-lo antes do plantão e guardou a sandália de salto na bolsa, calçando sapatilhas confortáveis para ir até o hospital. Não gostava de ir trabalhar tão arrumada, afinal sabia que só daria assunto para a rádio St. Mary's - o apelido carinhoso que Amber dera aos fofoqueiros de plantão dos corredores do hospital - mas sabia que tinha um dia cheio pela frente, e não teria tempo de se arrumar antes de encontrar Harry para irem juntos para a' Toca. Saberia, ao ver o amigo, se ele realmente tinha criado coragem para pedir Ginny em casamento, então estava quase tão ansiosa quanto a amiga para que a noite finalmente chegasse.

O caminho até o hospital era sempre tranquilo apesar de Hermione morar a quarenta minutos do trabalho. Sempre dirigia ouvindo música e observando as paisagens, já que gostava de trocar de caminho todos os dias, e não sentia tanto a demora no trajeto. Quando finalmente chegou, suspirou aliviada ao trocar o vestido pelo pijama cirúrgico e o jaleco, e não demorou muito para receber os prontuários dos pacientes com os quais trabalharia naquele dia. Tinha duas cirurgias marcadas e uma reunião multidisciplinar para conversarem sobre o senhor Johnson, o paciente da ala oncológica que estava internado para o tratamento de um linfoma em estágio quatro, e suspirou ao ver seu nome na lista. Sabia que, para preservar a qualidade de vida que ele ainda tinha, cirurgia não era uma opção, assim como sabia que para preservar a vida que ele ainda tinha, era quase sua última chance. Ela odiava trabalhar em casos extremos assim, mas sabia que sua ajuda era necessária para que ele pudesse viver, ao menos, tempo suficiente para ver sua filha mais uma vez.

story of another us - dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora